- P.S. Este texto é apenas uma notinha, escrita durante a madrugada…
“Você! Você é essa pessoa que vive sob o mesmo teto que eu, e eu nem sei, de verdade, quem é…”
Nos últimos dias eu fiquei cismada em ler teatro. Isso por causa do último livro que li, “Toda nudez será castigada”, de Nelson Rodrigues e achei incrível! Estava passeando pela biblioteca quando vislumbrei um exemplar da coleção ‘Aplauso Teatro Brasil’, com peças escritas por Noemi Marinho. E, olha…tantas vezes a vi em novelas e nunca imaginei que fosse também escritora e com uma bagagem invejável (formada pela USP em arte dramática, autora de Homless, Cor de Chá… escreveu para programas televisivos como ‘Brava Gente’, ‘Sai de Baixo’ etc).
Como eu tinha que ir a um curso logo depois, só tive tempo de ler uma das peças… exatamente uma da qual já tinha escutado falar (por causa da Eliete Cigaarini) e que há muito queria assistí-la. “Fulaninha e Dona Coisa”! (que, por sinal, é a peça mais encenada da autora, escrita em 1988).
A trama conta a relação conflituosa entre uma patroa e sua empregada, duas mulheres com contextos e desejos tão distintos… Dona Coisa é cosmopolita, bem sucedida e Fulaninha, uma mulher do interior, sem dinheiro nem família. O texto tem uma pegada humorística, e explora principalmente a inexperiência da empregada – de origem humilde, aprendendo a viver na cidade grande. (Já assistiram Unbreakable Kimmy Schmidt? Então, meio parecido).
Mesmo com o humor característico, algumas passagens chamam atenção… como a solidão da Dona Coisa e a relação de abuso e dependência entre as duas, uma relação retratada de uma forma que continua atual…. essa luta de classes e a discrepância social. Acho que a Fulaninha merece ser revisitada, relida… não sei, mas já não vejo mais a imagem da empregada como aquela que não sabe nem atender o telefone ou que lava as roupas na piscina por engano.
(Outra pegada genial é o fato de que nenhuma das duas personagens possuem nome)