Amor, sexo, culpa e traição… que livro bom!

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Fernando Sabino é um dos autores brasileiros que, no momento, mais desperta o meu interesse. A verdade é que eu gostaria de ter lido mais de seus livros. Há algumas semanas terminei de ler A Faca de dois gumes e enquanto lia, mergulhei em cada um dos contos, cheios de sensualidade, humor e suspense. Sabino é um escritor belo-horizontino, nascido em 1923; fez parte do Grupo Mineiro, liderado por Carlos Drummond de Andrade e Martins de Almeida. Seu conto de estréia foi Os grilos não cantam mais, de 1941.  Dentre as suas obras mais famosas estão O homem nu (de 1960) e o Grande Mentecapto ( de 1979).

O livro reúne uma trilogia, histórias independentes (e escritas em momentos diferentes da vida do autor) que narram três crimes. Em suma, todas as histórias possuem uma forte relação com o  amor e com os sentimentos de culpa e dúvida. De todos, gostei mais do segundo… uma espécie de quebra cabeça que me encantou pela genialidade da narrativa e pelos encontros e desencontros dos personagens.  Nessa história, chamada “Martini Seco”, um casal entra num bar e começa a discutir. Ele vai ao banheiro e ela ao telefone. Os dois voltam à mesa, ela toma um gole da bebida e cai fulminada. A polícia acredita que ele a matou, enquanto ele jura que enquanto estavam discutindo, ela tinha ameaçado se matar. Ou seja, o que aconteceu naquela cena, um assassinato ou um suicídio?

O primeiro dos contos possui inspiração na obra machadiana Dom Casmurro, “O bom ladrão” conta a história de um cara que se apaixona por uma mulher de comportamento duvidável, ela é uma ladra que não não mostra arrependimentos de seus crimes (na verdade, pequenos furtos, digamos…crimes sutis). O problema é que o amor que ele sente por ela  é tão grande que o faz cúmplice e às vezes, até mesmo responsável por alguns delitos.  A terceira história é sensacional, é ela que dá nome ao livro e que posteriormente inspirou o filme  de Murilo Salles, de 1989. Um advogado leva uma vida perfeita junto ao filho e a esposa. Um dia, descobre que ela o trai e enfurecido, decide assassiná-la. O plano é brilhante, o crime é perfeito… mas uma reviravolta inesperada acontece e sua vida se torna um inferno.

Mergulhei nessas histórias, alucinada para descobrir a resolução de cada um dos crimes. Histórias inteligentes, diálogos dinâmicos e muito humor negro. Uma delícia de livro!

Duas novelas de amor

Fernando Tavares Sabino 12Nunca tinha lido nada de Fernando Sabino, sorte minha foi encontrar três de seus livros por apenas um real. Onde encontrei vocês já sabem, comprei na mão daquele senhor que mora aqui perto de casa e que ganha doações de livros e os vende a preço simbólicos. Duas Novelas de Amor possui dois rápidos contos que abordam o universo feminino de uma forma sensível e delicada.

O livro apresenta duas perspectivas muito diferentes sobre o amor, enquanto Silviana é uma menina sonhadora e romântica, Ester é uma mulher marcada pela solidão de um casamento infeliz e sem sucesso. A primeira história “O outro pai” me lembrou as tramas rodriguianas, uma quase tragédia familiar, cheia de sensualidade e segundas intenções. A segunda, “Noite única” escrita especialmente para Cacilda Becker, é uma história muito mais feminina e de uma tristeza ímpar.

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– O outro pai:  Silvania é uma jovem que está prestes a se formar no ensino médio, ela mantém um namoro as escondidas com Ricardo. Não se sabe porque, mas sua mãe não vê com bons olhos a relação que ela possui com o garoto. Um dia, antes da formatura, Silvania descobre que Marcos não é realmente seu pai.

Um drama se estabelece em sua casa, já que a menina e o padrasto criam uma relação amorosa e mãe tem consciência de tudo e claro, desespera-se. O estranho é que até aquele momento, Marcus tratava Silvania como uma menina, como sua filha e, depois de seu segredo ser revelado, entra em um conflito interno.  

A história se passa em Belo Horizonte, 1948. Sabino esclarece: “Quando escrevi a história, antes de conhecer e admirar as de Joseph Conrad, Anton Tcnhekhov, Henry James e outras obras primas da literatura universal, eu vivia sob a poderosa influência dramática dos romances brasileiros de Octavio de Faria. Era um tempo em que amor, sexo e culpa, subordinação à religião, constituíam praticamente uma só realidade, tanto para a adolescência da personagem como para a mocidade do autor. Desde então parece ter havido uma liberação gradual dos costumes em meio a juventude, com reflexos na literatura, inclusive na minha.”

– Noite única: É Ano Novo e Ester está preparando o jantar. Ela aguarda a chegada de inúmeros convidados, enquanto analisa a disposição de cada um deles à mesa. O problema é que o tempo vai passando, os fogos começam a estourar e ninguém chega. Isso mesmo, nenhum dos convidados chega e Ester passa a noite de ano novo sozinha. Quer dizer, quase sozinha, já que seu ex-marido, Rodrigo, reaparece para lhe fazer uma visitaO rancor entre os dois é visível, tanto que chegam a trocar tapas. Ao mesmo tempo, parecem cúmplices. Ester não consegue deixá-lo ir embora e Rodrigo chega a chorar em seu colo.