Eu sei que você está chateado, que saiu rápido sem dizer as palavras doces que eu tanto gosto de ouvir. O problema não é com você nem comigo, o problema somos nós dois, não dá certo. Eu disse que essa proximidade toda só traria mais dor, mas você insistiu na ideia de que faríamos bem um ao outro se deixássemos todo o desejo vir à tona. Deu no que deu. Não gosto de amores dramáticos, de encontros escondidos, de jogos de sedução. Quero um amor sincero, um amor de verdade, mais carne e mais alma. Quanto mais alma melhor. E coragem, C-O-R-A-G-E-M, pra perseguir o que é certo, pra viver sem pensar nos dias ou nas noites, ou nas músicas, ou nos filmes, ou nos outros, ah! os outros. Nossos encontros foram perdendo a graça, o suor, o beijo o sexo a cama o vinho e foi se tornando essa coisa estranha, sem cor nem vontade. Aí o certo (existe certo em uma situação dessas?) O certo é cada um seguir seu caminho, arrumar outra pessoa, casar-ter-filhos. –Oi, tudo bem? –Nossa, é você? – Pois é, lembra-se daquela época em que saíamos juntos? – Claro! Como era bom… O quê tem feito da vida? –Comprei um carro novo, os gêmeos estão chegando… – Gêmeos? Parabéns! – E você, como está? – Arrumei um emprego, me mudo para o Rio de Janeiro na próxima segunda. –Que coincidência. – O quê? – Te encontrar, assim, logo agora… que você está partindo. – Pois é, estranho isso. – Ainda escuta os discos de Elis? – Todos os dias. – Lembro de você às vezes. – Eu nunca te esqueci. (o telefone toca). – Minha mulher, me desculpe. – Tudo bem, tenho que ir. – Tchau. – Tchau, boa sorte! – Obrigada.
– despediram-se em um aperto de mãos. a mão dele estava suada ela se virou, sorriu com os olhos nunca mais se viram.