D. H. Lawrence morreu em 1930, dois anos depois de publicar “O Amante de Lady Chatterley“, lançado clandestinamente da França por ser considerado obsceno. O livro, eleito como um dos cem melhores romances do século XX, aborda abertamente o amor e o sexo entre classes diferentes (o que afrontava a aristocracia britânica). Ficou censurado por mais de trinta anos na Inglaterra e em vários países de língua inglesa. O autor chegou a editar o romance duas vezes para conseguir que fosse liberado, “as versões são tão diferentes, que podem ser consideradas novos livros”. O interessante é que embora seja conhecido como um autor pornográfico e pervertido, Lawrence (que faleceu com apenas 44 anos), levou uma vida romântica e marcada pela poesia.
O livro conta a história de uma mulher de espírito livre, pouco apaixonada pelo marido e entediada com o casamento. Constance Reid foi criada pelos pais de uma forma diferente das outras garotas, foi estimulada a estudar e a se envolver amorosamente com quem quisesse, sem culpas. Quando casou, já não era mais virgem. O seu marido, o aristocrata Clifford Chatterley, foi para a guerra pouco tempo depois do casamento e quando voltou, por causa de um grave ferimento, ficou inválido, necessitando de uma cadeira de rodas. Entediada com a vida numa cidade polo industrial e irritada com o marido, que não correspondia às suas necessidades sexuais, Constance encontrou em Oliver Mellors (um dos empregados do marido), o acalanto que precisava.
A história de Constance Reid me lembrou muito a de Madame Bovary, mas Constance é uma versão mais firme e decidida de Emma. Antes de se envolver com o empregado do marido, ele já tinha tido outros relacionamentos extra-conjugais e parecia não se arrepender nem um pouco disso. Clifford era um homem medíocre, que não estimulava a atenção e a admiração de Constance, agia como uma criança perto da mãe, era um escritor meia boca, não tinha muitas aspirações. Aliás, ele parecia saber das “puladas de cerca” da esposa, tanto que dizia que assumiria um filho dela, caso engravidasse de outro homem (naturalmente, que não fosse pobre).
Constance nunca “desceu do salto”, era considerada quase como uma celebridade na cidade, tratava todos muito bem, comportava-se perfeitamente como uma dama e no início do casamento, até que tentou ser a esposa perfeita. Mas aquela vida, que não era a que ela queria, estava a corroendo por dentro, como se fosse um grito preso na garganta ou como um veneno que se toma e que vai te correndo aos poucos. É aí que Mellors aparece, como a possibilidade de uma nova vida…