[Pycho-Bidd] Mulheres mais velhas e cinema

Psycho-biddy (também conhecido com hag horror ou hagsploitation) é um subgênero do terror que, normalmente, apresenta filmes que contam histórias de mulheres na casa dos 50/60 anos, mentalmente abaladas por algum acontecimento que as aterroriza, por um alto nível de estresse (ou, apenas desestruturadas psicologicamente).

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O estilo surgiu em 1962, com o assombroso sucesso de “O que terá acontecido à Baby Jane” (um clássico protagonizado por Bette Davis e Joan Crawford), e foi, também, inspirado em “Crepúsculo dos Deuses” (famoso noir estrelado por Gloria Swanson).
O subgênero “Mulheres Psicóticas” (numa tradução à brasileira) apresenta tramas repletas de vingança, assassinato ou melodrama e o mais importante: “mulheres maduras em situações de perigo/violência/loucura”.
[ Particularmente, acho que esses personagens são sensacionais, especialmente quando abordados de uma forma caricata ou sarcástica, ainda que apresentem inúmeras possibilidades. Há muito humor em “Nazaré Tedesco”, por exemplo, mas há também muito drama em Bárbara Covett (personagem de Judi Dench em Notas sobre um Escândalo).]

Jessica Lange em AHS: podemos considerar como Hag Horror?

O subgênero andava esquecido, até que (re) surge Jessica Lange, com a sua cabeleira loira e estilo inconfundível, em American Horror Story. Murphy, o diretor da trama, fã do tema e extremamente atualizado com o que chamamos de “escola de cinema”, não poderia ter feito um trabalho mais incrível e bem elaborado (tsc, tsc…ainda que eu ache que tenha perdido a mão à partir da terceira temporada).
Como Constance, em Murder House, Jéssica dá a vida à uma mulher enigmática e vingativa, repleta de mistérios sobre os filhos e com uma relação estranha com a casa. A maior característica desse hag horror é a sua posição em relação à Moira, a empregada da casa (e “ex” amante do seu marido, digamos…).
Mas, o ápice acontece em Sister Jude, a freira e ex-prostituta que dirige um manicômio.

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Jude, assim como todas as personagens que se enquadram no gênero, luta contra a decadência física da idade, nutre uma paixão não correspondida (por um padre) e está em uma situação de extremo estresse: encara a possibilidade de perder o posto no manicômio, a aproximação de uma jornalista muito curiosa e acontecimentos “sobrenaturais” e inexplicáveis.

Vivemos, então, a reinvenção do subgênero?

Desde a sua invenção, o subgênero conta com diversos filmes (diferentes nuances e histórias). Há, inclusive, uma ótima lista no Filmow para quem se interessa pelo assunto e que entender um pouco mais sobre o tema.

O fato mais interessante é que na época da sua criação, existia uma espécie de deboche, as atrizes maduras (então consideradas veneno de bilheteria), eram vistas com certa piedade por parte da crítica, que não perdoava a idade.

Não cabe hipocrisia: as atrizes, na medida que vão ficando mais velhas, continuam perdendo espaço em Hollywood. Mas, hoje há toda uma interpretação diferenciada sobre a idade, sobre sexualidade e beleza. Entende-se, cada vez mais, que é possível envelhecer de uma forma diferenciada, manter a vivacidade e explorar a pluralidade feminina, em diversos personagens.

Mamãezinha Querida – O livro

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Como prometido, reli “Mamãezinha Querida” e assim que terminei, corri para escrever no blog sobre a sensação que tive.  Voltar a essa história é quase como reassistir um filme de terror, daqueles que a gente deliberadamente esquece algumas cenas e memoriza umas outras tantas.

Desde que conheci a Joan Crawford, tenho a admirado por sua força e por sua beleza… Há nela algo misterioso, uma obscuridade assustadora. Seja por sua infância extremamente pobre e sofrida, por sua loucura pelo sucesso ou por sua necessidade de mostrar para o público uma vida perfeita (que nunca teve).  Nunca saberemos se a relação de Joan com a filha foi tão problemática quanto narrada no livro, mas é realmente difícil ficar indiferente à perspectiva de Christina.

Algo me leva a acreditar na obsessão que a Joan tinha por limpeza por vê-la, em diversos vídeos e entrevistas, comentando sobre como fazia questão de limpar a própria casa e sobre como era uma “cuidadosa dona-de-casa”. Ela chegou até a brincar sobre essa questão em um episódio de I love Lucy, gravado em 1968.  Das coisas que li, acredito que essa fixação da Joan por limpeza foi um reflexo da relação conflituosa com a mãe, que também era viciada em arrumar as coisas e que trabalhou durante anos em uma lavanderia.

O comecinho do livro da Christina me surpreendeu porque eu não lembrava que ele se iniciava com a narrativa sobre a morte da Joan. No primeiro capítulo ela conta que foi a última pessoa a ver a mãe morta, que a atriz estava muito magra e que sentia certa ironia no fato de uma mulher tão controladora ter o seu destino entregue às mãos dos outros. Ao longo da narrativa, ela fala muito sobre a carreira da Joan, desde o seu surgimento como dançarina, ao Oscar (e aos momentos tenebrosos que passou quando Crawford foi considerada veneno de bilheteria, isso porque a mãe ficava extremamente nervosa e passava mais tempo em casa).

Acho interessante a Christina contar como a mãe foi se moldando e criando suas próprias marcas ao longo do tempo, a ponto de fazê-la parecer uma pessoa completamente diferente da que era no começo da carreira. Sejam pelas grossas sobrancelhas, pela boca marcada e pelas famosas ombreiras. Joan foi a responsável por criar sua própria imagem.

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Um dos grandes argumentos que ela usa contra a mãe é que Joan não queria que seus bebês crescessem. Tudo estava bem, até que eles foram crescendo, se informando e tendo suas próprias vontades. Os primeiros abusos que sofreu começaram quando tinha cinco anos, nessa época ela já apanhava, sofria pequenas humilhações, já era obrigada a limpar a mansão e preparar drinks para os convidados. Segundo ela, a mãe a treinou para ser uma menina perfeita: rica, polida, bonita e inteligente.


Tá, mas… vamos ao livro:

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Christina demonstra sentir muita raiva pelo fato da mãe afastá-la de casa, afinal ela passou muito tempo em internatos e perdeu momentos importantes em família: aniversários e natais… E sua mãe era muito ausente também, comunicava-se com ela através de pequenas cartas e bilhetes, não participou de suas formaturas.

Das polêmicas, acho que quatro delas são as mais interessantes: 1) Ela fala com muita naturalidade da bissexualidade da mãe, que diversas vezes foi à noite no quarto da babá, exigindo que elas dormissem juntas. 2) Christina diz que presenciou a mãe apanhar de um dos seus namorados, a quem tinha que chamar de “tio”. Numa das brigas que a Joan teve com um de seus namorados, ela chegou a subir no telhado fugindo dele. 3) Ela conta que carregou a mãe diversas vezes ao quarto pois ela tinha sério problemas com álcool, e sempre ligava para a escola da Christina enquanto estava bêbada e inventava mentiras sobre a garota.4) Christina dizia que muitos não entendiam porque uma mulher tão saudável como Joan não conseguia engravidar e sempre sofria abortos: ela os provocava.

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Outro detalhe sórdido: ela diz que a mãe era tão insuportável que nenhum empregado aguentava ficar um longo período trabalhando para ela. Então, Joan começou a permitir que suas fãs fizessem certos trabalhos (como limpar os sofás, ajudar no envio das cartas) e ainda não pagava por eles. Joan xingava e humilhava os fãs e mesmo assim eles continuavam lá, a servi-la. Mais uma coisa: Para Christina, a mãe usava a beleza como alpinismo social. Não é atoa que depois que se casou com o dono da Pepsi Cola, conseguiu pagar todas as dívidas que tinha. Durante anos fez o marketing da empresa e recebia muito bem por isso.

Ainda sobre esse assunto, ela conta que a mãe, enquanto esteve casada com Douglas Fairbanks, lutava bravamente para ser aceita pela sogra: Mary Pickford (que dizia não gostar de Joan por achá-la vulgar!).

Se Christina sofreu nas mãos da mãe, Christopher que o diga. Segundo o livro, ele batia de frente com a mãe e sempre levava a pior. Como era inquieto, Joan chegava a fazê-lo utilizar o “crasono-seguro”, que o prendia à cama e deixava imóvel durante toda a noite.

O fim da vida da mãe parece ter sido terrível, e Christina deixa evidente que não o acompanhou de perto. Segundo ela, Joan bebia muito e levava muitas quedas. Chegava a ficar com o corpo todo machucado.

Baby Jane foi o último sucesso de Joan e Christina conta que esse filme foi fundamental para que a atriz pudesse pagar suas contas atrasadas.

Ainda que muitos momentos narrados causem repulsa, o livro oferece uma oportunidade de conhecer uma nova perspectiva sobre Joan; muitos fãs não acreditam em nada que a Christina diz e em certa parte eu entendo (nós nunca vamos comprovar se o que ela disse é verdade). Mas de qualquer forma, é interessante ter acesso a tantas informações sobre a carreira desta atriz, que em alguns momentos, criou uma personalidade para si que foi se misturando com suas personagens. Joan teve uma infância muito pobre e uma juventude cercada de luxos… Outro dia vi um documentário e num dos depoimentos, falava-se exatamente sobre essa “fome” pelo sucesso que ela tinha, como um medo visceral de voltar à miséria. Acredito que existiu uma rivalidade terrível entre as duas e acho que a Joan fez algumas coisas “ruins”, tentando acertar…  na minha interpretação, ela reproduziu os rígidos ensinamentos que teve quando criança.  [Falando nisso, ainda cabe lembrar que Christina disse que Joan não tinha boa relação com a mãe, que a deixou morrer sozinha e com poucos auxílios financeiros.]

Mamãezinha, querida?

Sempre que assisto aos filmes estrelados por Joan Crawford me pergunto se ela fez aquelas coisas terríveis com a filha. Pouco depois da morte da atriz, Christina lançou um livro que narrava o terror que passou (durante anos) ao lado da mãe, a quem descrevia como uma pessoa obsessiva e violenta. Li o livro por duas vezes e aquelas palavras me pareciam muito verdadeiras, até que recentemente vi uma entrevista da Christina, já na casa dos sessenta anos, debochando (e muito) da Joan. Achei a atitude horrível! Fui pesquisar pelos outros filhos da Joan e encontrei diversos vídeos onde eles contradiziam tudo o que a Christina falava.
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A verdade é que nunca vamos ter certeza do que aconteceu e que é difícil não ficar curioso sobre as histórias contadas. Mamãezinha Querida é um livro autobiográfico lançado por Christina Crawford em 78, onde ela conta como sua mãe, uma das maiores atrizes Hollywoodianas, infernizou a sua vida. Desde espancamentos com cabides de ferro à ataques de fúria no jardim. Joan Crawford foi retratada como uma mulher histérica e com sérias variações de humor.  

Na entrevista que vi, Christina dizia ter odiado o filme e que não concordava com os exageros retratados na história. Dizia que como já tinha vendido os direitos sobre a obra, não tinha como intervir na montagem dos personagens. Mas falava como alguém em posição de conforto, que ganhou uma grana com todo aquele show de horrores e que ainda, conseguiu a fama (que sempre desejou). Só para constar, Chistina dedicou-se a vida de atriz , mas teve que se contentar com papéis medíocres.

É muito louco pensar que a Joan Crawford, antes de morrer, chegou a dizer que Faye Dunaway era a única atriz que poderia interpretá-la com maestria. E mais estranho ainda é pensar que Dunaway aceitou o papel que colocaria em xeque a imagem de Joan e que este trabalho tenha lhe rendido amargos resultados (os críticos caíram matando e ela chegou a ganhar o Framboesa de Ouro).

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O filme ficou conhecido por seus exageros e pela interpretação caricata que da Faye. Pior ainda foi a caracterização, uma maquiagem calcada nas duas grandes marcas da atriz: a boca (que era aumentada pelo batom) e as grossas sobrancelhas. Mesmo com as inúmeras referências, como as ombreiras que Joan tanto amava, a personagem de Faye não conseguiu transmitir glamour, mas uma imagem patética que beirava ao ridículo. Independente de ser ou não retratada como maquiavélica, Joan merecia mais.

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Li o livro quando tinha quinze anos, lembro que ficava andando com ele pela escola e lendo durante o recreio. A narrativa é toda em primeira pessoa e retrata desde a infância de Christina até a sua juventude. E é muito interessante o fato de ela sempre evidenciar que mesmo com todas aquelas patifarias que sofria, amava a mãe e a perdoava por seus atos de covardia. Christina critica muito a hipocrisia da mãe, que fazia tudo em função do marketing pessoal. Seus aniversários eram luxuosos e contava sempre com a presença de famosos. No fim da festa, Christina era obrigada a doar todos os seus presentes para as crianças carentes e só podia escolher um. Sua revolta era ter de se mostrar feliz diante das câmeras, mesmo destroçada de raiva.  (Prometo reler e escrever um post só sobre o livro!)

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Da Joan, nunca saberemos a versão. Mas existem algumas coisas interessantes sobre sua história que nos ajudam a entender um pouco de sua personalidade. Joan foi filha de mãe solteira e teve uma infância pobre (muito, muito pobre), sua mãe era viciada por limpeza e a ensinou sem “muito carinho” a melhor maneira para se arrumar a casa. Em uma entrevista que li dela, bem antiga, a atriz dizia que gostava de limpar a própria casa e o fazia como a mãe tinha ensinado: começando sempre pela cozinha.

Como mulher solteira, a atriz enfrentou sérios problemas para adotar os filhos na Califórnia. Precisou passar por vários processos e comprovar que era capacitada para ser mãe, até que resolveu viajar para outros lugares (Nevada e NY), com leis menos rígidas com o intuito de “agilizar as coisas”. Christina foi adotava em 1940, Christopher em 1942 e Catherine e Cynthia em 1947.

Joan morreu de câncer em maio de 1977, em seu apartamento em Manhattan. Sabia que Christina estava escrevendo sobre ela e tinha o pressentimento de que não eram boas palavras. Em conversa com seu amigo publicitário, John Springer, chegou a dizer: “Acho que Christina está usando o meu nome para ganhar dinheiro, será que ela acha que vou deixá-la financeiramente desamparada ou que vou desaparecer logo?”  No fim das contas, pouco antes de morrer, Joan Crawford mudou todo o seu testamento, deixando o resto de seu dinheiro para Catherine e Cynthia, para sua secretária Betty Baker e para associações de caridade que mais gostava.

Oura ironia é a de que Bette Davis, grande inimiga de Joan, ficou do seu lado quando o livro foi publicado. Bette dizia não acreditar em nenhuma daquelas palavras, que Joan não teria feito nada disso e que o livro deveria ser jogado no lixo. Mais irônico ainda é que a própria Bette Davis passou por essa situação, quando sua filha Bárbara escreveu horrores sobre ela no livro “My Mother’s Kepper”.

Amigos pessoais da Joan diziam que foi bom este livro ter sido publicado depois de sua morte, pois se ela estivesse viva isso teria despedaçado seu coração.

Bette Davis, Joan Crawford, Susan Sarandon e Jessica Lange!

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53-18276-bettedavis_joancrawford-1405554457A notícia da realização da série Feud mexeu com a minha cabeça. Me deixou doida, doidinha, louca! Susan Sarandon e Jessica Lange representando as disputas entre  Bette Davis e Joan Crawford durante a gravação de “O que terá acontecido a Baby Jane?”. São quatro das atrizes que mais adoro, das quais já assisti inúmeros filmes e acompanho há anos. Quer dizer, meus miolos entraram em erupção. Na verdade eu até já sabia da possibilidade deste projeto, tive conhecimento dele (através das redes sociais em 2014!), mas achei que não iria para frente… Esperei todo o burburinho passar para ver se os veículos de comunicação e os próprios atores/diretores confirmassem. Isso aconteceu e eu morri. Já escrevi inúmeras publicações sobre Baby Jane, sobre Bette, Crawford, Susan e Jessica… acho que seria chover no molhado. Só passei mesmo para dizer que estou super entusiasmada pela série, que deve ser lançada no ano que vem e dirigida por Ryan Murphy (o mesmo diretor de American Horror Story!!).

“Eu vi o que você fez e sei quem você é”, 1965

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Gente, eu adoro assistir os filmes da Joan Crawford, quero saber tudo que está relacionado a ela… era uma mulher linda, inteligente, impactante e forte. Mesmo com todas as controvérsias que rondam sua personalidade (e a terrível história contada por sua filha), a admiro muito, principalmente por seu talento e elegância.  Acabei de assistir “I saw what you did”, um terror-suspense dirigido e produzido por William Castle (os dois também trabalharam juntos em Almas Mortas, 1964). Joan interpreta Amy, uma mulher enlouquecida e cega de amor. Bom, vamos começar do começo, certo?

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O filme conta a história de três menininha que ficam em casa sozinhas depois que seus pais saem para um jantar. Para entreter a noite, ficam horas no telefone passando trotes para os outros. Por infelicidade, passam um trote para um homem que acaba de cometer um assassinato e dizem: “Eu vi o que você fez e sei quem você é”. Sem desconfiar que se trata de um trote, o assassino desespera-se e começa uma caçada atrás de quem o viu. Onde entra Joan¿ Bom, ela é apaixonada pelo assassino e mesmo desconfiando da barbaridade que cometeu, ainda deseja casar com ele.

A cena do assassinato me divertiu muito, especialmente por ser uma clara referência a Psicose (de Hitchcock). Conheço pouco sobre o William Castle, mas do pouco que li dele, fiquei impressionada por seu bom humor e criatividade. O diretor ficou conhecido como o rei dos “Movie Gimmicks”, que são algumas estratégias promocionais usadas para impressionar os espectadores (ex: eram colocadas campainhas debaixo das poltronas, ou distribuidos cartões onde o público podia eleger o final do protagonista). Sensacional! Convido vocês a ler o artigo do Cinemafilia e saber mais sobre ele. Clique – aqui aqui

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“Eu vi o que você fez e sem quem você é” é um filme cheio de tensão e ao mesmo tempo, de humor. A gente se diverte com a farra das menininhas e mergulha nos momentos de tensão e perseguição.  É um filme que me traz muitos outros na memória (e daí não sei se foi utilizado como referência), mas por exemplo:  como não se lembrar de “Pânico”¿ ou “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”.¿

O que terá acontecido a Baby Jane? – 1991

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Nota rápida:  Nessa semana eu assisti a segunda versão de “O que terá acontecido a Baby Jane”, filme de 1991, dirigido por David Greene. Era um filme que me despertava muita curiosidade e ao mesmo tempo repulsa, porque eu simplesmente odiava a maquiagem que fizeram na Lynn Redgrave. Essa versão mantém a trama da primeira e pouquíssimas alterações foram feitas. A história se passa em uma mansão em Hollywood onde vivem Jane Hudson e sua irmã Blanche, interpretada por Vanessa Redgrave. As duas foram estrelas de cinema, mas tiveram a vida despedaçada após um trágico acidente que deixou Blanche em cadeiras de rodas. Para saber mais sobre a versão de 1962, acesse.

Aqui não se repete o que as legendárias Joan Crawford e Bette Davis fizeram anos antes. Não existe aquele clima de tensão nos bastidores, nem a explosão de raiva de duas atrizes que se odeiam há anos. As irmãs Redgrave possuem uma sintonia bem diferente e isso é perceptível já nos primeiros minutos. São igualmente intensas, mas existe algo de “fraternidade” que o outro não tem, diversas vezes vemos as personagens dividindo lembranças da infância e trocando olhares carinhosos.

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Li comentários que diziam que esse filme é mais realista e chocante que o outro… pode ser. O fato é que quando lançando, foi duramente criticado. Nesse eu percebi uma Blanche mais impiedosa e caprichosa e a uma Jane menos malvada e mais afetada. Também não sei se pela cor, mas me pareceu mais violento. Acontece que a Lynn, apesar daquela horrível maquiagem, se sobressai muitíssimo, ela está incrível, muito emocional e assombradora (aquela boneca, putz!). O filme me fez encarar a Jane muito mais como vítima, principalmente por causa da cena final, onde todos os policiais prestam socorro à Blanche e deixam Jane sozinha, caminhando em direção ao mar…

Fogueira da Paixão, 1947

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Ganhei esse filme em dvd quando fiz quinze anos, fazia parte do box organizado pela Warner em homenagem à Joan Crawford (ganhei o da Bette Davis também). Esse foi o primeiro que vi, tem uma boa história (ainda que eu o ache mais fraco que os outros). Não sei, algo não me agradou tanto nele.  Mas sempre quando me lembro da atuação da Joan Crawford e do que li sobre essa produção, fico admirada. Impossível não se sentir impactado com as primeiras cenas, em que Joan (sem maquiagem), aparece deitada em um leito, atormentada e confusa. Do que li, lembro que diziam que a Joan foi uma das poucas atrizes que topou aparecer sem maquiagem, fora que interpretar personagens com problemas psiquiátricos era um tabu, ninguém queria colocar a mão no fogo.

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Na trama Joan interpreta Louise, uma enfermeira contratada para trabalhar na casa de David (Van Heflin), por quem se apaixonada perdidamente (de uma maneira assustadoramente exagerada). Quando percebe que ele não irá retribuir seu carinho, Louise acaba namorando e se casando com outro cara, Dean (Raymond Massey).   Mas o amor continua e assim, ela desperta a desconfiança de sua enteada, Carol (interpretada por Geraldine Brooks).

É um drama-psicológico interessante, com uma narrativa cheia de flashbacks e com um toque noir. Um filme feito para a Joan Crawford, ela realmente toma conta de tudo, chama a atenção. Gosto muito das cenas em que a paranoia toma conta de Louise, dos momentos em que a ela se torna violenta e fica na defensiva.

Almas Mortas

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Eu adoro “Almas Mortas” (William Castle, 1964). Acho que por ser fã da Joan Crawford, tento enxergá-la para além do personagem. É um filme trash,com cabeças de boneco rolando por todo o lado. Mas se a gente for parar pra pensar a história é até boa… que pesa mais para o drama do que para o terror. 

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O filme conta a história de Lucy, uma mulher que flagrou o seu marido a traindo com outra . “Lucy Harbin pegou o machado e deu quarenta marteladas no seu marido e quando viu o que fez, deu quarenta e uma na namorada dele”. Ela passa por uma longa internação, porque é considerada louca. Quando retorna, depois de vinte anos, tenta se reaproximar de Carol, sua filha (que na época, foi testemunha do crime). A volta de Lucy causa uma reviravolta na cidade, já que uma série de assassinatos acontecem (as novas vítimas são decapitadas, os crimes são muito semelhantes ao cometido por ela anos atrás).

Almas Mortas foi classificado como um horror cujo subgênero se chamava “Psycho-Biddy” ou “Hang Horror”, tratavam-se de filmes que misturavam drama, thriller, vingança e humor negro. A característica principal desse sub-gênero eram as protagonistas: mulheres maduras e perigosas (algumas insanas, outras sob tremendo estresse). Almas Mortas segue bem essa linha, mas eu acho que tá mais para o entretenimento do que para qualquer outra coisa. É um filme bom de assistir, que te deixa vidrado… a gente vai mergulhando nos delírios da personagem e nem se importa com o fato de o plot principal ser facilmente decifrado. 

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Joan nunca aceitou muito bem a ideia de envelhecer diante das câmeras, talvez nem tivesse consciência do ridículo quando tentava se passar por uma jovenzinha, tendo quase 60 anos de idade. Almas Mortas retrata bem essa fase, a Joan aparece com um vestido coladinho, com uma super peruca e com aquelas sobrancelhas marcadas, fingindo ter uns trinta e poucos anos. Me parece que Joan foi daquele tipo de gente que faz tudo com muita vontade, daquelas pessoas que mergulham de cabeça num projeto… Tanto que no filme, com todo aquele ar decadente de película B, Joan consegue ser verossímil.

Li que Castle chegou a garantir a Joan que ela iria ganhar um Oscar. O filme nem indicado foi e passou muito longe disso. Joan teve carta branca para mexer em alguns detalhes que não a agradavam e alterar certas coisas, como o figurino, por exemplo. Foi Joan que escolheu Diane Baker, a atriz que interpretou sua filha, ela não queria uma atriz que a ofuscasse.

Onde Fanny e Marisa se encontram

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Pausa para uma rápida observação…

Se eu contasse que estou para fazer essa publicação há mais de um ano vocês acreditam? Eu sempre quis falar sobre isso, mas um assunto vai substituindo outro e vou me esquecendo, ou me perdendo em meio ao caos de ideias. Eu acho que, se existem duas mulheres no cinema que possuem uma beleza ímpar, elas são a Fanny Ardant e a Marisa Paredes. Eu realmente não sei se o termo correto seria beleza, é como se as duas tivessem “aquilo” que as outras não tem.

Pra falar a verdade, se você for reparar bem, elas nem são tão “bonitas” assim (e não que isso importe), é que elas possuem um charme, uma postura, uma elegância… ou sei lá o quê, que as faz diferentes. Desde que as conheci faço essa relação e juro que essa impressão existe antes mesmo (muito antes!) de eu ter essa súbita paixão pela Fanny. Paixão aliás que tenho e mantenho pela Marisa. Confesso que eu colocaria a Daniela Romo nessa lista também, se não fosse por um detalhe que muda todo o cenário. 

Fanny e Marisa possuem pouca diferença de idade. Marisa tem 69 anos e a Fanny 66. Marisa é espanhola e Fanny francesa; As duas são magras, altas, possuem uma voz grave e costa grandes. Em resumo, possuem um pouco da essência que a Joan Crawford tinha. É aquele aspecto meio atlético, masculino e híbrido… um aspecto que nos confunde já que, ao mesmo tempo, nenhuma das duas abre mão de sua feminilidade. Se você reparar, a Daniela é exatamente assim, tem voz grossa, é alta, atlética… e possui unhas grandes e sempre pintadas de vermelho, os cabelos na cintura e usa os vestidos mais sensuais possíveis. Ou seja, você vê uma mulher, mas enxerga os traços masculinos.

Fanny, no entanto, parece que gosta (ou necessita) de alimentar aquela postura de “femme fatale”. Ela é mais imaculada, intocável. É serena, séria, fala baixo, faz charme quando conversa, anda sempre de óculos escuros e não abre mão de usar roupas de grife. Marisa parece mais simples, mais real. Possui aquela imagem matriarcal, forte, sentimental… ligada muito mais à arte do que aos holofotes.

Daniela é linda, mas perde para as duas em um quesito fundamental: a liberdade de ser, interpretar e criar. Fanny e Marisa, por um conjunto de aspectos (mas especialmente pelo cinema e pela cultura de seus países), são mais livres em seus personagens. Daniela recua quanto se fala sobre sexualidade, porque como todo mundo já sabe, há um enorme boato que ronda a sua vida. E mesmo se não fosse isso, é claramente uma artista conservadora e eu diria, menos corajosa. Admiro profundamente o seu trabalho em Victor Victoria, trabalho aliás… que ela disse que foi um dos melhores de sua vida. Mas infelizmente há poucos registros e por ser uma espetáculo grandioso (e caro), ficou centralizado em um público muito específico. Não é como um filme do Almodóvar ou do Truffaut que se encontra em todo o canto.

Azar da Daniela, sorte da Marisa e da Fanny

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