Li o livro da Andressa Urach, deixa eu te contar o que achei!

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Fiquei curiosa para ser esse livro, queria demais conhecer as histórias tão polêmicas da Andressa Urach. Eu sinto uma simpatia por ela, e nem sei explicar o porquê. Como eu cheguei a ler inúmeras notícias e resenhas, acabei não me surpreendendo muito. A figura dela é interessante, e o livro também… seja ou não uma jogada de marketing. Vejo a Andressa como um exemplo vivo da loucura que é o universo do entretenimento, das coisas boas e ruins que acontecem no submundo das celebridades e que a gente não vê no jornal. O livro carrega um discurso muito forte de arrependimento, a narradora é uma pessoa que cometeu loucuras e exageros em busca de uma satisfação: tudo isso envolvia fama, dinheiro e muito sexo.

O que mais humaniza Andressa é a sua origem, o fato de ela ter nascido em uma família como todas as outras famílias brasileiras. Ela poderia ter sido a sua vizinha, sua conhecida, sua prima… O que a diferencia de tantas outras pessoas? Talvez a sua audácia ou o apelo pela exposição.

A fixação de Andressa pela beleza começa muito cedo, depois o vício nas cirurgias plásticas passa a persegui-la como um fantasma. Independentemente da quantidade de intervenções estéticas, ela nunca se contenta. E o livro começa no ápice desse vício, no momento em que ela precisa ser internada às pressas por causa da infecção nas pernas. Ela, com medo de morrer e pensando no filho, e a mãe dela, desesperada ao vê-la doente.

Em suma, é um narrativa bem simples, mas interessante de se ler. Das revelações polêmicas, muito se falou: Andressa conta que foi abusada sexualmente por homem a quem considerava como “avô”, ela conta que perdeu a virgindade com o irmão, que praticou zoofilia, que era a prostituta mais disputada e que brigava muito com a mãe, inclusive fisicamente. Ela não esconde os encontros sexuais com homens ricos, nem as bizarrices exigidas por eles. A modelo fala também sobre seus relacionamento com mulheres e dá sua versão sobre o encontro que teve com Cristiano Ronaldo (e conta que o jogador foi violento, fez ameaças e que seus seguranças chegaram a deixá-la presa num quarto de hotel).

O que fizemos de nós?

 

Comecei a ler o segundo livro com menos entusiasmo do que pelo primeiro mas fui sendo cativada mais uma vez pela capacidade narrativa de Zuenir Ventura. O segundo livro “1968, O que fizemos de nós” só perdeu um pouco do meu interesse por causa de algumas entrevistas. O fato é que me surpreendi positivamente (mais uma vez), não há nada de pedante em nenhuma das afirmações, uma lição jornalística: a importância das entrevistas.

Gosto principalmente da primeira parte e de suas respectivas divisões, os ‘reflexos do baile distante, ‘a falta de bússola – enfim, são fantásticas. Esse balanço que o autor faz, mostra que melhoramos em muitas coisas e que ainda estamos em dívida com muitas outras. O que mais me agrada é pensar que a reflexão do autor sobre a “nova geração” ou a “geração dos netos de 68” é justamente sobre a minha geração. Me identifiquei em diversos relatos que ele realiza.

Zuenir Ventura começa o livro conversando com as mulheres que em apoio (e também influenciadas) pelos movimentos de 68, se separaram dos maridos e foram a luta (cada uma a sua forma). Hoje reconhecem que aquela época refletiu diretamente no comportamento das suas netas, nas suas formas de vestir e de conversar. A crítica maior sem dúvidas é sobre a internet, para elas, um processo de alienação.

De fato, o mundo digitalizado trouxe vantagens em relação a 68. A comunicação rápida, o número de informações cada vez maior… mas que transformou as relações pessoais: “Ficam horas no MSN”, como diria Maria Lúcia Dahl. E realmente ficamos. As redes sociais se tornaram tão comuns que são um bem (ou mal?) necessário. No meu caso: pensei inúmeras vezes em apagar a minha conta no Facebook, mas como? Faço trabalhos acadêmicos, combino horários, troco informações, marco encontros.

Meu capítulo preferido sem duvidas é: “Sexo, drogas e rave”. Zuenir trabalha muito bem com esses conceitos, deixando claro suas diferenças entre 2008 e 1968. Gosto principalmente das análises que ele faz sobre o sexo nos dias de hoje, me fez entender muito do porque agimos assim: sim, somos uma geração que tem medo de fazer sexo e porque? Por causa da AIDS. Soa até engraçado quando analisam o “ficar” da nossa geração. “Eles se beijam, beijam e não fazem nada” – ou seja, não chegam nos finalmente.

A AIDS (a concepção, o medo, o terror à doença) veio para limitar essas ideia de amor livre. Sexo só se for seguro, com camisinha. Na década de 1980 não se entendia muito sobre a doença (aliás, acho mesmo que evoluímos pouco, mas pelo menos nos livramos daquela ideia de: câncer gay). O beijo, como explica Zuenir era apenas a preliminar para o contato carnal.

Outro momento interessante do livro é a descrição que ele faz das raves, das comparações com o Festival de Woodstock, das músicas e principalmente dos participantes da festa com pirulitos na boca. Alguns chupam pirulito por causa das drogas, para não trincar os dentes. Outros, chupam porque gostam de bancar a ideia, de fingir. Em falar em drogas, essa foi uma das heranças malditas de 1968, das suas relações com a criminalidade e das suas divergências em relação a liberação ou não.

Bom…. e as listas? Bacana demais, ele faz uma separação do que acabou e do que não acabou com 1968. O que não acabou? Nelson Rodrigues, Pilula Anticoncepcional, capitalismo, maconha, sonho, MPB…. O que terminou? Comunismo, Transar sem camisinha, cabelo comprido, palavrão. O palavrão ele mesmo classifica: “não sumiu mas saiu de moda”.

A melhor entrevista, sem dúvidas é com José Dirceu, que vive reafirmando a sua inocência. Em 2008 havia ainda uma especulação sobre o mensalão, nada como o que vivemos hoje: o julgamento. Na verdade é muito bom ver a perspectivas dos personagens e de como estão agora: Caetano Veloso, Heloisa Buarque de Hollanda, César Benjamim, etc…