O dia em que vi Jessica Lange

Jessica Lange em São Paulo Há quatro anos, quando fiquei encantada por Jessica Lange (e encarei um longo período fazendo maratonas de seus filmes) eu não poderia imaginar a possibilidade de vê-la pessoalmente, tão de pertinho.  No ano passado fiquei sabendo que ela viria ao Brasil falar sobre o seu trabalho fotográfico, mas não me organizei para uma viagem…  Inusitadamente, o MIS (Museu de Imagem e Som de São Paulo), que iria recebe-la, passou a divulgar o evento nas redes e pediu que os interessados enviassem um pequeno currículo. Os selecionados teriam um lugar garantido no bate-papo. Mandei o meu, sem muitas expectativas… e na segunda-feira, um dia antes do evento, fiquei sabendo que eu estava entre  os selecionados.

Foi como se eu tivesse ganhado na loteria. Fiquei como criança, imaginando a possibilidade de vê-la tão de perto. Na verdade, eu chorei feito um bebê. Então, sem ter nada organizado, viajei para São Paulo. Fui recebida pela Anna Bella, minha querida amiga (que estudou comigo na PUC) e tive a felicidade de estar acompanhada da minha mãe, que me ajudou em praticamente tudo. Eu tenho horror à metrô, e em São Paulo fui “obrigada” a usá-lo.  Minha mãe, como sempre, foi a melhor companhia que eu poderia ter.

em são pauloliberdadeEstávamos exaustas, oito horas de viagem e um São Paulo enorme, nebulosa e latejante nos chamava para conhecê-la. Em apenas poucas horas isso seria impossível, é claro. Mas, do pouco que vimos, deu para sentir o gostinho da cidade grande.  Andamos pela Liberdade, conhecemos a Av. Paulista, a Augusta… a Livraria Cultura! E depois, fomos correndo para o Museu… Ficamos plantadas do lado de fora por algum tempo, quando chegamos – e já esperávamos por isso, descobrimos que alguns fãs da Jessica tinham chegado às 6h da manhã na tentativa de participar do bate-papo.

Livraria Cultura

bellaaJessica veio falar sobre o seu trabalho como fotógrafa e da sua exposição “Unseen”. Eu já conhecia a história de algumas fotos, da sua relação com a fotografia e do seu amor pelo México e achei engraçado (mas, não tão surpreendente) o fato de que muitos dos que estavam lá não faziam ideia do seu trabalho como fotógrafa e foram ao Museu especialmente para ver a “Suprema”. Muitos jovens, entre os seus 17 e 20 anos… é realmente surpreendente o poder que a televisão tem e o quanto a carreira da Jessica foi revigorada depois de American Horror Story, indiscutível.


As pessoas que não conseguiram entrar na sala assistiram a entrevista por um telão, do lado de fora… Os participantes da sala receberam um fone que permitia a tradução instantânea. Nas primeiras cadeiras, críticos, jornalistas e estudantes… todos me pareceram incomodados com aquela “festa” dos fãs, estavam sérios e sóbrios demais, enquanto nós… imersos na loucura de ver Jessica Lange.

nasalaQuando a Jéssica entrou, os aplausos e gritos não paravam… Posteriormente li uma matéria que explicava a situação perfeitamente: os fãs da Jessica a trataram como uma pop star. E, muitas pessoas vieram de longe para vê-la… vocês podem imaginar a loucura que foi?

Bom…fotos e vídeos não estavam permitidos, eu tirei algumas escondidas, mas elas ficaram bem ruins… Jessica é linda e me pareceu muito tímida, olhava para baixo o tempo inteiro, fala baixo e sempre solta pequenos sorrisos no canto dos lábios.

jssjessicalangeelange1Jessica mostrou que ama e domina fotografia e, pude perceber que ela não queria falar sobre AHS. Não respondia perguntas sobre o assunto, não autografava dvds ou cadernos… nada, com a imagem da série. Alguns fãs conseguiram, mas foram poucos. Ela fez muitas reflexões interessantes, em uma delas por exemplo, Lange questionava a necessidade de tirar fotos (selfies) o tempo inteiro… “Quem se importa?”

Por fim, ela ficou em um espaço onde dava autógrafo e permitia que as pessoas a fotografassem. Eu já estava exausta. Não da exposição, é claro, mas da viagem, dos passeios… Minha mãe salvou o dia, e conseguiu um autógrafo! Enfim… já escrevi demais, só tenho a dizer que foi maravilhoso, marcante, muito muito muito bom!

auto

Diante da dor dos outros

Susan Sontag

Depois de tanto tempo consegui encontrar em um dos sebos de BH o livro “Diante da dor dos Outros” escrito por Susan Sontag em 2003. Sontag sempre me chamou atenção por abordar com sabedoria assuntos fundamentais da sociedade contemporânea através de um olhar crítico e abrangente. Nessa obra, a autora realiza uma reflexão sobre a representação da dor através das imagens e discute como elas podem contribuir para aumentar a discórdia, fomentar a violência ou mesmo para criar apatia. Além disso, analisa diversas imagens mundialmente famosas de distintas épocas (por exemplo: refere-se tanto a documentos fotográficos da Primeira e da Segunda Guerra quanto ao ataque de 11 de Setembro, a imagens da Palestina, Ruanda e Israel).

Com dinamicidade, Sontag inicia o livro dialogando com Virginia Woolf. Conta que em 1937, Woolf recebeu uma carta de um renomado advogado londrino que fez a seguinte pergunta: “Na sua opinião, como podemos evitar a guerra? Em resposta, Woolf contextualiza e sustenta uma retórica sobre as imagens da guerra que diariamente invadiam os jornais chamando atenção sobre o impacto da devastação. Sontag explica que quando Virgina Woolf utiliza a expressão “o que nós podemos fazer”, ela também posiciona o interlocutor diante as imagens chocantes. O “nós” refere-se não só aos que sentem repugnância ou empatia, mas também aos que por um motivo ou outro, decidem ignorar os horrores da guerra.

A seleção desta manhã contém a foto do que talvez seja o corpo de um homem, ou de uma mulher; está tão mutilado que pensando bem, poderia ser o cadáver de um porco. Mas ali adiante estão, seguramente, crianças mortas e também, sem dúvida, um pedaço de uma casa. Uma bomba arrombou a parte lateral; há ainda uma gaiola de passarinho pendurada no que, pode-se presumir, foi a sala de estar. (…) O senhor as chama de “horror e repugnância” Nós também a chamamos de horror e repugnância. A guerra, diz o senhor, é uma abominação, uma barbaridade, é preciso por fim à guerra, a qualquer preço. E nós fazemos eco a suas palavras. A guerra é uma abominação, uma barbaridade, é preciso pôr fim à guerra” (Virgina Woolf).

Ainda sobre a perspectiva de Woolf, Sontag questiona ao leitor se as imagens provocam apenas repugnância. Ela nos pede para refletir sobre o poder e as intenções de quem fotografa e de quem expõe as imagens.Como afirma, certas fotos servem para atiçar o ódio, causar dó ou empatia, simbolizar superioridade ou inferioridade, pode ser entendido como um clamor por paz ou por vingança, pode representar heroísmo ou covardia.

Registro: “As imagens não são só registro, mas também funcionam como testemunho pessoal”

Quando escreve sobre a importância da fotografia como um registro, Sontag nos faz recordar que anos de experiência e aprendizado em fotografia não representam uma vantagem insuperável aos inexperientes. Ironicamente, fotos tremidas ou com má resolução/iluminação possuem uma legitimidade (ou autenticidade) semelhante a fotografias de profissionais. Como exemplo, cita que após o ataque de 11 de setembro, artistas realizaram uma mostra chamada “Aqui é Nova York. Os organizadores reuniram fotógrafos amadores e profissionais que resgistraram o ataque e colocaram as imagens sem o nome do autor a venda. A pessoa que comprava a foto poderia levar pra casa uma imagem feita por Gilles Peress, James Nachtwey ou uma foto de um completo desconhecido.

Fotojornalismo: A década de 1940 (em tempos de guerra) conferiu legitimidade aos fotojornalistas que arriscavam a pele para registrar os conflitos. A profissão conferia certo prestígio e influência. Como Sontag explica, as revistas preconizavam uma missão ampla e eticamente árdua para os fotógrafos que deviam fazer uma crônica desse tempo fosse este de guerra ou de paz, como testemunhas honestas, livres de preconceitos chauvinistas.

Voyeurismo: “o horripilante nos convida a ser ou espectadores ou covardes, incapazes de olhar”. No terceiro capítulo do livro, há uma grande análise sobre a contemplação do sofrimento (ou tormento) alheio. “Parece que a fome de imagens que mostram corpos em sofrimento é quase tão sôfrega quanto o desejo de imagens que mostram corpos nus”. As imagens nos convidam a olhar, algumas quase nos desafiam: “você é capaz de observar imagem tão horripilante?”. Somos então, tomados por um prazer que mistura vergonha e satisfação e também de choque: “talvez as únicas pessoas com o direito de olhar as imagens de sofrimentos dessa ordem extrema sejam aquelas que poderiam ter feito algo para minorá-lo”.

Sontag questiona a fotografia, a contemplação e a realidade. Mas ‘Diante da dor dos outros’ é, sobretudo, um questionamento sobre a guerra e construção imagética que realizamos sobre ela. Pois a fotografia é também um documento histórico da humanidade e como documento, está presente na memória e no esquecimento coletivo (e individual). Para Susan Sontag podemos esquecer mais facilmente de um acontecimento se não temos imagens para lembrá-lo.

Imagens Historicas

Através de um olhar crítico, a autora se posiciona contra as adulterações das fotos da guerra e contra aqueles que lucram com a imagem da dor alheia. Ela cita, por exemplo, o lugar impróprio em que várias fotos são veiculadas  dentro de uma revista (de um lado uma propaganda de perfume e do outro, uma mãe e um filho mortos). Ainda nessa perspectiva, Sontag se refere a manipulação, de imagens.

Sontag cita o caso de Roger Fenton, o primeiro fotojornalista contratado para registrar imagens de guerra (no caso, a Guerra da Criméia). Nas fotos, Fenton criava a ilusão que os soldados viviam em boas condições e que aquele cenário horroroso, não era ‘tão horroroso assim’. Segundo a autora, essas adulterações se repetiram inúmeras vezes (como nos próprios ataques dos EUA ao Afeganistão, onde as TVs veiculavam que os civis não seria atingidos).

“Mas a imagem fotográfica, na medida em que constitui um vestígio (e não uma construção montada com vestígios fotográficos dispersos), não pode ser simplesmente um dispositivo de algo que não aconteceu.

É sempre a imagem que alguém escolheu; fotografar é enquadar e enquadrar é excluir”

Sontag, Susan, 1933 – Diante da dor dos outros / Susan Sontag: tradução Rubens Figueiredo – São Paulo. Companhia das Letras, 2003

Os Desenhos realistas de Dirk Dzimirsky

Quando você vê os desenhos hiperrealistas de Dirk Dzimirsky, dificilmente acredita que não são fotografias em preto e branco. O artista alemão, nascido em 1965, começou a se dedicar profissionalmente em 2005, quando começou a trabalhar como ilustrador gráfico de livros.  Com um cuidado de luz e sombra sobre os desenhos, o artista representa em seu trabalho uma reação direta a mania de beleza e perfeição da mídia.