Lado a Lado

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Tô lendo um livro incrível cujo tema são as madrastas. Trata-se de uma análise psicológica do termo,  uma versão sobre como a sociedade as vê. O livro também tem uma longa passagem sobre os contos infantis (tipo Branca de Neve e Bela Adormecida) e como essas histórias influenciaram nossa percepção. Esse livro (em breve vou fazer uma publicação sobre ele, se chama “Madrastas, do conto de fada para a vida real”), me fez lembrar o filme Lado a Lado, um dos meus preferidos de toda a vida, protagonizado pelo Julia Roberts e pela maravilhosamente incrível diva Susan Sarandon.

Não conheço alguém que tenha o assistido e não se emocionado. O filme (produzido em 1998 e dirigido por Chris Columbus), mostra o conflito de uma família e a incompreensão dos filhos que viram seus pais passarem por uma dolorosa separação e que precisam aceitar o novo relacionamento do pai. É um filme lindo e realmente especial porque não demoniza nenhuma das partes. Não coloca nem a mãe, nem a madrasta como figuras ruins.

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Um dos levantamentos da crítica especializada foi o fato de a doença da mãe deixar de ser um aspecto secundário para se tornar principal. Como se tirasse o foco da separação e encontrasse uma justificativa simples para terminar tudo aquilo da melhor maneira possível. A Susan Sarandon e a Julia Roberts (grandes amigas na vida real) estão incríveis, como sempre. Há uma enorme carga emotiva e difícil não ficar inquieto com o conflito entre elas. As crianças roubam a cena, triste pensar que mesmo com tanto talento, a Jena Malone e o Liam Aiken andem tão sumidos.

Um filme bonito desses (com tão inteligente abordagem emocional), nos lembra que não existe regra ou formula pronta para a paternidade e a maternidade. Ninguém nasce mãe, ninguém nasce pai: torna-se. Impossível não cometer alguns tropeços pelo caminho. Nos lembra também que nenhum casamento vem com a formula da perfeição, que às vezes o amor acaba e que isso pode ser doloroso demais. O casamento acabou, mas os filhos estão aí… e precisam entender que são amados independente do que aconteça.

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Tão delicado olhar sobre o mundo feminino não nos deixa esquecer o lado do pai, interpretado por Ed Harris. Os julgamentos caindo sobre ele, as esperanças perdidas, a culpa. Em suma é um filme que me fala muito, muito além da separação e da doença… é um filme que lembra o quanto temos medo de perder e o quanto temos medo da mudança.

Jesus Henry Christ

Amo a Toni Collette e passei a amá-la mais ainda depois que vi esse filme. “A origem da vida” (título em português) é uma doce homenagem aos que não se encaixam, aos estranhos, aos “freaks”, aos marginalizados. Com uma narrativa dinâmica e sarcástica, a trama conta a história de Henry, um menino superdotado que não consegue se adaptar em nenhuma escola e que tem um desejo incontrolável de descobrir a identidade do seu pai. Em seu aniversário de dez anos, seu avô revela que Patrícia (sua mãe) fez uma inseminação artificial e que ele possui uma irmã.

Henry descobre que seu pai biológico é um professor neurótico e decide estudar na faculdade onde ele trabalha para explorar suas origens. Apesar de contrariar as vontades de Patrícia (que faz de tudo para protegê-lo), Henry se aproxima de Audrey (sua meia irmã, uma menina pouco amigável e tão estranha quanto ele). Audrey, que tem 13 anos, enfrenta um problema: seu pai escreveu sua biografia que, além de ser um sucesso, revelava sua homossexualidade.

Jesus Henry Christ

Dirigido por Denis Lee e produzido por Julia Roberts, “Jesus Henry Christ” apresenta uma bela fotografia e um delicioso clima nostálgico. A narrativa inicia-se nos anos 70 e nos contextualiza sobre a infância de Patrícia que aos dez anos, teve que enfrentar sucessivas mortes (e partidas) de entes queridos. Enquanto ela ficou cuidando do pai, um de seus irmãos decidiu sair de casa. o outro morreu de AIDS e os gêmeos morreram em um terrível acidente. Para piorar, Patrícia  viu sua mãe morrer queimada logo no dia do seu aniversário, o que lhe deu uma tremenda fobia de acender velas.

Desde que era pequena sua família tinha o costume de dizer “Jesus H. Christ” em situações desconfortáveis, o que virou um bordão e a seguiu pelo resto da vida. Quando se tornou mãe, Patrícia teve uma surpresa: seu filho nasceu falando, tinha uma memória inigualável e um dos maiores QI’s do mundo. Henry chamou a atenção da mídia e, por sua inteligência, foi aceito na faculdade.

Jesus HenryToni Collette é maravilhosa, consegue transpor todo o tipo de emoção em diálogos simples e em situações em que poderia passar despercebida. Jason Spevack e Samantha Weinstein dividem as atenções: apresentam uma química maravilhosa e encabeçam as melhores cenas. Frank Moore e Michel Sheen também são indispensáveis, acentuam o clima descontraído do filme e ajudam a balancear a dosagem dramática;

Como disse anteriormente, “Jesus Henry Christ” foge do convencionalismo e de uma maneira bem delicada (engraçada e irônica) ilustra a situação dos marginalizados. No filme também acompanhamos a situação homem branco que se comporta – e se sente  – como um negro, a da professora muçulmana que precisa aturar o desrespeito dos alunos, a da secretária brasileira que todo mundo acha que fala espanhol, a da mãe solteira, da lésbica, do neurótico e do gênio. Todos são pessoas sem “voz”, que não estão representados na mídia e que, antes de qualquer coisa, precisam se aceitar.

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Há quem critique essa intenção da produção de ser “cool” (e é compreensível). De fato há algumas situações que poderiam receber uma abordagem diferente como, por exemplo, a expulsão de Henry por heresia. Ainda assim, o filme merece a atenção e é um ótima opção de “passatempo”. Fui conquistada pelo formato, pelo argumento e pela trilha sonora – o aspecto teatral da cena final, com Toni Collette fechando as cortinas ao som de “Home Sweet Home” me deixou rendida.

FICHA TÉCNICA:
Título Original: Jesus Henry Christ
Genero: Comédia
Duração: 92 minutos.