Gary Cooper que estás en los cielos

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Desde as primeiras cenas, este filme tem um toque extremamente feminino (e feminista). Além de falar sobre tabus que atingem especialmente as mulheres, como o aborto e as diferenças de oportunidades no mercado de trabalho, tem como protagonista uma mulher forte, séria e inteligente. Pouco li sobre a história da diretora Pilar Miró, mas fica muito claro que o filme também tem um tom metalinguístico e autobiográfico.

Mercedes Sampietro está linda, mais linda do que nunca (especialmente porque transmite muita calma e parece dominar o personagem). Na trama ela é Andreia, uma diretora televisa que sonha em produzir um filme, mas que enfrenta muitas dificuldades para tal. Apesar de ser uma mulher com sucesso profissional, sua vida pessoal é cheia de fracassos: possui uma mãe extremamente vaidosa e que a sufoca e está grávida de um homem que exige que ela faça um aborto.

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Gosto especialmente das cenas iniciais, quando Andreia caminha pelos corredores da emissora e é cercada por auxiliares que precisam de sua opinião ou autorização para fazer algo. Mesmo assumindo um cargo de chefe, Andreia é visivelmente engolida por um ambiente dominado pelos homens. Também há uma cena sensacional, onde ela olha diretamente para a câmera, como se conversasse com o espectador, e conta as dificuldades de se realizar um filme (só para observar, “Gary Cooper que está en los cielos” foi lançado em 1981, um ano depois, Pilar Miró se tornou Diretora Geral de Cinematografia na Espanha).

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O filme possui muitos momentos reflexivos, quando a personagem (que descobre que está doente e prestes a morrer) começa a pensar em sua vida e nas coisas que construiu. Ela passa horas observando fotos antigas (algumas delas do ator americano Gary Cooper). Imagino que aquelas fotos antigas e em preto e branco representem o seu carinho pelo passado e medo pelo futuro.

Carmen Maura: uma aparição pequena, mas importante

Carmen aparece muito pouco, apenas em duas cenas. Na primeira delas, fica claro que ela não gosta de Andreia, na segunda (já no final do filme), há um confronto entre elas, dentro do banheiro. Andreia relembra que as duas estudaram juntas e questiona se a colega tinha algum desejo sexual (reprimido) por ela. No livro, “Discurso Femenino Actual”, Kathleen M. Vernon começa o seu texto analisando exatamente essa cena e diz:

[…] A protagonista Andrea enfrenta uma única colega feminina nos estúdios televisivos, a realizadora Begoña (Carmen Maura). Em seus comentários sobre as cenas, vários críticos afirmaram que o acontecimento tinha base na vida real de Pilar e até identificaram Begoña como Josefina Molina. O fato é que o conteúdo dessa tempestuosa discussão está repleta de referências e experiências paralelas, primeiro como estudantes e segundo como empregadas de uma rede de televisão governamental, o que corresponde à biografia das duas mulheres. Molina foi a primeira diretora mulher que se graduou pela Escuela Oficial de Cine, a mesma em que Miró se formou como roteirista.

A autora ainda explica que mesmo não sendo a intenção da diretora e mesmo com a disputa entre as duas personagens, existia ali um clima de “sororidade” entre as duas mulheres, reprimidas por um ambiente completamente dominado por homens.

Sombras en una batalla

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Mais um filme da Carmen Maura que entrou para a lista dos assistidos, este eu tinha muita curiosidade de ver e achava que se tratava de um suspense com pinceladas de ação. Nada disso, é um drama bem arrastado, Carmen interpreta uma mulher seríssima e o filme tem um forte tom político, social e contestador. Eu gostei muito, é uma Carmen séria… diferente da qual estou acostumada assistir, bom para relembrar que ela é uma atriz de muitas facetas e que pode surpreender em outros campos, gêneros, fugir do clichê.

Dirigido por Mario Camus e lançado em setembro de 1993, “Sombras en una batalla” conta a história de Ana, uma veterinária que vive em uma pequenina cidade em Zamora, fronteira com Portugal. Lá ela cria sua pequena filha (Blanca, de 12 anos) e convive pacificamente com Dário, seu ex-companheiro. Um dia, em uma viagem de ônibus conhece José, um homem encantador por quem se apaixona e abre as portas de sua casa.

Ao longo da trama vamos descobrindo os possíveis motivos que fizeram de Ana esta mulher tão dura. Ela foi ex-militante do ETA (e eu tive que recorrer eu Google para entender do que se trata), é uma ação nacionalista e armada, considerada como um grupo terrorista. Por ironia do destino, José pertencia ao GAL, e participou de um atentado contra os refugiados vascos que iam em direção ao território francês, Ana era uma delas. Ana passa a ser perseguida por alguns ex-companheiros que a questionam o fato de receber José em sua casa, e ao mesmo tempo em que está apaixonada por ele, não se permite perdoá-lo pelos erros do passado.

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Em entrevista ao El País, Mário Camus chamou atenção para alguns detalhes dos quais reproduzo: “Sem salto alto, sem maquiagem e sem mini-saia, Carmen Maura enfrentou as sombras em uma batalha no último filme de Mário Camus […] Carmen demonstra facilidade para fazer qualquer coisa ser crível, é muito trabalhadora. Ela está acostumada com diálogos curtos e quase improvisados, os diálogos desse filme são muito longos. Ditos por outra pessoa poderiam parecer chatíssimos, mas o poder dessa mulher está na credibilidade que transmite”.

“O personagem de Carmen é muito duro, mas não poderia ser de outra maneira. A alegria está em sua filha, necessitamos da dureza da mãe para entender a evolução da menina. Eu queria que em algum momento a filha fosse a mãe da mãe, hoje as crianças crescem muito depressa”.

Pepi, Luci, Bom – 1980

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Este filme ficou enterrado no meu computador por muitos anos, comecei a assistí-lo, mas a estética me provocou tamanha estranheza que deixei de lado. O “Ciclo Carmen Maura” me deu coragem para vê-lo e, com um pouco mais de persistência, completei o desafio. A verdade é que eu amei, amei, amei (o filme) e pirei ao ter conhecimento de vários aspectos da produção.

“Pepi, Lucy e Bom” marca a estreia de Almodóvar na direção, o filme foi lançado em 1980, custou meio milhão de pesetas e contou com a participação financeira e colaborativa de seus amigos, incluindo Carmen. Foi inspirado em uma fotonovela cujo título era “Erecciones Generales”, feita pelo próprio Almodóvar para uma revista underground. Nessa época, Carmen era muito próxima do diretor, os dois participavam de uma companhia teatral chamada Los Goliardos e até então, ele só tinha realizado pequenas gravações em formato 8 mm.

Fica muito claro que Almodóvar ainda não tinha uma marca própria, mesmo com um toque muito forte de contestação, da porra-louquice e das cores gritantes (o que vimos se repetir tantas vezes).

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[Esse texto está cheio de spoiler, então… me desculpem] A trama conta a história de três amigas cujo comportamento é pouco comum. Pepi é uma jovem sustentada pelo pai e que é estuprada por um policial em seu próprio apartamento (ele iria prendê-la por encontrar várias plantas de maconha, mas ela oferece sexo em troca de liberdade. No entanto, revela que é virgem e pede que ele “vá por trás”, porque já está acostumada). Revoltada por ter sofrido tamanha violência, Pepi recorre à Bom e seus amigos punks para se vingar. Um dia encontram o policial na rua e o espancam (sem saber, que na verdade, o fizeram com seu irmão gêmeo). Pouco tempo depois conhecem e fazem amizade com Luci, a esposa do policial que tem certo comportamento masoquista (e que, posteriormente, se apaixona por Bom).

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Mesmo sendo um pouco agressivo, o filme possui uma história extremamente feminina, quero dizer, há uma “alma feminina – feminista” que se percebe em vários detalhes e principalmente em Pepi, a personagem central.  Depois que ela recebe o recado de que o pai não vai mais sustentá-la, Pepi começa a trabalhar em uma agência publicidade e criar peças voltadas para  público feminino entre elas, uma calcinha que muda de cor durante a menstruação e se transforma em brinquedo sexual. Aos poucos Pepi vai deixando de ser uma menina dependente, e se torna uma mulher, livre.

Esse filme representa um pouco da busca pela liberdade (sexual) e o clima de descompromisso que Pedro e Carmen tanto comentam em suas entrevistas, também há o chocante (tratado como algo banal): como a cena em que Bom faz xixi no rosto de Luci ou a cena das Erecciones Generales, onde um grupo de amigos está reunido e elegem o maior pênis… o vencedor escolhe qualquer um da turma e define o que o escolhido precisa fazer para agradá-lo.

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Em suma, um detalhe que passa despercebido, mas que é muito interessante é o fato de Bom ser uma jovem punk de 16 anos e Luci ser uma senhora, dona de casa, na faixa dos 40 anos. E isso é mencionado várias vezes durante o filme. Ainda que Luci não possua a aparência de uma senhora, há toda uma caracterização (como a peruca, as roupas e o próprio comportamento).

“Vemos neste filme vários atores que posteriormente voltaram a trabalhar com Almodóvar em papéis marcantes como Cecília Roth e Julieta Serrano .

Aquella casa en las afueras

Um filme de terror dos anos 80, sobre uma casa de abortos

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Eu jamais assistiria este filme se a Carmen Maura não estivesse no elenco, ironicamente ela aparece muito pouco, em três cenas muito rápidas. “Aquella casa en las afueras” conta a história de Nieves, uma jovem recém casada que acaba de mudar de residência, ela está grávida. O marido, mais velho, vive trabalhando e ela conta com a ajuda e companhia da vizinha, Isabel, uma senhora bondosa e extremamente misteriosa. Pouco tempo após se mudar, Nieves começa a ser assombrada pelas lembranças dolorosas de sua juventude, isso porque a casa em que ela passou a viver foi um clínica clandestina, a mesma em que ela fez um aborto anos atrás.

Li muitas resenhas sobre o filme e em algumas delas, os críticos encaram a abordagem do tema como “sensacionalista”. Eu gostei demais e acho que essa produção tem peculiaridades muito interessantes. O filme foi dirigido por Eugênio Martín, o mesmo diretor de  Duelo dos homens maus (1971) e  O expresso do terror (1972).

Martín possui uma carreira muito versátil e logo nos primeiros filmes gostava de abordar tabus (o que lhe obrigava a driblar a censura franquista). Em entrevista a Nicholas Schlegel (para o livro Sexo, Sadismo, Espanha e Cinema), Martín chega a afirmar que os censores não eram tão espertos e nem sempre conseguiam encontrar elementos subversivos no script: “Eram pessoas de classe média baixa, alguns padres (o que era horrível porque eram muito fanáticos) e civis, que não tinham muito estudo ou um background muito crítico.”

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No filme, não somos levados a culpar Nieves pelo aborto feito anteriormente. Pelo contrário, a todo momento ela indica as justificativas que a levaram a tirar o bebê: era muito jovem, não tinha condições financeiras, não tinha o apoio do pai e não se sentia preparada. Ao mesmo tempo, as assombrações do passado são como uma forma de responsabilizá-la pela escolha. A figura da vizinha, posteriormente identificada como uma das ex-enfermeiras da clínica, configura-se como um agente discursivo, que acredita que Nieves deve pagar pelo que fez.

Não sei se na década de 80 era aceitável considerar esse filme como de terror, ao assistí-lo me pareceu mais um suspense voltado para a tesão psicológica da personagem principal. Sem dúvidas a casa é um elemento importantíssimo na trama, que agrava a sensação de sufoco de Nieves. Ela sempre se pergunta porque o marido escolheu uma casa tão grande para os dois e sempre tem pesadelos nos corredores escuros, vê o vulto das enfermeiras que realizaram o procedimento ou escuta o barulho dos instrumentos.

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Apesar do spoiler enorme que soltei acima, não nos é confidenciado a verdadeira identidade de Izabel. Pelo menos, não até a metade da trama.  Então somos levados a desconfiar também do marido de Nieves porque na narrativa, existe um médico e uma enfermeira que realizavam os abortos. Em muitas cenas o marido de Nieves e Izabel conversam às escondidas, e não é difícil suspeitar dele também.

Dois pontos interessantes:o primeiro é que apesar de desejar o bem estar do filho, Nieves continua sendo uma mãe meio irresponsável, então a vemos fumar… por exemplo, e ela sabe que aquilo pode fazer mal para o bebê. Sua repulsa e desconfiança pelo marido começa a refletir na gravidez.  O segundo fato  é que além de Izabel, Nieves conta com o apoio de uma amiga, dona de uma escolinha… me chamou atenção o fato do nome da escola ser “Peter Pan”, o menino que nunca cresce. Será uma alusão ao aborto?


 Quem foi Alida Valli?

Até o momento, eu nunca tinha escutado este nome. Assisti o filme e fiquei encanta com esses impactantes olhos claros e com a sua força de expressão. Uma rápida pesquisa me levou à sua incrível história a qual compartilho com vocês.

*O texto abaixo não é meu, foi retirado de dois blogs: O falcão Maltês e do Mais ou menos Nostalgia – que por sinal, sou leitora assídua e recomendo muitíssimo que conheçam!

O Falcão Maltês: “Ela atuou em mais de 100 filmes e cerca de 30 peças teatrais, estreando no cinema em 1934 como figurante e filmando até 2002, aos 81 anos. Durante a Segunda Guerra Mundial, suas atuações em fitas como “Pequeno Grande Mundo” (1941), pelo qual ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza, fizeram o público e a crítica perceberem que estavam diante de uma verdadeira estrela. Suas comédias sentimentais desta época arrebataram o coração dos jovens italianos, tranformando a atriz na “namoradinha da Itália”.Neste período, casou-se com o pintor surrealista e pianista Oscar De Mejo, com quem teve dois filhos (um deles, Carlo De Mejo, seria ator). Em plena ascenção, recusou-se a fazer filmes de propaganda do regime fascista de Benito Mussolini – que a considerava “a mulher mais bonita do mundo” -, passando a ser perseguida e tendo que se esconder para evitar possível prisão e execução.”

  • No auge do sucesso, em 1954, sua popularidade foi abalada com um escândalo recheado de sexo, drogas, ritual religioso e morte: ela estava em Torvajanica, uma praia particular próxima a Napóles, participando de uma orgia coordenada pelos Illuminati, ao lado de autoridades da igreja católica e da política, quando a desconhecida Wilma Montesi, de 21 anos, utilizada como sacerdotisa de uma missa adonaicida e escrava sexual, morreu de esgotamento físico, e também, de uma overdose de drogas. O infortúnio provocou a renúncia do ministro das Relações Exteriores da Itália, Attilio Piccioni, pois um filho seu fazia parte da maratona sexual;

Mais ou Menos Nostalgia: “Terminada a II Guerra Mundial, Alida e seu então marido, o compositor Oscar Mejo, com o qual teve dois filhos, foram para Hollywood a convite de David O. Selznick. Estrelou Miracle of the Bells, mas seu primeiro grande sucesso foi em 1947 no papel de uma mulher acusada de assassinato, no filme The Paradise Case, direção de Alfred Hitchcok.  Em 1949 destacou-se pela sua notável interpretação da personagem Anna Schmidt no filme The Third Man. Em 1954, teve seu nome envolvido em escândalos entre celebridades italianas. O fato viria, mais tarde, servir de inspiração para o filme La Dolce Vitta, de Fellini, mas neste mesmo ano fez um retumbante sucesso por sua atuação no filme Senso, de Luchino Visconti, ambientado em meados de 1800. Alida interpretava uma condessa que mantinha um romance proibido com um oficial do exército austríaco.”

Extramuros

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Extramuros é um filme que conta a relação amorosa entre duas freiras enclausuradas em um convento espanhol durante o reinado de Filipe II (1527-1598). Numa região assolada por doenças, pela fome, extrema pobreza e falta de água, as freiras receberam a ameaça de ter o convento fechado por falta de pagamento de indulto. Um delas, Sor Ângela (interpretada por Mercedes Sampietro) tem a ideia de forjar um milagre para manter o lugar em funcionamento. Assim, sua apaixonada companheira, Sor Ana (Carmen Maura) a auxilia a recriar as chagas de Jesus e a divulgar um discurso de que Ângela é milagrosa.

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O filme foi dirigido por Miguel Picazo e inspirado na obra de Jesus Fernández Santos. Estreou em setembro de 1986 em Madrid e custou 117 milhões de pesetas. O interessante é que foi gravado no convento de San Pedro de Dueñas, mas para apresentar um tom mais realístico, foi preciso realizar um trabalho cenográfico que fizesse com que o local parecesse mais destruído do que realmente estava. Em entrevista, Picazo contou sobre como surgiu a ideia de filmar: “Quando li o romance pensei na possibilidade de fazer um filme. A trama possui tudo:  história, intrahistória, clímax… me pareceu perfeita para o cinema. É uma investigação certeira sobre o ser humano e vale para qualquer época.”.

Assisti o filme ontem a noite e muito do que vi me remeteu à “A Religiosa”, livro de Diderot publicado em 1796, que conta a história de Suzanne, uma freira enclausurada contra vontade e que, dentre inúmeras coisas,  sofre assédio sexual da Madre Superiora. Diferente dos filmes que vi, baseados no livro de Diderot, esse toca na ferida de maneira direta e sem rodeios. É explícito, as freiras se beijam o tempo inteiro, trocam carícias, dormem juntas e fazem juras de amor….

Parece um tabu falar sobre sexualidade e freiras, duas coisas que não combinam. E é realmente estranho ver as personagens com tamanho discurso romântico. É um filme denso, dramático, muito escuro… uma perfeita alusão à idade média, época das trevas. Me impressiona mais do que a repressão que sofriam o fato de elas se culparem o tempo inteiro. Em uma das cenas, por exemplo, Angela está prestes a se deitar com Ana, mas se lembra que “Amor se paga com dor”, então as duas começam a se autoflagelar e, exaustas, deitam no chão, com as costas repletas de sangue.

O que move as duas é um amor cego e sem imites, especialmente à Ana (um personagem mais dramático, muito dolorida, insegura). Em entrevista Carmen Maura até observou isso: “Ela é apaixonante, porque toda sua motivação é o amor. É a primeira vez que interpreto um personagem que ama sem pedir nada em troca”. São capazes de fingirem um milagre para não se separarem…

O harém de Madame Osmane

el-haren-de-madame-osmane-34014Fiquei surpresa com esse filme, do qual não conhecia a história e não fazia ideia de onde se passava. Fui assistí-lo por causa da Carmen Maura e tive uma feliz surpresa ao descobrir que se trata de uma produção franco-argelina, dirigida por Nadir Morkneche e produzida em 2000. Na trama, Carmen interpreta Madame Osmane, uma mulher mal-humorada que, após ser abandonada pelo marido, passa a comandar sua pensão com mãos de ferro para não perder o respeito. O ano é de 1993, acontece a Guerra Civil Argelina (um conflito armado entre o governo argelino e rebeldes islâmicos, iniciado dois anos antes. O número estimado de mortos foi de 200 mil pessoas).

Após ser lançado na França, o filme chegou a ser considerado um “Mulheres à beira de um ataque de Nervos” argelino. Não é para menos e não só pela fácil associação de Carmen à Almodóvar. Madame Osmane é uma mulher forte e cheia de problemas, a começar pela filha rebelde e respondona. Em sua volta está uma velha amiga confidente, o namorado de uma das inquilinas que vive a assediando, uma solteirona desesperada e uma moça, cujo marido é ausente. Enfim, Madame Osmane, assim como Pepa de Almodóvar, está prestes a ter um ataque de nervos.

Muitas coisas que vi no filme me soaram estranhas, é realmente um mundo que desconheço. A começar pelo ambiente, aparentemente seco e muito quente. As mulheres com todos aqueles panos, as cobrindo da cabeça aos pés (outras, com saias curtas), a rapidez dos diálogos, as roupas. Reparei que o universo de todas elas gira em função dos homens, é incrível como o casamento é fundamental para o equilíbrio emocional das personagens. A própria Madame Osmane, por exemplo, uma mulher forte (que chegou a ser militante pela independência da Argélia) é desmoralizada por não ter um marido ao seu lado.

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O mundo feminino, retratado no filme, me pareceu angustiante. Enquanto os homens saem para trabalhar e podem ter quantas esposas desejam, as mulheres não podem andar nas ruas sozinhas sem correr o risco de serem assediadas. Madame Osmane se destaca entre todas elas, exatamente porque é a matriarca da casa. Resolve os problemas, bate de frente com todos (inclusive com os homens) e ao mesmo tempo é extremamente infeliz. São muito interessantes as cenas que insinuam o quanto Madame Osmane é solitária e reprimida sexualmente, a ponto de antes de dormir, deitar-se no chão para escutar os vizinhos transando.

Em entrevista ao El País, Nadir Morkneche comentou que Madame Osmane “representa as vidas frustradas de tanta gente na Argélia, é também a representação das argelinas que romperam tabus na década de 70 e que, anos depois, encontram dificuldade para aceitar o mesmo sistema que as oprimiu quando jovens”. E ainda, sobre o universo feminino, observou que: “Existem dois tipos de educação na Argélia, uma para os homens e outra para as mulheres e é ela que configura as mentalidades. O homem da Argélia pode ser uma menino mimado por toda a vida, mimado por suas mães, irmãs e esposas.”

Por fim  é um filme que começa com um tom de humor e termina de uma maneira obscura e muito, muito triste.


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Carlota

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Tive uma experiência muito interessante essa semana, ao assistir a peça teatral “Carlota” (produzida em 2013, baseada na história de Miguel Mihura e dirigida por Mariano de Paco). Vi a peça completa no Youtube (com duração de duas horas), disponível em uma ótima qualidade de imagem e curiosamente, sem som,  apenas com legendas em inglês/espanhol ou em audiodescrição (sem imagens). O vídeo foi postado no canal do Ministério de Educação e Cultura Espanhol e faz parte do projeto “Teatro sem barreiras”do Centro de Documentação Teatral. Achei um máximo! A peça e a experiência…

Ver uma peça de teatro sem ouví-la me pareceu estranho nos primeiros minutos, ainda mais porque a legenda estava em espanhol e no início, eu não conseguia ler e prestar atenção nas imagens ao mesmo tempo. Sem perceber eu fui esquecendo desse detalhe e parecia que ouvia a voz de todos os atores, as músicas de fundo, os efeitos sonoros (que também são indicados pelas legendas), como se todos estivessem presentes. Foi como se o meu próprio cérebro substituísse essa ausência, construindo conteúdo e sentindo. Realmente, muito interessante.

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A peça traz uma trama de suspense, recheada de humor negro. Só para constar é ambientada na Inglaterra na década de 50. Carmen Maura interpreta o papel principal, uma farmacêutica rica e misteriosa, que é encontrada em sua casa, enforcada com as cordas do piano. No mesmo dia, ela iria oferecer um jantar para o amigo do marido que, por sinal, é um detetive (chamado Douglas Yard). Diante das circunstâncias, Douglas passa a noite investigando os possíveis suspeitos pela morte de Carlota e tenta entender porque a mataram – já que Carlota tinha a fama de ser uma pessoa amável.

Entre os suspeitos estão Charlie Barrington, o marido de Carlota. A sombria e assustadora empregada da casa, Velda (que tem como marca o rosto queimado). A melhor amiga de Carlota, Margareth (uma mulher histérica, que odeia homens). Sargento Harris (que aparentemente tem uma quedinha por Carlota e vive rondando sua casa). John (o empregado da casa, marido de Velda e igualmente sombrio), Doctor Whats (o médico da família) e Fred Sullivan (o funcionário da farmácia da qual Carlota é proprietária, o jovem também parece ter uma quedinha por ela). Mrs Christie e Mrs Lillian (amigas de Carlota).

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A peça começa com o Sargento Harris, Douglas e Charlie conversando amigavelmente na porta da casa de Carlota, enquanto isso, um piano toca ao fundo (provavelmente é Carlota que toca). A música para e os homens começam a chamar por ela. Ela não atende e não abre a porta, os homens começam a desconfiar de que algo está errado. Quando entram na casa, encontram Carlota na cozinha, estrangulada pela corda do piano.

É essa a cena de abertura para toda uma trama complexa, cheia de reviravoltas e muito humor negro. Os personagens são todos muito bem trabalhados, com muitas dualidades.  Às vezes você pensa que Carlota é um anjo e às vezes, que é o próprio demônio. Assim acontece com quase todos, como com Velda, a empregada da casa… que deveria receber uma enorme fortuna (dinheiro que foi parar nas mãos de Carlota). Ou mesmo Charlie, que escuta uma confissão de Carlota e deixa de confiar na esposa.

Todo o suspense é muito inteligente, eu não conseguia identificar o assassino porque as possibilidades eram inúmeras. Pior é que a atenção do espectador é desviada do verdadeiro assassino. O tempo todo acontecem pequenos acontecimentos (nem sempre ligados ao crime), como o sumiço da arma de fogo, o roubo da piteira ou o diário de Carlota, que andava escondido.

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Tudo me encantou nessa peça, mas eu fiquei admirada mesmo foi com os efeitos de luz e toda a construção do cenário. A chuva caindo pela janela, a delicadeza de, ao passar o tempo, trocarem a rosa por uma flor seca. A dança dos atores, que precisavam sair e entrar em cena com agilidade, as estratégias para fazer flashbacks, a maravilhosas roupas dos atores!! Incrível, muuuuito incrível!


Sobre Carmen e o teatro: 

É realmente incrível ter a oportunidade de vê-la nos palcos. Para você ter uma ideia, até então, foram 27 anos sem fazer nenhuma peça. Nas primeiras leituras dos diálogos, o diretor pensou em Carmen. Era ela que ele queria para interpretar o papel principal,  mas imaginou que não aceitaria. Em entrevista ele disse que ficou dias pensando em uma atriz que se parecesse com Carmen e por fim, decidiu convidá-la. “Nunca pensei que ela poderia fazer”. Na mesma entrevista, Carmen dizia que topou fazer a peça porque era uma comédia inteligente, e muito compreensível. “O que mais quero é que o público venha, que me veja…principalmente aquelas pessoas que, por idade, nunca puderam me ver nos palcos. É isso que quero, sobrevivo às críticas, mas me faria muito mal encontrar um teatro vazio”

Na peça, Carlota está em seu segundo casamento. Pelo contexto, eu daria no máximo 40 anos para a personagem. Quando a interpretou, Carmen tinha 68 anos. Sério! Estava super bem, por sinal. E ela fala, também na entrevista: “Tenho 68 anos e digo isso a todo mundo, porque estou muito orgulhosa. Ter idade não é um pecado, às vezes parece que ser jovem é uma virtude, mas é só uma circunstância. A idade influencia muito neste tipo de trabalho, ser ator é brincar com o tempo. Sou anticirurgias, claro. Só vou à academia e não deixo que me encham o saco. Se não quero fazer uma cena, não vou. Se não estou bem em algum lugar, vou embora e se quero desaparecer, desapareço. Quando fico sem trabalhar por um tempo é impossível me localizar,  nunca sei onde estou. Uma das coisas que envelhecem é a ansiedade, e vivemos num mundo com um nível de stress insuportável. Isso tira anos de nossas vidas, e nesse sentido, me cuido muito.”


La mujer de tu vida, la mujer feliz

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Esse (tele)filme, produzido em 1990, faz parte de uma série cômica espanhola transmitida até 1994, com 19 capítulos. A ideia da RTVE era produzir cinema de qualidade para a televisão, começaram os projetos em 1980 e só em 1988 conseguiram filmá-lo. Todo os episódios foram filmados em 35mm e tinham cerca de 60 minutos. Como tema, precisavam falar da “mulher perfeita” e de sua relação com algum homem.

Carmen interpreta Marisa, a mulher feliz. O episódio começa no aeroporto de Madrid, quando Antônio Lopez (interpretado por Antônio Banderas) acaba de voltar para o seu país após ter trabalhado por cinco anos na Alemanha, juntando dinheiro para se casar. Sem querer ele presencia um assassinato e é tido como principal suspeito. Antônio foge e com o pouco dinheiro que tem, aluga um pequeno apartamento e lá conhece Marisa. Os dois se enamoram facilmente, Marisa é casada, mas não liga de dar em cima de outro cara, ainda mais porque o seu marido vive trabalhando.

Mesmo sabendo que Antônio está sendo procurado, ela continua se relacionando com ele e o ajuda a se esconder. Um dia, Antônio encontra umas anotações de uma pequena história em um guarda-roupa e decide continua-la. Dias depois, apresenta para Marisa um livro enorme e Marisa, que não é boba, o publica com o pseudônimo de “Antônio”. O livro faz muito sucesso e Marisa fica rica e famosa (enquanto Antônio, precisa conviver com o anonimato).

A história é bem surreal, mas muito engraçadinha. Eu adoro ver a Carmen Maura e o Antônio Banderas como casal, possuem uma sintonia gostosa. A Carmen, como sempre, está muito divertida (e aqui, muito sensual também). A história vai se desenvolvendo de um jeito tão louco que é impossível não ficar com pena do Antônio. É interessante o protagonismo feminino e como ela comanda a vida dos homens que a cercam e, de alguma maneira, se aproveita de todos eles  Coloquei o filme no Youtube e você pode assisti-lo aqui. 

Enganar é viver (ou “La Alegria está em el Campo”)

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Tava pesquisando sobre esse filme e encontrei uma super entrevista (de 1996, um ano após o lançamento), em que a Carmen Maura falava muitas coisas interessantes sobre a sua carreira, uma delas é que enfrentou muitas dificuldade para se acostumar com o jeito frio dos franceses e que tem um pouco de birra porque eles se acham os melhores de mundo. Na entrevista Carmen contou que ficou mais de seis meses gravando “La alegria está en el campo” e que realmente morava numa fazenda, longe de tudo, levando uma vida meio bucólica. Ela disse que se esforçou muito para aprender francês e que tem orgulho de dominar a língua, contou que gostava de morar na França porque o assédio lá praticamente não existe, que podia passear com seus cachorros sem ser reconhecida.

A melhor parte foi quando ela falou sobre suas expectativas de carreira, disse que não ficava sem trabalho e que tinha o privilégio de ser uma atriz de cinema… que não tinha a ilusão de ser uma atriz de Hollywood e que sofreu muito quando gravou “Mulheres à beira de um ataque de nervos”, que só não largou tudo porque tinha um contrato a cumprir. Quando ela chegou em Hollywood para a promoção do filme, foi muito maltratada e que provavelmente recebeu esse tratamento por causa da sua idade. Na época, Carmen já estava no auge dos 40 e tantos, sentia que não conseguiria (e que não estava disposta) a concorrer com atores com a metade da idade dela.

Sobre o filme: O pequeno empresário Francis (interpretado por Michel Serrault) está enfrentando sérios problemas em sua fábrica: não tem verba e as funcionárias em greve. Pior é que, quando chega em casa, não encontra consolo na mulher e na filha, que são frias e arrogantes e só pensam em gastar.Um dia a família está vendo TV e escutam o caso de uma senhora que possui duas filhas e que está em busca de seu marido. Essa senhora é Dolores, vivida por Carmen Maura, uma fazendeira produtora de foie gras, extremamente simples. Quando mostram uma foto antiga do marido desaparecido de Dolores, Francis tem uma baita surpresa… o homem na foto é idêntico a ele.Decidido a evitar os problemas do dia-a-dia e se livrar da esposa e da filha, Francis assume a identidade do esposo de Dolores.

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Meus comentários, cheios de spoilers: Eu estava louca para assistir esse filme, pensei que fosse uma super comédia. É uma comédia leve, uma trama interessante, mas nada que se diga “nooossa!”. A verdade é que o filme começa muito bem, dá pra dar umas boas risadas, mas aos poucos vai perdendo o ritmo. De qualquer forma, não é uma história tão comum, tem umas reviravoltas legais. Carmen está muito bem, mais séria do que o normal. Eu adorei o fato de seu personagem ser extremamente simples e, em segredo, extremamente rica. Tão rica que tira Francis do fundo do poço, mas o coloca em uma enrascada já que o dinheiro que ela tem (e suas infindáveis barras de ouro, rsss) são “dinheiro sujo”, tretas que o verdadeiro marido de Dolores arrumou em 1968, quando fazia violentos assaltos. O melhor é que a verdadeira esposa de Francis, quando descobre que ele a traiu, enlouquece (e só no fim do filme descobrimos que ela enlouquece de alegria por se ver livre do marido). Também descobrimos que Dolores sabe o tempo inteiro de que Francis não é seu verdadeiro marido, mas mesmo assim confia a ele sua fortuna, porque aprendeu a amá-lo.

Carmen foi indicada ao César por esse filme como melhor atriz coadjuvante.

sobre a Carmen Maura

CARMEN

Contei para vocês que estou fazendo quase que uma “maratona” dos filmes da Carmen Maura. Decidi reunir uma anotações sobre os que eu já assisti. Adoro listas, e acho que assim fica bem mais prático, principalmente porque ajuda a relembra-los. O mesmo eu fiz com os filmes da Anna Magnani e da Jamie Lee Curtis e, apesar de ter dado um trabalho do cão, foi bem gostoso fazer – principalmente quando eu encontro aqueles que são raros! A sensação é quase como ganhar na loteria. Quase, porque eu fico super feliz, mas continuo pobre.

Já falei muito (muito mesmo) sobre a Carme Maura nesse blog, é só jogar o nome dela na barra de pesquisas que você vai encontrar uma série de textos. É uma atriz que eu amo, que sou perdidamente apaixonada há tantos anos que já perdi a conta. A vi pela primeira vez em  um filme de Almodóvar, ela era a freira que cuidava de um tigre. Depois caí de joelhos por Pepa (de Mulheres a beira de um ataque de nervos) e nunca mais parei de admirá-la.

Se você deseja ler uma pequena biografia da Carmen, indico essa aqui. Pode parecer estranho usar o Wiki como fonte, mas o texto tá bem detalhado. Conta desde o seu nascimento, até a decisão de começar a fazer teatro e finalmente cinema. Analisa suas premiações, tem muitas curiosidades e um ponto de vista muito interessante sobre a relação entre ela e Almodôvar. Fora, a filmografia completa e datada.

(P.S. Aceito dicas de filmes, críticas dos textos, links para torrents e tudo o que vocês tiverem em relação à ela): 


carmen_maura_fgcSó pra constar, esses são os filmes dos quais comentei anteriormente e que acabaram ficando em publicações separadas. Mas estão aí, com os respectivos links para quem quiser ler. E, SIM, eu assisti todos os filmes que comento neste post!


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Círculo Rojo, 2007 – Ontem terminei de assistir essa série e fiquei impressionada com a sucessão de acontecimentos trágicos. Trata-se de uma produção do canal espanhol “Antena 3”, dividida em 12 capítulos com 2 horas de duração (todos disponíveis no Youtube). Carmen interpreta Victória, dona de uma agência de modelos. Sua filha, Clara, é uma famosa desenhista que vive isolada da família e dos amigos. No dia de um de seus desfiles, Clara tem um rompante e pula da sacada de seu apartamento. Sua morte provoca a volta da sua irmã Patrícia, que também vivia isolada da família, morando em Paris. Ao voltar, Patrícia reencontra sua velha amiga Andrea, hoje, casada com o irmão da Patrícia. As duas sabem muito bem a causa do suicido de Clara e se unem para achar os responsáveis e vingá-la.

A série é bem parecida com aquelas produzidas pela Rede Globo, que passam depois das onze. Há muita sensualidade em cena, ameaças, vinganças, ação e assassinato. A personagem de Carmen, Victoria, é uma mulher pérfida, que não ama o marido e que há anos, está apaixonada pelo melhor amigo dele, Arturo (interpretado por Emiliano Gutierrez Caba). Tanto que, quando descobre que o marido está doente, resolve assassiná-lo e entregar importantes documentos da empresa para Arturo. Por fim, Artuto seduz Victória apenas para conseguir os documentos e depois, começa a tratá-la com indiferença. Victória quase enlouquece e decide se vingar de Arturo (e mesmo depois de tudo, continua o amando). Só pra constar, Andrea é filha de Arturo e Victória a odeia tanto que faz de tudo para infernizar sua vida.

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Como ser infeliz y  disfrutarlo, 1994 – Um filme bacana, mas sem muito impacto. Carmen interpreta Carmen, uma jornalista especializada em Cultura que trabalha no El Pais, mas que parece estar de saco cheio da rotina. Um dia, pela manhã, seu marido infarta e falece. Carmen desespera-se e pede que a filha, que mora em Paris, volte para casa. A menina até volta, fica um período apoiando a mãe e depois, viaja novamente para seguir sua vida em outro país. Carmen, no auge dos seus 40 anos, encontra-se viúva e sozinha. Ela começa a redescobrir  a vida, transa com outros homens, faz passeios em lugares onde gosta… Um dia seu chefe a manda para Paris para realizar uma entrevista voltada para a economia. Não é a sua área, ela não gosta muito da ideia, mais vai. Lá ela decide visitar a filha e acaba descobrindo que a menina está grávida – o que abala suas estruturas porque ela não acredita que a filha esteja preparada para a maternidade. Na França ela também reencontra um antigo amigo da família… [Fiz uma enorme sinopse para falar o que poderia falar. É um filme legal, mas não há nada demais nele.]

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Baton Rouge, 1988: Carmen Maura estava com 43 anos e, man… tava muitooo linda! O filme, dirigido por Rafael Moleon, é considerado um suspense erótico. Na história, Carmen vive Isabel, uma mulher rica e recém divorciada que vive assombrada por um abuso sexual que sofreu anos atrás. Um dia ela encontra Antônio (interpretado por Antônio Banderas), um gigolô que possui um irmão cego (e que se compromete em cuidá-lo). Antônio é uma espécie de objeto sexual de Isabel, que mesmo vivendo ao seu lado, não deixa de ter os pesadelos. Isabel resolve se consultar com uma psiquiatra (interpretada por Victoria Abril) e para o seu azar, Antônio se apaixona por ela. Juntos, o gigolô e a psiquiatra, bolam um plano: querem matar o ex-marido de Isabel e fazê-la passar por assassina. [O filme é bem legal, os personagens são muito obscuros e há muita sensualidade em jogo. As cenas de sexo entre Carmen e Antônio são de tirar o fôlego, mas as cenas entre Antônio e Victória são ainda mais impactantes. Carmen está elegantérrima, linda nas cenas da piscina, e não para desfilar com looks maravilhosos.É um personagem sério, que vai em contramão com o seu perfil bem humorado. Um retrato diferente e um registro de que, como atriz, é extremamente dinâmica. SPOILER – Vi uma entrevista onde ela dizia que em uma de suas cenas finais, onde Antonio decide matá-la afogada, ela quase se afogou de verdade. Os dois tinham combinado de que ela daria um belisco em sua barriga para indicá-lo quando parar. Mas na hora da luta corporal ela não conseguiu fazê-lo e ele não percebeu e continuou atuando.]

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La guerre des saints, 2009: Esse filme é muito bonitinho!! É uma pena que seja tão difícil de achar e que existam poucos registros sobre ele na rede. A Carmen Maura tá muito engraçada, dá a vida a uma madre superiora meio louca, sem parafusos. O filme, dirigido por Giordano Gederlini e feito para TV européia, conta a história de um noviço que é enviado para uma pequena cidade para dar início ao processo de beatificação da freira Maria Dolores. No entanto, pouco antes de chegar ao convento, ele é interceptado por uma jornalista que o leva para outro canto da cidade no intuito de fazê-lo presenciar a rotina de uma mulher doente que atrai multidões por acreditarem que ela é milagrosa. O caso da moça (que mais parece estar com espírito no corpo) está sobre cuidados do padre Gabriel. Daí começa uma disputa entre o Padre e a Madre, que tentam a todo custo chamar atenção do noviço.

A trilha sonora desse filme é uma delícia,  a ambientação também. A sensação que dá é a de estar em uma cidadezinha no interior do Brasil. Encontrei uma pequena entrevista do diretor onde ele dizia que o filme era a tentativa de dar uma reposta irônica e satírica à pergunta: “Quem pode ser santo”. Em sua concepção a questão não é o marketing agressivo feito pela igreja, mas as suas consequências politicas.

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La Vaca Paloma, 2015: Paco Leon é um ator que tem se aventurado no mundo direção, em sua estréia, ele realizou um curta metragem (de 12 minutos) com tom surrealista, protagonizado por Carmen e Secun de la Rosa. No curta, Carmen é uma mãe que tenta voltar a se relacionar com o filho. Os dois possuem uma vaca cinéfila, que sempre quando assiste algum filme bom, produz energia. Foi o filho que descobriu os poderes da vaca e pediu que a mãe não contasse a história para ninguém, afinal, quem acreditaria? Mas a mãe, em uma ida ao cabeleireiro, acaba contanto a descoberta do filho e ele passa a ser ridicularizado na rua. O curta foi apresentado pela primeira vez no Festival de San Sebastian do ano passado, sua realização contou com o apoio da empresa “Gás Natural Fenosa” e fazia parte do “ciclo de cinergia”, um festival cultural que chama atenção para a importância do setor. [É bonitinho, achei muito enraçado a personagem da Carmen dizendo que mandou solicitação de amizade para o filho pelo Facebook e que ele não aceitou…]

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La Promesa, 2004

Lembra que eu comentei que encontrar certos filmes dá a sensação de ter ganhado na loteria? Então, esse é um deles. Eu estava fissurada nesse filme, muito mesmo. Foram anos procurando torrents e links para baixar e nada. Daí, num dia desses, comprei o dvd na internet pelo Mercado Livre. Foram apenas dois dias de espera para a entrega, mas eu quase enlouqueci! Em princípio pensei que fosse um filme de terror, mas ao assistí-lo me pareceu muito mais de suspense. Um mergulho na esquizofrenia da personagem de Carmen, Gregória.

Gregória odeia ser Gregória e está cansada dos abusos físicos que sofre do marido. Seu mundo é cercado por uma religiosidade absurda e por uma obsessão por Deus e pelo diabo. Um dia, de saco cheio de apanhar e ser humilhada, Gregória mata o marido. Daí foge de casa, muda seu nome para Célia e vai trabalhar como babá na casa de um casal riquíssimo e, aparentemente, em crise. Ela, que nunca teve filhos, fica apaixonada pelo garotinho do casal e cria um laço de amor e confiança com ele. Ela o ama. E ele também a ama. Mas Gregória não para de ser assombrada pelas vozes do marido e começa a mergulhar na vida da família, como se fizesse parte.

O filme é interessante, Hector Carré faz um belo trabalho fotográfico e narrativa é legal, até certo ponto. Menos do que eu esperava, as coisas fluíam devagar demais sabe? Mas em suma é um filme que vale a pena, não só pela Carmen, mas pela atuação do menininho, o filho do casal.

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Que parezca un accidente, 2008. Quase um filme para a sessão da tarde, uma comédia super leve que conta a história de Pilar, uma mulher viúva que foi tão traída pelo marido, que desenvolveu um dom… toda vez que sua cabeça doía era sinal de que o marido estava com outra. Uma dia ela vai almoçar na casa da filha e quando esbarra no genro começa a sentir a tal dor de cabeça. Sinal de que ele está traindo a filha. Depois de uma conversa com uma amiga, Pilar se convence de contratar alguém para matá-lo. Para isso, entra em contato com Arturo (Federico Luppi, o mesmo que trabalhou com ela em Lisboa!), um assassino implacável e especialista no assunto. Só que dá tudo errado, Pilar começa a perceber que seu genro é inocente e que agora, precisa salvá-lo da morte (que, por sinal, foi arranjada por ela). Carmen, mais uma vez, muito engraçada, parece que está aérea (amo esse jeitinho dela)… Adoro as caras e bocas que ela faz, principalmente quando está tudo prestes a dar errado. É o primeiro longa metragem do diretor Guillermo de la Guardia.

ENTRE VIVIER E SONHAR

Entre vivir y soñar, 2004: Esse filme é simplesmente MUITO fofo e engraçado. Sério, um dos personagens mais fofos que já vi a Carmen interpretar, quase como uma Amelie Poulain simplificada e de meia idade. Ela interpreta Ana, uma dona de casa e professora de cozinha que cansou do casamento rotineiro e que passa madrugadas em claro esperando a filha voltar de baladas. Seu sonho é conhecer Paris, tanto que começou a estudar francês (a Carmen fala francês perfeitamente e é muito engraçado ela fingindo não saber falar). Um dia, a escola em que trabalha precisa de alguém  para dar aulas na França, e claro, Ana acaba sendo escolhida.

Lá ela passa a viver um sonho, está longe dos problemas e do marido que a humilha… é então que resolve reencontrar um amor de juventude, um homem chamado Pierre por quem se apaixonou quando tinha 15 anos. O melhor do filme é que, ao chegar em Paris, Ana é recebia por Ali… um florista adorável e extremamente desorganizado. Ele está sempre dando umas investidas em Ana, mas ela não consegue parar de pensar e procurar por Pierre. Daí resolve reencontrar uma velha amiga, que também conheceu Pierre, para que ela a ajude a encontrá-lo.

♡ [SPOILER] Tem uma cena nesse filme que me tira do sério, em determinado momento, Ali está perdidamente apaixonado por Ana e ela ainda insiste em reencontrar Pierre. Depois de levar um fora, ele começa a assistir um pornô e, quando olhamos para o vídeo, os atores na tela fazendo sexo são Ana e Ali. É muuuuito engraçado, mas principalmente porque Ana levou um super fora do Pierre e está atrás da porta ouvindo os barulhos do vídeo, dizendo “Aqui todo mundo fode, menos eu!” A Carmen Maura leva na zueira e faz umas caras surreais. Fiquei pensando no quanto ela é ótima ao interpretar esses personagens porque a gente vê que ri de sí mesma. Não há seriedade e ela pouco se importa com a situação, é segura de sí, entende?

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El Palo, 2001

Você se lembra daquele filme americano “Loucas por amor, viciadas em dinheiro” com a Dianne Keaton, Queen Latifah e Katie Holmes? A história de “El Palo” é bem parecida, mas com um final um pouco meio destrambelhado. Adriana Ozores está lindíssima, ela interpreta Lola, uma auxiliar de limpeza de uma agência bancária que está solteira e que enfrenta sérias dificuldades financeiras. No seu círculo de amizade estão Maite, interpretada por Carmen, uma mulher de classe alta para quem Lola faz faxina. Violeta, uma jovem órfã e  Sílvia, uma dona de casa que acaba de descobrir que está grávida. Todas as quatro estão sem dinheiro, especialmente Maitê que há anos tenta esconder dos filhos que está completamente falida…

Então, elas bolam um assalto à um banco…. e para isso, cada uma precisa fazer o que sabe de melhor. Maitê, por exemplo, é responsável por distrair o diretor do banco. Violeta precisa entrar em sua sala para roubar sua chave. Sílvia precisa fazer uma cópia dessa chave e devolvê-la a tempo que o diretor não perceba e Lola, quando for limpar a agência, terá acesso ao dinheiro. Claro que o plano não sai como planejado… Enfim, é um filme bonitinho, divertido. Daqueles bons passatempos.

La Huella del Crimen, episódio: El crimen de la calle Fuencarral , 1985

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“La Huella del Crimen” (1985 – 1991) foi uma serie policial espanhola que contou com os atores e diretores de maior renome no país e se propôs a reconstituir casos de crimes famosos que aconteceram na Espanha. Carmen Maura participa do segundo episódio, dirigido por Angelino Fons. O episódio tem umas pitadinhas de humor e uns diálogos interessantes, mas me informando mais sobre o caso, me parece bem mais triste e bizarro. [Principalmente como foi morte de Higina…]

Carmen dá vida a Higinia Balaguer, uma empregada doméstica que na manhã do dia 2 de Julho de 1888, começou a gritar socorro pois a casa onde trabalhava estava pegando fogo. Ao adentrarem, os vizinhos a encontram desmaiada ao lado de um cachorro morto e na sala, sua patroa, Luciana Borcino – queimada no rosto e nas mãos, com as vestes rasgadas e com quatro perfurações no corpo.

Higinia é prontamente acusada de assassinato, primeiro porque começara a trabalhar com Luciana ha pouco tempo e segundo, porque descobrem que ela guardava em sua antiga residência (junto com uma amiga, Dolores) as jóias de Luciana. Seus depoimentos são sempre muito confusos, primeiro diz que a patroa tinha um amante e posteriormente, culpa o filho dela, José Vazquez… que na noite do crime, encontrava-se preso. As investigações apresentam indícios de que, apesar de tudo, não poderia estar mentindo. A forma em que Luciana foi assassinada sugeria que alguém com força corporal teria a matado e, ao lado do seu corpo, havia uma camisa manchada de sangue com as iniciais J.V.

Higina recebe várias visitas na cadeia do delegado de polícia, amigo de José Vazquez, que prometeu que se ela confessasse o crime, continuaria viva, seria libertada e ainda receberia uma quantia de dinheiro. E o pior, o advogado de defesa de Higina tem provas de que José Vazquez não estava preso no dia da morte de sua mãe, que tinha sido favorecido pelo delegado. Higina não aguenta a pressão e confessa o crime, diz que ela e a amiga Dolores eram as únicas culpadas pelo assassinato… é condenada a ser executada em praça publica, o caso atrai os jornais e o povo, cerca de 20  mil pessoas foram vê-la morrer. Higina tinha apenas 28 anos.

Dolores foi condenada a 25 anos de cadeia, José Vazquez foi solto (e anos depois, cometeu um assassinato contra uma prostituta). “Hay quien sostiene que la sentencia fue, en realidad, fruto más de cierto rencor social burgués contra una sirvienta que de una verdadera voluntad de esclarecer los hechos, y que Varela se libró de responder por sus acciones.”

Pareja de três,  1995 

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Ai gente, eu amei esse filme TAAANTO! ♥  Tem um tom muito feminista e elas falam de sororidade o tempo inteiro, fora que pregam a liberdade sexual e, enfim, é muito engraçado e divertido. No filme, Carmen dá vida a Ana, uma dona de casa exemplar que está há anos casada com Santi (interpretado por Emílio Gutierrez Caba – o terceiro filme que vejo os dois interpretando um casal). Santi também tem um relacionamento antigo com Marta (melhor amiga de Ana, e ela sabe disso). Martha é interpretada por Rosa Maria Sardà.

O filme começa com um diálogo super engraçado entre duas porque, depois de anos, Ana resolveu ter um amante e implora para que Marta fique com seu marido por dois dias para que ela possa traí-lo. Mas Martha está de saco cheio de Santi e, aparentemente, pensa em desistir dos homens.  Ana até consegue trair Santi, mas se decepciona porque a sua tão sonhada noite romântica não foi como planejada (EU RI DEMAIS!!!!!!). O que nenhuma das duas esperava é que,  Santi também estava de saco cheio delas… e decide largá-las para viver com outra pessoa.

Enlouquecida, Ana se muda para a casa de Marta e passa a mudar toda a sua rotina. As duas brigam o tempo inteiro, especialmente porque sempre tiveram um estilo de vida muito diferente. Ana é a dona de casa e Marta a mulher emancipada. Muito bom!

– Essa publicação está ficando muito grande. Tá difícil editar, os textos e as fotos vão se perdendo. Então, vou fazer uma segunda parte. Daí falo dos outros filmes que eu vi, quem sabe rola até Almodóvar e Saura. Já assisti aos filmes (de verdade, não como a Glória Pires), mas acho tão difícil falar sobre eles porque há tantas possibilidades, que fico adiando. Mas prometo, no próximo post terá Volver, Carmela, Mujeres al Borde e muito mais. Assim que for publicaddo, disponibilizo o link!