[Pycho-Bidd] Mulheres mais velhas e cinema

Psycho-biddy (também conhecido com hag horror ou hagsploitation) é um subgênero do terror que, normalmente, apresenta filmes que contam histórias de mulheres na casa dos 50/60 anos, mentalmente abaladas por algum acontecimento que as aterroriza, por um alto nível de estresse (ou, apenas desestruturadas psicologicamente).

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O estilo surgiu em 1962, com o assombroso sucesso de “O que terá acontecido à Baby Jane” (um clássico protagonizado por Bette Davis e Joan Crawford), e foi, também, inspirado em “Crepúsculo dos Deuses” (famoso noir estrelado por Gloria Swanson).
O subgênero “Mulheres Psicóticas” (numa tradução à brasileira) apresenta tramas repletas de vingança, assassinato ou melodrama e o mais importante: “mulheres maduras em situações de perigo/violência/loucura”.
[ Particularmente, acho que esses personagens são sensacionais, especialmente quando abordados de uma forma caricata ou sarcástica, ainda que apresentem inúmeras possibilidades. Há muito humor em “Nazaré Tedesco”, por exemplo, mas há também muito drama em Bárbara Covett (personagem de Judi Dench em Notas sobre um Escândalo).]

Jessica Lange em AHS: podemos considerar como Hag Horror?

O subgênero andava esquecido, até que (re) surge Jessica Lange, com a sua cabeleira loira e estilo inconfundível, em American Horror Story. Murphy, o diretor da trama, fã do tema e extremamente atualizado com o que chamamos de “escola de cinema”, não poderia ter feito um trabalho mais incrível e bem elaborado (tsc, tsc…ainda que eu ache que tenha perdido a mão à partir da terceira temporada).
Como Constance, em Murder House, Jéssica dá a vida à uma mulher enigmática e vingativa, repleta de mistérios sobre os filhos e com uma relação estranha com a casa. A maior característica desse hag horror é a sua posição em relação à Moira, a empregada da casa (e “ex” amante do seu marido, digamos…).
Mas, o ápice acontece em Sister Jude, a freira e ex-prostituta que dirige um manicômio.

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Jude, assim como todas as personagens que se enquadram no gênero, luta contra a decadência física da idade, nutre uma paixão não correspondida (por um padre) e está em uma situação de extremo estresse: encara a possibilidade de perder o posto no manicômio, a aproximação de uma jornalista muito curiosa e acontecimentos “sobrenaturais” e inexplicáveis.

Vivemos, então, a reinvenção do subgênero?

Desde a sua invenção, o subgênero conta com diversos filmes (diferentes nuances e histórias). Há, inclusive, uma ótima lista no Filmow para quem se interessa pelo assunto e que entender um pouco mais sobre o tema.

O fato mais interessante é que na época da sua criação, existia uma espécie de deboche, as atrizes maduras (então consideradas veneno de bilheteria), eram vistas com certa piedade por parte da crítica, que não perdoava a idade.

Não cabe hipocrisia: as atrizes, na medida que vão ficando mais velhas, continuam perdendo espaço em Hollywood. Mas, hoje há toda uma interpretação diferenciada sobre a idade, sobre sexualidade e beleza. Entende-se, cada vez mais, que é possível envelhecer de uma forma diferenciada, manter a vivacidade e explorar a pluralidade feminina, em diversos personagens.

A biografia da Bette Davis

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Tô em falta com esse blog e me sinto péssima por isso, todo dia me surge uma ideia nova para uma publicação, mas a rotina está tão corrida que não consigo sentar para escrever. Estou me esforçando para ler os meus livros, seja no ônibus quando vou trabalhar, na academia ou minutos antes de dormir.  Há algumas semanas comecei a ler a biografia da Bette Davis, escrita por Charles Higham.  Estranhei muito no começo porque a narrativa é bem opinativa, o autor não esconde suas percepções sobre a vida da atriz. Ele começa o livro dizendo que foi visita-la em sua casa para fazer uma entrevista e que se surpreendeu com sua feminilidade. Higham dizia que Bette tinha uma sensualidade única e que fumava cigarros como ninguém. Para ele, seu jeito forte era um reflexo da vida de uma mulher que foi extremamente subjugada num universo dominado por homens.

A narrativa sobre o primeiro encontro dos dois me passou a impressão de uma Bette intimidadora, que falava alto, adorava palavrões, inteligente e rápida nas respostas A verdade é que demorei para gostar do livro e ainda estou na metade, mas muitas curiosidades sobre a carreira e vida da Bette (ainda que apimentadas pelo olhar do autor), me fizeram admirá-la ainda mais.  Eu não sabia nada da relação da Bette com a mãe, Ruth, e com a irmã, Bobby. O autor conta que a três sofreram influencias fortes da avó, que tinha uma educação quase “militar”. A irmã da Bette tinha problemas mentais e passava por muitas internações. Já a mãe da Bette, se esforçou ao máximo para torna-la famosa (chegou a fazer inúmeras dívidas por causa da filha), tinha uma postura super protetora e intrometida (que incomodava profundamente os produtores, diretores e jornalistas). Ruth, na juventude, tinha o sonho de ser atriz, mas foi impedida pelo marido… por isso, teria transferido todos os sonhos para a filha.

Bette foi muito influenciada por essas três mulheres, que de alguma forma, moldaram sua personalidade. Já no início da carreira, ela sustentava a mãe e a irmã, e por vezes, se enrolava financeiramente com o estúdio para bancar a vida boa (viagens e mansões) da família. O autor do livro tem uma língua bem feroz, e fala bastante sobre o primeiro casamento da atriz com Harmon Nelson, um homem fraco e rabugento (que não apoiou a Bette em sua primeira gravidez, o que a levou a abortar). Segundo o livro, ele ainda teria pegado Bette “no flagra” com outro homem e a chantageou para não contar tudo para a mídia. Em relação a carreira da Bette, é quase impossível não admirá-la por sua força, talento e coragem. Bette tinha tanto amor pelo teatro que mergulhava em seus trabalhos e chegava a ficar doente, suas interpretações eram enérgicas e ela não tinha medo de encarar personagens que fugiam ao estereótipo. Quando foi para Hollywood, foi boicotada por grandes produtores que a achavam uma ótima atriz, porém não “bela o suficiente”. Ela também encarou uma batalha judicial com Jack Warner, que a obrigou a fazer filmes sem interrupções e, muitas vezes, com histórias de baixa qualidade.

Bom, por enquanto é isso… ainda estou na metade do livro e depois volto para contar sobre o final da leitura.  😉

Mamãezinha, querida?

Sempre que assisto aos filmes estrelados por Joan Crawford me pergunto se ela fez aquelas coisas terríveis com a filha. Pouco depois da morte da atriz, Christina lançou um livro que narrava o terror que passou (durante anos) ao lado da mãe, a quem descrevia como uma pessoa obsessiva e violenta. Li o livro por duas vezes e aquelas palavras me pareciam muito verdadeiras, até que recentemente vi uma entrevista da Christina, já na casa dos sessenta anos, debochando (e muito) da Joan. Achei a atitude horrível! Fui pesquisar pelos outros filhos da Joan e encontrei diversos vídeos onde eles contradiziam tudo o que a Christina falava.
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A verdade é que nunca vamos ter certeza do que aconteceu e que é difícil não ficar curioso sobre as histórias contadas. Mamãezinha Querida é um livro autobiográfico lançado por Christina Crawford em 78, onde ela conta como sua mãe, uma das maiores atrizes Hollywoodianas, infernizou a sua vida. Desde espancamentos com cabides de ferro à ataques de fúria no jardim. Joan Crawford foi retratada como uma mulher histérica e com sérias variações de humor.  

Na entrevista que vi, Christina dizia ter odiado o filme e que não concordava com os exageros retratados na história. Dizia que como já tinha vendido os direitos sobre a obra, não tinha como intervir na montagem dos personagens. Mas falava como alguém em posição de conforto, que ganhou uma grana com todo aquele show de horrores e que ainda, conseguiu a fama (que sempre desejou). Só para constar, Chistina dedicou-se a vida de atriz , mas teve que se contentar com papéis medíocres.

É muito louco pensar que a Joan Crawford, antes de morrer, chegou a dizer que Faye Dunaway era a única atriz que poderia interpretá-la com maestria. E mais estranho ainda é pensar que Dunaway aceitou o papel que colocaria em xeque a imagem de Joan e que este trabalho tenha lhe rendido amargos resultados (os críticos caíram matando e ela chegou a ganhar o Framboesa de Ouro).

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O filme ficou conhecido por seus exageros e pela interpretação caricata que da Faye. Pior ainda foi a caracterização, uma maquiagem calcada nas duas grandes marcas da atriz: a boca (que era aumentada pelo batom) e as grossas sobrancelhas. Mesmo com as inúmeras referências, como as ombreiras que Joan tanto amava, a personagem de Faye não conseguiu transmitir glamour, mas uma imagem patética que beirava ao ridículo. Independente de ser ou não retratada como maquiavélica, Joan merecia mais.

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Li o livro quando tinha quinze anos, lembro que ficava andando com ele pela escola e lendo durante o recreio. A narrativa é toda em primeira pessoa e retrata desde a infância de Christina até a sua juventude. E é muito interessante o fato de ela sempre evidenciar que mesmo com todas aquelas patifarias que sofria, amava a mãe e a perdoava por seus atos de covardia. Christina critica muito a hipocrisia da mãe, que fazia tudo em função do marketing pessoal. Seus aniversários eram luxuosos e contava sempre com a presença de famosos. No fim da festa, Christina era obrigada a doar todos os seus presentes para as crianças carentes e só podia escolher um. Sua revolta era ter de se mostrar feliz diante das câmeras, mesmo destroçada de raiva.  (Prometo reler e escrever um post só sobre o livro!)

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Da Joan, nunca saberemos a versão. Mas existem algumas coisas interessantes sobre sua história que nos ajudam a entender um pouco de sua personalidade. Joan foi filha de mãe solteira e teve uma infância pobre (muito, muito pobre), sua mãe era viciada por limpeza e a ensinou sem “muito carinho” a melhor maneira para se arrumar a casa. Em uma entrevista que li dela, bem antiga, a atriz dizia que gostava de limpar a própria casa e o fazia como a mãe tinha ensinado: começando sempre pela cozinha.

Como mulher solteira, a atriz enfrentou sérios problemas para adotar os filhos na Califórnia. Precisou passar por vários processos e comprovar que era capacitada para ser mãe, até que resolveu viajar para outros lugares (Nevada e NY), com leis menos rígidas com o intuito de “agilizar as coisas”. Christina foi adotava em 1940, Christopher em 1942 e Catherine e Cynthia em 1947.

Joan morreu de câncer em maio de 1977, em seu apartamento em Manhattan. Sabia que Christina estava escrevendo sobre ela e tinha o pressentimento de que não eram boas palavras. Em conversa com seu amigo publicitário, John Springer, chegou a dizer: “Acho que Christina está usando o meu nome para ganhar dinheiro, será que ela acha que vou deixá-la financeiramente desamparada ou que vou desaparecer logo?”  No fim das contas, pouco antes de morrer, Joan Crawford mudou todo o seu testamento, deixando o resto de seu dinheiro para Catherine e Cynthia, para sua secretária Betty Baker e para associações de caridade que mais gostava.

Oura ironia é a de que Bette Davis, grande inimiga de Joan, ficou do seu lado quando o livro foi publicado. Bette dizia não acreditar em nenhuma daquelas palavras, que Joan não teria feito nada disso e que o livro deveria ser jogado no lixo. Mais irônico ainda é que a própria Bette Davis passou por essa situação, quando sua filha Bárbara escreveu horrores sobre ela no livro “My Mother’s Kepper”.

Amigos pessoais da Joan diziam que foi bom este livro ter sido publicado depois de sua morte, pois se ela estivesse viva isso teria despedaçado seu coração.

Bette Davis, Joan Crawford, Susan Sarandon e Jessica Lange!

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53-18276-bettedavis_joancrawford-1405554457A notícia da realização da série Feud mexeu com a minha cabeça. Me deixou doida, doidinha, louca! Susan Sarandon e Jessica Lange representando as disputas entre  Bette Davis e Joan Crawford durante a gravação de “O que terá acontecido a Baby Jane?”. São quatro das atrizes que mais adoro, das quais já assisti inúmeros filmes e acompanho há anos. Quer dizer, meus miolos entraram em erupção. Na verdade eu até já sabia da possibilidade deste projeto, tive conhecimento dele (através das redes sociais em 2014!), mas achei que não iria para frente… Esperei todo o burburinho passar para ver se os veículos de comunicação e os próprios atores/diretores confirmassem. Isso aconteceu e eu morri. Já escrevi inúmeras publicações sobre Baby Jane, sobre Bette, Crawford, Susan e Jessica… acho que seria chover no molhado. Só passei mesmo para dizer que estou super entusiasmada pela série, que deve ser lançada no ano que vem e dirigida por Ryan Murphy (o mesmo diretor de American Horror Story!!).

A filha de Satanás, 1949

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Não sei porque demorei tanto para assistir esse filme, sempre me chamou muita atenção a história e, especialmente, o aspecto da Bette. Até então, nunca tinha a visto com cabelos tão grandes e escuros e com tamanha sensualidade. “A filha de Satanás” foi lançado em outubro de 1949 e conta a história de Rosa Moline, uma mulher maquiavélica e alucinada pela ideia de sair do interior para se mudar para Chicago. Em busca do sonho, Rosa comete atrocidades e mesmo casada, não pensa duas vezes em seduzir um rico empresário com o intuito de fazê-lo tirá-la dali.

É desse filme a famosa fala “What a dump”, posteriormente reproduzida por Elizabeth Taylor em “Quem tem medo de Virginia Woolf”e considerada pelo American Fims Institute um das 100 melhores frases do cinema.  Aliás, esse filme marca o fim da relação de 18 anos entre Bette Davis e a Warner,. Bette estava descontente por ser obrigada a interpretar o papel e chegou a tentar abandonar as gravações, inclusive foi duramente crítica ao diretor King Victor (tentando fazê-lo ser demitido).

BetteDavisBeyondEsta é considerada a pior interpretação de Bette, o que me surpreendeu. O filme tem toda uma carga dramática e aborda assuntos obscuros para a época. Li algumas análises muito interessantes e uma delas evidenciava o fato da Bette interpretar um personagem mais jovem, de não estar bonita ou sensual e de nos convencer exatamente do contrário. Como um ciclo que esbarra no início de sua carreira, onde ela dava vida a personagens muito mais velhos e com pouco sensuais.

Rosa é um personagem de moral duvidosa e realmente “do mal”. Muito marcante são as cenas em que, ao se descobrir grávida, tenta praticar um aborto. Ao mesmo tempo, é quase como uma “anti heroína”, que mesmo com atitudes grotescas, nos faz ter empatia por sua necessidade quase sufocante de sair daquele lugar. Como um passarinho, tentando se livrar da gaiola.

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Se alguém acredita que durante a maior parte do filme a sua atuação não convence, é preciso constatar que é difícil ficar indiferente às cenas finais, onde ela alucinada pela febre, sai descabelada pelas ruas e com a maquiagem manchada, tentando desesperadamente alcançar o trem. Quase um prelúdio da Bette que conheceríamos em Baby Jane, 1962. Uma atriz incrível, sem medo de despojar-se de sua beleza para dar vida aos personagens.

O que terá acontecido a Baby Jane? – 1991

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Nota rápida:  Nessa semana eu assisti a segunda versão de “O que terá acontecido a Baby Jane”, filme de 1991, dirigido por David Greene. Era um filme que me despertava muita curiosidade e ao mesmo tempo repulsa, porque eu simplesmente odiava a maquiagem que fizeram na Lynn Redgrave. Essa versão mantém a trama da primeira e pouquíssimas alterações foram feitas. A história se passa em uma mansão em Hollywood onde vivem Jane Hudson e sua irmã Blanche, interpretada por Vanessa Redgrave. As duas foram estrelas de cinema, mas tiveram a vida despedaçada após um trágico acidente que deixou Blanche em cadeiras de rodas. Para saber mais sobre a versão de 1962, acesse.

Aqui não se repete o que as legendárias Joan Crawford e Bette Davis fizeram anos antes. Não existe aquele clima de tensão nos bastidores, nem a explosão de raiva de duas atrizes que se odeiam há anos. As irmãs Redgrave possuem uma sintonia bem diferente e isso é perceptível já nos primeiros minutos. São igualmente intensas, mas existe algo de “fraternidade” que o outro não tem, diversas vezes vemos as personagens dividindo lembranças da infância e trocando olhares carinhosos.

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Li comentários que diziam que esse filme é mais realista e chocante que o outro… pode ser. O fato é que quando lançando, foi duramente criticado. Nesse eu percebi uma Blanche mais impiedosa e caprichosa e a uma Jane menos malvada e mais afetada. Também não sei se pela cor, mas me pareceu mais violento. Acontece que a Lynn, apesar daquela horrível maquiagem, se sobressai muitíssimo, ela está incrível, muito emocional e assombradora (aquela boneca, putz!). O filme me fez encarar a Jane muito mais como vítima, principalmente por causa da cena final, onde todos os policiais prestam socorro à Blanche e deixam Jane sozinha, caminhando em direção ao mar…

Duas estranhas – História de mãe e filha

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Há tantos anos admiro a Bette Davis, e esse é o primeiro filme que assisto em que ela está mais velha... Adoro a Gena Rowlands também, então foi um deleite. Apertei o play e corri para o abraço. “Duas estranhas” é um filme bonito, sem muitas surpresas, mas antológico pelas atuações. No filme Gena interpreta Abigail, uma mulher que passou anos longe de casa e que voltou a morar com sua mãe, Lucy. As duas possuem um relacionamento bem distante, Lucy simplesmente não abre mão das suas manias e sente-se insegura em relação a volta da filha, uma menina “mimada” que a magoou muito na juventude. Aos poucos Abigail vai reconquistando a mãe, mostra que voltou diferente e voltou para ficar… vai descobrindo as histórias de Lucy e relembrando velhos acontecimentos. No fim elas percebem que são mais parecidas do que imaginam e que se amam muito.

O filme foi feito para a TV, Bette com 71 aninhos recebeu pela produção o prêmio do Emmy de Melhor Atriz em Minissérie ou Filme. A narrativa tem um aspecto bem teatral, as duas são o centro da produção e a casa em que Abigail cresceu é o pano de fundo principal para os acontecimentos…

Sabe, Gena é aquela mulher impactante, tem uma beleza diferente. Bette é única, o filme inicia e ela custa para a abrir a boca e mesmo assim, é difícil desgrudar os olhos dela. Numa entrevista, Gena disse coisas interessantes sobre Bette que acho que valem a pena serem reproduzidas: “Eu amava a Bette, ela era engraçada e tinha um senso de humor meio cruel. Quando cresci, todas as mulheres (no cinema) eram obedientes, educadas e tinham boas maneiras. Bette não, ela era independente e não tinha medo de ofender.  Um dia ela me perguntou, “você viu o meu batom¿ Ele é rosa…”. Respondi, “Não parece rosa para mim (ela o usava todos os dias)”. Eu disse, “Na verdade, não prestei muita atenção”. Ela disse: “Bom, então comece a prestar atenção, porque você JÁ NÃO ESTÁ NA FLOR DA IDADE!”

Letter From Anna Magnani to Bette Davis

 

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Dear, dear Bette

before leaving I want to write to you, and not wait to be back in Rome – I’ve wanted to write to you on the last evening of my stay in New York in order to spend more time with you – I’ll never forget you – I’ll never forget our meeting, I’ll never forget your face – I’ll take it with me to Italy – I don’t know why but I came out of your house excited and overwhelmed – the excitement of being in front of you, you alive in front of me alive, having admired you so many many times, captured by the screen, amazed by your performances – amazed because I suddenly found myself in your room, in front of a child – I swear the first impression I had was grand – a woman full of life, with so much inside of her, so much warmth, so must youthful interest for everything – you still have so much to say with your art – so very much. I was in front of you, speechless. Remember? I just looked at you and listened, I became a lamb, I was hypnotized. Dear dear great Bette, you’re so human, so tremendously human, and I feel so near to you, and so similar, as a woman. As an artist you know what you mean to me. Always fight for your art – always fight for your artistic freedom against everything and everyone. That’s the only way to be yourself and, in your case, that’s the only way to be a great actress. I hug you, I hug you with infinite emotion and devotion. I’ll never forget you.

Anna

Gata Velha ainda Mia

Glória Polk (Regina Duarte) é uma escritora decadente, que depois de 17 anos decide voltar a escrever. Assim convida uma jovem jornalista, a Carol (Bárbara Paz) à sua casa, no intuito de ceder uma entrevista sobre sua obra. Nesse jogo de interesses, que beneficia tanto à escritora quanto a jornalista, o encontro vai tomando proporções perigosas (e bizarras) já que Glória, extremamente temperamental, decide se vingar de Carol por causa de um ‘segredo’ que as une há anos.

O filme, que é uma joia, é o primeiro trabalho no cinema do jovem diretor Rafael Primot e está repleto de diálogos marcantes, de uma profunda reflexão sobre loucura e sanidade, de cenas lindíssimas e referências ao melhor do cinema clássico. (Também, acho que vale comentar o fato de que feito com um orçamento curtíssimo, de apenas R$ 150mil…).

Regina Duarte Ver Regina Duarte interpretando com brilhantismo uma personagem inspirada em Norma Desmond e Baby Jane me fez pensar no quanto a mídia e o público podem ser cruéis com figuras públicas, expostas a dura e implacável crítica em relação a velhice. Envelhecer não é para mocinhas, Bette Davis já dizia isso… pressentindo um futuro não muito agradável em que foi considerada veneno de bilheteria.

Ver Regina Duarte dando vida a uma feminista lésbica, que cita Susan Sontag, Simone de Beauvoir, Mark Twain… que prega o amor livre e com sarcasmo e agressividade ironiza a juventude (a qual apelida de ‘bundinha rosada’), faz com que eu me sinta parte desse público cruel e ingrato, que não reconhece uma carreira incrível e que também não valoriza seus artistas. Eu ri daquele vídeo em que Regina aparece sambando. Eu ri das fotos do aeroporto. Agora, depois de “Gata Velha ainda mia”  me arrependo amargamente.

Regina não deixa a peteca cair, encara o melhor e o pior de si, sem medo de se expor. Sem medo de aparecer sem maquiagem na tela grande, sem medo de não ‘estar bonita’. É o espírito pulsante do verdadeiro artista, aquele que doa não só a sua imagem, mas o seu corpo (e até a sua alma) quando está interpretando. Menções também honrosas à Barbara Paz, que mesmo ofuscada por Regina, responde à altura e se entrega, também se expõe.

ScreenShot006Enfim…

Felizes são aqueles que conseguem envelhecer bem… Não me refiro apenas ao aspecto físico, refiro-me à dignidade (que hoje, acredito ser um dos bens mais preciosos do ser humano). Tenho pensado muito sobre a velhice, principalmente depois que assisti esse filme… reli uma passagem do livro da Rosa Montero que resume muito bem o que eu penso: “Há pessoas que com o transcorrer da vida simplesmente envelhecem, outras, mais sábias ou afortunadas, vão amadurecendo. Outras, ao contrário apodrecem e outras ainda, enfim, se desbaratam, e todos esses processos têm frequentemente um claro reflexo no aspecto físico”….

Gata Velha ainda Mia é um grande filme, daqueles que nos faz acreditar e gostar do cinema nacional. Vale a pena ser visto e revisto.

Malkovich, Malkovich, Malkovich!

O fotógrafo Sandro Miller se uniu a John Malkivich para recriar imagens famosas e lendárias. O resultado é sensacional e no mínimo, curioso. O projeto, que recebeu o nome de: “Malkovich, Malkovich, Malkovich: Homage to photographic masters.” mostra não só um cuidado de composição, mas também de estética, afinal, foram feitas sem Photoshop. Confira!

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Dorothea Lange / Migrant Mother, Nipomo, California (1936), 2014

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Philippe Halsman / Salvador Dalí (1954), 2014

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Albert Watson / Alfred Hitchcock with Goose (1973), 2014

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Victor Skrebneski / Bette Davis (1971), Los Angeles Studio, 2014

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Andy Warhol / Self Portrait (Fright Wig) (1986), 2014

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Diane Arbus / Identical Twins, Roselle, New Jersey (1967), 2014

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Gordon Parks / American Gothic, Washington, D.C. (1942), 2014

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Sandro Miller, Yousuf Karsh / Ernest Hemingway (1957), 2014

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Bert Stern / Marilyn in Pink Roses (from The Last Session, 1962), 2014

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David Bailey / Mick Jagger “Fur Hood” (1964), 2014

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Herb Ritts / Jack Nicholson, London (1988) (A), 2014

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Edward Sheriff Curtis / Three Horses (1905), 2014

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Annie Leibovitz / John Lennon and Yoko Ono (1980), 2014

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Alberto Korda / Che Guevara (1960), 2014

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Arthur Sasse / Albert Einstein Sticking Out His Tongue (1951),

2014

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Irving Penn / Pablo Picasso, Cannes, France (1957), 2014