A professora de artes Sheba (Cate Blanchett) acaba de se mudar para uma nova escola e, sem conhecer muito bem o local, aproxima-se de Bárbara Covett (Judi Dench) também professora do colégio. Ela o faz, sem saber que esta dominadora mulher, possui atitudes extremamente bizarras e obsessivas. Em princípio, as duas se tornam grandes amigas: saem para beber, visitam a casa uma da outra e trocam inúmeras confidências.
Mas, um fato quebra a relação idílica das duas: Bárbara descobre que Sheba está se relacionando com um de seus alunos, de 15 anos.
Notas Sobre um escândalo é uma história bastante curiosa (o livro, inclusive, é tão ou mais envolvente). Mais do que uma narrativa sobre a obsessão de uma mulher com a outra, a história retrata (de forma bem sutil) a solidão feminina. Ao longo da narrativa, é possível observar como os detalhes fazem toda a diferença: a gata de Bárbara como o único elo emocional da professora, o marido mais velho e o filho de Sheba, que fazem com que ela se sinta cada vez mais esgotada e sem saída.
Os dois personagens são muito complexos, com nuances bem particulares. Bárbara é uma mulher na casa dos 60 anos, extremamente carente e com um histórico duvidoso. Suas atitudes indicam uma sexualidade reprimida e toques de “desejos homossexuais latentes”. Da parte de Sheba, um imediatismo em vivenciar experiências novas e aproveitar a juventude que se esvai, além da necessidade por sexo (que, provavelmente, está em falta com o marido).
Difícil não ficar um pouco incomodado com certos acontecimentos, a gente quase fica “envergonhado” com certas atitudes dos personagens, o que transforma o espectador em um voyeur absoluto.
Sheba é uma professora de artes na casa dos quarenta anos que se envolve amorosamente com um de seus alunos. Ela é observada e analisada por sua amiga Bárbara, uma professora de história solitária e amargurada, que nutre uma paixão obsessiva e sempre a descreve em seu diário. O livro, escrito por Zoe Heller, foi transformado em filme em 2006, protagonizado por Judi Dench e Cate Blanchett (para ler sobre o filme, clique aqui).
Li o livro em poucos dias, devorando cada página sem fazer pausa. A verdade é que a narrativa é muito simples, isso facilitou muito. Como sou apaixonada pelo filme, fiquei um pouco contaminada. Sou daquelas que gosta de criar a imagem do personagem na cabeça…mas, nesse caso, não consegui substituí-las por Judi e Cate Blanchett.
Bárbara é um personagem complexo (mais do que Sheba), é daquele tipo de pessoas que a gente ama odiar. Ela é solitária e possui uma baixa autoestima, ao mesmo tempo é vingativa, prepotente e extremamente maliciosa. Ela julga Sheba desde o momento em que ela é apresentada como nova professora na escola. Na cabeça de Bárbara, Sheba é inferior e precisa de ajuda. Para ser mais específica, da ajuda da própria Bárbara. Ao mesmo tempo, é uma senhora que implora por afeto, é uma mulher mergulhada em uma solidão tão proofunda e dolorida que deixou de ser notada pelos outros. Isso muda com a chegada de Sheba, porque Sheba a nota.
Sheba, por outro lado, é vítima da sua própria beleza e encanto. É uma mulher linda e inteligente que desperta o interesse (muitas vezes malicioso) dos outros. Ela possui o espírito de uma jovem adolescente,é uma mulher que não quis envelhecer. Ou que apenas, não se deu conta de que o tempo passou. Sua família disfuncional (um marido muito mais velho, uma filha problemática e um filho com síndrome de down) agrava ainda mais a situação. É como se Sheba não pertencesse àquele lar… E é nos braços do jovem aluno em que ela encontra refúgio. Claro que esse é um dos seus grandes atos falhos. O outro é acreditar em Bárbara.
Philomena me deixou com o coração pesado, com uma certa angústia. Não bastasse ser uma história triste, baseia-se em fatos reais. Dirigido por Stephen Frears, o filme relata o sofrimento de Philomena Lee (interpretada por Judi Dench), uma senhora que escondeu um segredo por cinquenta anos.
Em 1952, na Irlanda, Philomena foi mandada pelos pais para um convento, diziam que ela tinha cometido um grave pecado, engravidar. Sem ajuda do namorado, a jovem foi obrigada a trabalhar (praticamente como escrava) e em troca, as freiras davam a ela e a seu filho comida e moradia.
Uma dia, uma família americana visitou o convento e adotou o menino, sem sua permissão – é claro. Ao longo dos anos, Philomena buscou pela criança, sem nunca encontrar dados concretos de seu paradeiro. Ao deixar seu segredo vir a tona, Philomena desperta a curiosidade de Martin Sixsmith (Steve Coogan), um jornalista disposto a contar a sua história e ajudá-la a encontrar seu filho.
O filme mostra como o destino pode, às vezes, ser muito irônico – pra não dizer, traiçoeiro. Uma história de desencontros… mais do que isso, uma história de amor tão grande e interminável, que sobreviveu a provas mais difíceis da vida. Philomena nos questiona sobre Deus, sobre a religião, sobre a moral e sobre a igreja, como instituição. Quantas Philomenas existem por aí? Quantas delas perderam seus filhos, quantas delas viveram em profundo desespero? Impossível ser preciso.
Gostei muito do filme, mas por um personagem em especial: Martin Sixsmith. Como jornalista recém formada, me identifiquei com sua dedicação ao contar a história. Uma das principais funções do jornalista é exatamente essa: ouvir – e é engraçado como nem todos sabem fazer isso. Recontar uma história, ter sensibilidade e perceber que ali está um fato interessante, mesmo que seu texto vire, no dia seguinte, papel para enrolar peixe. Mesmo que sua história não vire um filme…Judi Dench, mais uma vez, incrível. Difícil não se emocionar com sua interpretação. Durante a cerimônia do Oscar, Rubens Ewald Filho disse que esse é o melhor trabalho dela. Pra dizer a verdade eu não concordo, mas não há como não reconhecer que esse trabalho é ‘grande. Steve Coogan não deixa por menos, também responsável pela carga dramática do filme, principalmente quando seu personagem finalmente descobre o paradeiro do filho da Philomena.
Stephen Frears, que por sinal também foi diretor em ‘A Rainha e já trabalhou com Judi Dench em Sra. Henderson Apresenta’ exibe um trabalho muito bem feito, especialmente em relação a fotografia, interessante como ele foi sábio ao não fazer da história, que é bem triste, um dramalhão qualquer e ainda assim, conseguir emocionar.
Ta aí, estou com mania de fazer listas… comecei a escrever sobre as minhas atrizes favoritas e sobre os seus filmes e deu nisso. Pra não me estender muito, escolho cinco filmes que mais gosto de cada uma.. dêem uma olhada:
Aproveitando a onda de filmes que tenho assistido com Judi Dench e Maggie Smith, resolvi escrever sobre ‘O violinista que veio do mar’, produção de 2004 dirigida por Charles Dance. [este é o primeiro filme de Dance como diretor que, aliás, é um ator conhecido e atuou em vários filmes como Alien 3 e Game of Thrones]. A história se passa na década de 1930 e conta a história de duas irmãs: Úrsula e Janet que vivem sozinhas em uma pequena residência na vila de Cornwell, norte da Inglaterra (a única visita constante que recebem é a ranzinza e cômica Dorcas, empregada que as acompanha há anos). A morosidade do cotidiano é interrompida quando elas encontram no mar um jovem desacordado e decidem levá-lo pra casa.
Depois de cuidarem de seus ferimentos, descobrem que Adreas (Daniel Bruhl) não fala inglês e provavelmente sobreviveu a um naufrágio. Janet e Úrsula passam meses cuidando do rapaz, compram roupas, o alimentam e criam uma relação de proximidade. Elas se surpreendem com sua facilidade de tocar violino e arrumam um instrumento emprestado para que ele treine todos os dias. A música de Andreas chama a atenção de Olga Daniloff (Natascha McElhone), irmã de um violinista e compositor famoso. Olga, que só estava de passagem pela cidade, convida Andreas para se juntar a ela em uma viagem. A grande oportunidade de Andreas se torna um pesadelo para Úrsula, que se apaixonou perdidamente pelo jovem.
Não há o que questionar sobre elenco: Dench e Smith são as grandes protagonistas e guiam toda a ação do filme. Independente disso, o espaço dos outros atores é respeitado: Natascha McElhone está belíssima, faz jus ao personagem que interpreta e esbanja sensualidade, assim como Daniel Bruhl (nem um pouco prejudicado pela ausência de falas e fundamental para o desenrolar da trama). Sobre a direção de Dance, percebe-se muita calma quanto ao ritmo dos acontecimentos: tudo em seu devido tempo, acentuando a realidade das velhas senhoras. Além disso, o cenário é belíssimo (bucólico, frio e silencioso) e sustenta a sensação de solidão das irmãs.
Admiro a forma respeitosa em que a velhice é representada e mais do que isso, admiro a forma realística que trataram sobre um tema bastante subjetivo: o amor. Úrsula se apaixona por Andreas e não consegue esconder o sentimento da irmã que a todo tempo, tenta protegê-la e impedi-la de se aproximar do garoto. Em uma entrevista que vi com as atrizes, Dench falava que da pureza do amor de Úrsula e sugeriu que talvez, ela tivesse algum problema mental (ocasionado pela idade). Quando vi o filme, não me pareceu que Úrsula tinha alguma doença, no meu ponto de vista ela realmente tinha se apaixonado e como todo romântico, acreditava que um dia iria se juntar ao amado.
Não fica muito claro se Úrsula teve algum marido ou namorado, quanto a Janet (que é muito mais ‘pé no chão do que a irmã’) sabe-se que ela foi casada e que o marido morreu em guerra. É possível perceber um contraponto belíssimo: a viuvez de Janet não a fez descrente no amor, mas adormeceu nela o desejo de encontrar outro homem. Úrsula, por outro lado, tem dentro de si uma paixão arrebatadora (apimentada pelo ciúme que ela sente de Olga). Muito do que li, de comentários de quem já viu o filme, tratava-se do fato de Úrsula ser velha e mesmo assim se apaixonar. (Falavam com admiração não do fato dela ter se apaixonado por um garoto: mas do fato de ter se apaixonado, simplesmente).
Só há um motivo que me deixou um pouco antipatizada com o personagem Andreas: o fato de ele ter ido embora sem avisar as irmãs. Ele comeu da comida delas, vestiu as roupas que elas lhe compraram, teve abrigo e carinho e depois, as abandonou. Sua relação com as duas me pareceu seca e no mínimo ingrata afinal, será que Andreas não percebeu que Úrsula estava apaixonada por ele? Porque ele não se deu ao trabalho de avisá-las que iria embora? Por quê não deu atenção a elas depois do show? Foi doído ver o estado em que Úrsula ficou após perceber que Andreas tinha as abandonado e ficou claro o quanto era essencial que Janet, naquele momento, se mantivesse forte e segurasse as pontas.
Sou apaixonada com esse filme desde que o vi em 2006. Assisti novamente inúmeras vezes e sempre fiquei com a sensação de que “Notas Sobre um Escândalo” é uma produção muito bem feita. É evidente que Cate Blanchet e Judi Dench levam grande parte do mérito porque são as que aparecem na telona e dão a cara a tapa. Mas não há como ficar indiferente com a direção de Richard Eyre e com o roteiro bem elaborado de Zoe Heller e Patrick Marber. O filme, a história e os próprios personagens poderiam não ser tão interessantes se não fossem realizados com tanta destreza e detalhamento técnico.
Desde a narração em primeira pessoa ao deslocamento subjetivo da câmera: Eyre conseguiu fazer com que tudo ficasse em seu devido lugar. Outro aspecto que me chama atenção é a iluminação que parece andar de mãos dadas com o desenvolvimento dramático. Nos momentos de clímax, por exemplo, onde as personagens estão em confronto, os ambientes ficam mais escuros. Quando Sheba (personagem interpretada por Cate Blanchett) faz sexo com o aluno, a iluminação recebe um tom avermelhado e as cenas na escola são em sua maioria brancas e muito claras. É importante lembrar aqui que Judi Dench e Richard Eyre já trabalharam juntos anteriormente no aclamado “Iris”, onde Judi (ao lado de Kate Winslet, Jim Broadbent e Hugh Bonneville) contou o drama da novelista Iris Murdoch.
A trama conta a história de Bárbara (Dench) uma professora de história dominadora que vive sozinha com seu gato, Portia. Bárbara executa suas tarefas com mão de ferro dentro da escola, amedronta os alunos e os colegas (talvez, por isso, seja tão solitária). Seu cotidiano muda com a chegada da professora de artes Sheba Hart (Cate Blanchett). As duas criam uma forte relação de amizade, mas a situação fica cada vez mais perigosa quando Bárbara descobre que Sheba tem um caso amoroso com um de seus alunos.
Logo no início somos familiarizados com a narrativa de Bárbara que conta como o seu dia-a-dia na escola se tornou enfadonho e sem graça até a chegada da nova professora. Sheba roubou a atenção dos alunos e dos outros professores que também foram seduzidos por sua graciosidade. Bárbara só se aproxima dela após uma briga na sala de aula (Sheba não consegue acalmar os alunos até que a Bárbara chega e impõe a ordem). Desde então as duas passaram a almoçar juntas e a dividir os segredos. Sheba convida Bárbara para um almoço em sua casa e é assim que Bárbara conhece toda a família da colega. Aos poucos a relação das duas toma um rumo doentio já que Bárbara não gosta que outros professores se aproximem da amiga. Quando ela descobre que Sheba teve um caso com um de seus alunos ela não só provoca a amiga como faz com que ela fique em uma situação de completa dependência
Eu e um colega brincávamos outro dia e dizíamos que esse filme poderia muito bem se chamar ‘Notas de uma solitária’ pois é o que define melhor a personagem de Dench, Bárbara. Gosto especialmente da maneira em que ela aparece em tela: com um aspecto que acentua sua velhice e sua rispidez. Desde as primeiras cenas percebemos o quanto aquela odiosa senhora está submersa na necessidade de encontrar alguém para lhe fazer companhia. O fato mais interessante, sem dúvidas é que toda a sua carência, converte-se em um desejo lésbico escondido. Suas carícias, seus olhares e seu desejo não são só evidenciados pela narrativa literária, mas também pelos aspetos corporais que Dench e Blanchett o fazem muito bem. Não há uma resposta concreta em cena, mas me perguntei inúmeras vezes o que teria provocado tanta dureza na vida dessa mulher.
Se há dois momentos que me agradam diante essa perspectiva (da sexualidade reprimida de uma professora idosa) e que ficam ainda mais interessantes pela forma sarcástica em que ela dirige seus diálogos (como uma maneira de se defender e de esconder toda fraqueza emocional), são: quando o gato de Bárbara morre ela aproveita-se da bondade de Sheba, pede que a amiga feche os olhos e diz: ‘Quando estávamos tristes, eu e minha amiga tínhamos o costume de fechar os olhos e acariciar uma a outra’. Sheba o faz, mas a sensação que se tem é de completo desconforto. No segundo momento, Bárbara está sozinha em casa na banheira e começa a descrever como é terrível sentir-se só e pensa: ”Gente como ela acha que sabe o que é solidão. Mas solidão, daquelas onde uma ida à lavanderia é o máximo que pode se esperar do seu fim de semana… Onde encostar o braço no cobrador do ônibus pode descarregar um choque elétrico por seu corpo… Desse tipo de solidão, ela não sabe nada.”
Todo o mistério que ronda Bárbara (que, a meu ver, é o personagem mais interessante da trama) também envolve a personalidade paradoxal de Sheba, afinal a sua jovialidade e beleza escondem o que o espectador descobre só mais tarde: o deslize de relacionar-se com um jovem de quinze anos e a família completamente desproporcional a sua aparência. Bárbara, em uma de suas cruéis anotações, ironiza a casa de Sheba evidenciando o quanto ela todo aquele cenário não combina com sua personalidade: o marido mais velho, da filha adolescente problemática e do filho com Síndrome de Down. Inesperadamente, Sheba se apaixona pelo aluno quando ele, por sua vez, não quer mais se relacionar com ela. As situações se invertem e toda a infantilidade que se espera do garoto, passa a ser vista na professora.
Toda a trama nos traz questionamentos interessantes sobre quem realmente somos e com quem estamos nos relacionando diariamente. No âmago de cada um de nos, guardamos não só os mais profundos segredos como também desejos e temores absurdos. Moldamos uma personalidade para nos adequarmos socialmente e é em consequência a essa escolha que deixamos parte do que somos escondida. Notas sobre um escândalo é um filme imperdível, daqueles que conseguem equilibrar muito bem a narrativa fílmica. Só para ressaltar, o trabalho de Philip Glass na trilha sonora é deslumbrante.
Tive uma conversa bastante produtiva com uma colega da faculdade que dizia que tem um medo enorme de envelhecer. Acho engraçado essa predisposição que nos temos de viver ansiosamente imaginando o futuro. Minha colega tem apenas 21 anos e já está pensando na velhice. Obviamente, todos nós paramos um dia da vida para pensar em como estaremos daqui há quarenta anos. O assunto surgiu porque o nosso professor explicava o conceito de âncora que dentre inúmeras coisas, traz uma reflexão sobre como o sujeito contemporâneo experimenta o tempo. Estamos vivendo em um mundo aceleradíssimo e essa nova noção, nos faz ter uma relação distinta com o passado.
Então depois da aula, minha amiga me mostrou um artigo da Elaine Brum chamado “Esses filhos perplexos diante da velhice dos pais” onde a jornalista realiza um belíssimo argumento sobre o surgimento de uma nova relação entre pais e filhos. Para Brum, a frase dos pais na década de 1970 é: “não quero incomodar meus filhos”. Mas a frase dos pais dessa geração é: “Incomodar os meus filhos? Nem me importaria. O que não quero é que os meus filhos me incomodem!”. O artigo é realmente muito bom e ela utiliza quatro filmes recentes sobre a velhice para ilustrar o texto. Um deles, o qual ela classifica como o ‘mais fraco’ é O Exótico Hotel Marigold, dirigido por John Madden. *(Os outros são: E se vivêssemos todos juntos, O quarteto e Amour).
O Exótico Hotel Marigold conta a história de um grupo de aposentados britânicos que resolvem viajar para a Índia, atraídos pela publicidade de um hotel exótico e barato. Quando chegam no lugar, descobrem que as acomodações luxuosas em que imaginavam ficar estão, na verdade, quase caindo em pedaços. O filme traz a belíssima Judi Dench no papel Evelyn, uma mulher que ficou viúva e descobriu que o marido deixou inúmeras dividas a serem pagas. Ela então vende o apartamento e vai a Índia, para tentar reconstruir a vida. A produção também traz Maggie Smith, no papel de uma mulher rabugenta e preconceituosa que precisa ir a Índia para fazer uma cirurgia no quadril.
Apesar desses dois monstros do cinema inglês, o destaque vai para Tom Wilkinson e para Penelope Wilton. Tom Wilkinson interpreta Graham, um juiz aposentado que vai a Índia para fazer as pazes com o passado e reencontrar o grande amor da sua vida: um indiano com quem se relacionou quando jovem. Os dois foram pegos enquanto transavam. Graham voltou para faculdade sem saber o paradeiro do amante. Passou a conviver diariamente com a culpa, imaginando os terríveis castigos que o companheiro poderia ter sofrido. Penélope, por sua vez, interpreta Jean, uma mulher mal humorada e amargurada com a vida. Jean e o marido (interpretado por Bill Nighy) resolvem viajar para Índia para comemorar o casamento. Ela, no entanto, não se contenta com o local, nem com as pessoas e tenta, de todas as formas, voltar para casa.
Para todos os personagens, mas principalmente para esses dois, há uma mudança brusca na vida: uma ruptura. Enquanto Graham encontra a possibilidade de viver em paz com o passado e com a própria consciência, Penélope se vê diante de uma nova perspectiva de futuro. Há também outros plots interessantes como a história de Sonny (Dev Patel), que tenta manter o hotel, apesar de não ter nenhum talento para administração, ou da história de Sunaina (Tena Desae), que não é aceita pela família do namorado (Sonny).
O filme é de uma delicadeza tamanha e apresenta um aspecto interessante: o choque de culturas. Essa dificuldade que nos temos de encarar outro país, com cores diferentes, cheiros, lugares, crenças e comidas distintas. Quanto a velhice, o filme nos impulsiona a refletir positivamente sobre o nosso futuro. Há uma passagem final da personagem da Judi Dench que eu acho sensacional e tomei a liberdade de reproduzir:
“É nossa culpa achar que somos muito velhos para mudar? Com medo da decepção, para começar novamente? Nos levantamos de manhã e fazemos o que podemos. Nada mais importa. Mas também é certo que a pessoa que não arrisca nada… não faz nada, não tem nada. Só o que sabemos do futuro é que será diferente. Mas, talvez, o que tememos é que ele seja o mesmo. Por isso devemos comemorar as mudanças. Porque, como já disse alguém, no final tudo dá certo. E se não der certo, então, acredite…é porque ainda não chegou no final.”