Feliz Aniversário, La Amora!

Aniversario La Amora

O La Amora completou três anos ontem e eu fiquei me perguntando se escreveria ou não algo sobre isso. Cheguei a conclusão que três anos de blog não é pouca coisa… principalmente se eu parar para pensar nos frutos ele já me deu. A verdade é que há três anos, ao me inscrever no WordPress sem um objetivo muito claro, eu não imaginava a importância que ele teria para mim no futuro.

O La Amora surgiu como uma brincadeira, uma plataforma descompromissada onde pudéssemos escrever sobre qualquer coisa. Eu e uma colega o criamos, aliás… o nome do blog é uma brincadeira com o sobrenome dela. Os meses foram passando e ela deixou de escrever e eu continuei aqui, firme e forte. Aos poucos o nome do blog foi se relacionando ao meu e eu passei a ser “aquela menina que escreve no La Amora”.

Conheci muitas coisas através desse blog: livros, filmes… Conheci muitas pessoas também, algumas se tornaram amigos íntimos.Foi por causa do La Amora que fui convidada a uma viagem para SP para conhecer Jessica Lange, foi por causa do La Amora que conheci algumas meninas com quem criei um maravilhoso grupo em homenagem à Daniela Romo

Perdi a conta de quantas as vezes pensei em deletar o La Amora. Sou daquelas pessoas que escreve, mas que quando relê o que publicou, odeia tudo. O problema (bom, hoje não vejo mais como problema) é que não consigo mais me desvencilhar da ideia de mantê-lo no ar. Hoje tudo o que leio, tudo o que vejo e escrevo tem outro sentido. Vejo um filme e já penso no La Amora, se leio um livro… a mesma coisa.

Ainda bem que o La Amora existe.

Parabéns pra nós!

Como os nossos pais…

grávidaNesses últimos dias, certa dúvida tem rondado minha cabeça. Antes, tinha a certeza do desejo de ter filhos e hoje, já não sei mais. Conversando com alguns colegas, todos eles já pais e mães, fiquei me perguntando se seria capaz de cuidar de uma criança. Aliás, fiquei me perguntando se sou capaz de estar ligada a uma pessoa pelo resto da vida e ser para ela um ponto de apoio e segurança. Não me vejo como uma pessoa preparada para ser mãe, no fundo acho que ninguém está, aprendemos socialmente.  Nesse cenário, uns acertam mais que os outros…

O discurso de que todas as mães possuem um sexto sentido me deixa em dúvida.  Um dos livros que estou lendo, veio para quebrar (ou pelo menos para colocar em xeque) essa percepção. Em ‘O corpo do diabo, entre a cruz e a caldeirinha, Silvia Alexim Nunes vem justamente para questionar e analisar a figura feminina construída ao longo do tempo

Em um dos capítulos ela analisa a relação entre a mulher e a maternidade e afirma que até certo momento da história as duas coisas não tinham uma relação tão forte: “Até o século XVIII, não se consideravam as mães como peças chaves para o desenvolvimento e a educação das crianças. Rousseau foi um dos primeiros pensadores a problematizar a relação mãe e filho, tratando-a como a ancoragem fundamental da construção da subjetividade. Partindo do pressuposto de que a natureza humana, em sua perfeição, estava sendo corrompida por uma civilização errônea, Jean Jacques conclamou as mulheres a assumirem as funções ligadas aos cuidados com as crianças e e se tornarem verdadeiras mães.”

Ao mesmo tempo, enquanto acredito no que Alexim Nunes afirma, de que não nascemos para ser mães (nos tornamos), fico me lembrando dos diversos casos que já ouvi e que me fazem acreditar (também) na existência de uma ligação (de energia, seja lá como for) entre mães e filhos. Uma colega me contava que seu filho, antes de completar um ano, sofreu um acidente e caiu na piscina da casa. Ela encontrava-se na cozinha e sentiu um aperto forte do peito e ouviu o seu filho gritando: “Mãe!” Por um momento pensou que os cachorros poderiam ter pegado o menino e correu para o canil, foi aí que viu a proteção da piscina rasgada. Pulou na água de roupa e tudo e conseguiu tirá-lo de lá. Mas como ela o ouviu gritando se o menino ainda nem falava?

Uma conhecida me dizia que eu não fazia ideia do quanto é reconfortante observar as filhas crescendo e se desenvolvendo. Outro, cuja namorada está grávida de dois meses, dizia que já era hora de deixar uma ‘semente’ no mundo. No fundo, todos concordavam com uma questão: é trabalhoso, exaustivo – e prazeroso.

Como ainda não sou mãe, eis uma das inúmeras perguntas que rondam a minha cabeça e que ainda não posso responder.  Será que os pais possuem a noção da importância e da influência que exercem na vida do filho? Será que eles entendem que o que fazem e dizem refletem na personalidade do filho e influencia na sua vida adulta?

Estou lendo um outro livro que também está muito relacionado a este tema. Em ‘Carta ao Pai’ Kafka narra as dolorosas lembranças que tem do pai, do quanto ele foi fundamental na construção da sua personalidade, dos seus traumas, dos seus medos. Na carta, que nunca foi entregue, Kafka chega a compará-lo a um tirano e narra, com muito rancor, a relação conflituosa que teve com o pai, extremamente autoritário.

Não sei se encontrarei respostas para todas as perguntas que tenho, mas hoje, a medida em que vou envelhecendo, tem se tornado mais fácil aceitar os erros dos meus pais. É mais fácil me colocar no lugar deles e entender que a vida (e o futuro) não são presenteados de bandeja. Somos responsáveis por construí-los e enquanto percorremos o caminho, sofremos algumas falhas. Espero não estar condicionada às atitudes dos meus pais, mas quanto mais eu cresço e me conheço, percebo que tenho muito deles (seja pela presença da minha mãe ou pela ausência do meu pai)… no fundo sou como eles, sou como os meus pais.

E, mãe… se você estiver lendo, saiba que eu te amo muito.

10 filmes sobre ‘Racismo

Racismo

outra-historia-americana-poster021)A outra história americana: Esse é um filme impressionante, tanto pela trama quanto por questões técnicas. Dirigido por Tony Kaye e protagonizado por Edward Norton, o filme conta a história de Derek (Norton), um homem que liderou, durante anos, uma gangue racista. Totalmente desgovernado, Derek passa a compartilhar mensagens de ódio, traz problemas para a família e se envolve em um assassinato. Após três anos na prisão, Derek sai em liberdade com uma cabeça totalmente diferente da que entrou, mas percebe que seu irmão mais novo (interpretado por Edward Furlong) seguiu seus passos e está prestes a liderar um novo grupo racista. Diálogos densos, fotografia incrível. Emocionante.

Índice2) Ao Mestre com Carinho: Filme de 1967, protagonizado Sidney Poitier e inspirado na autobiografia de E.R. Braithwaite. Na trama, Poitier interpreta Mark Thackeray, um engenheiro frustrado que recebeu um convite para ministrar aulas em uma escola pública.  Thackeray logo se desentende com a classe, que possui um comportamento agressivo e não o respeita. Diante da situação o professor decide não só ensiná-los as matérias escolares, como também dar-lhes uma lição de vida. Socialmente marcante, ‘Ao mestre com carinho’ é um obrigatório. Dirigido, roteirizado e produzido por James Clavell.

3)  Histórias Cruzadas: Baseado na obra de Kathryn Stockett, o filme se passa na Histórias Cruzadasdécada de 1960, no Mississipi.  Na trama, Skeeter (interpretada por Emma Stone) é uma jornalista inconformada com o racismo sofrido por duas empregadas negras, Aibileen (Viola Davis) e Miny (Octavia Spencer). Skeeter começa a escrever um livro sobre o cotidiano das empregadas e entrevista outras mulheres que passaram por situações semelhantes. O livro, chamado ‘The Help’, torna-se um escândalo e choca a vizinhança conservadora onde Skeeter vive. Doce e triste, um filme imperdível. Dirigido e roteirizado por Tate Taylor.

4)   Preciosa: Impossível fazer uma lista dessas, sem citar esse filme. Ainda não que não seja um dos meus preferidos – acho muito exagerado, reconheço que 19962710.aspPreciosa conta com atuações incríveis. Dirigido por Lee Daniels, o filme conta a história de Claireece “Preciosa” Jones (Gabourey Sidibe), uma adolescente negra e pobre de 16 anos que sofre abusos sexuais tanto do pai quanto da mãe.  Preciosa, que tem um filho com síndrome de down, descobre estar novamente grávida. Para não ser expulsa do colégio, ela busca ajuda na orientadora social, Sra. Weiss (interpretada por Mariah Carey).

5) Mississipi em Chamas: Denso, dramático e assustador. Filme de 1988, dirigido por Alan Parker. Na trama, Gene Hackman interpreta Rupert Anderson e Willem Dafoe vive Alan Ward, dois agentes do FBI que investigam o assassinato de três Mississipiativistas. A trama se passa na década de 60 e é um retrato sobre as atrocidades cometidas pela Ku Klux Klan. Apesar de muito premiado (entre eles: Oscar, BAFTA e Globo de Ouro), o filme foi criticado por sua inconsistência histórica já que apresentou os agentes do FBI como heróis, quando na verdade, o FBI pouco defendeu os civis da região.

6) 12 Anos de Escravidão: Baseado em um romance autobiográfico, “12 anos de escravidão” conta a história de Solomon Northup, um homem negro e livre que viveu em Nova York no século XIX. Em 1841, Norhtup (que era um violinista conhecido), recebeu um contive: viajar para Washington, tocar em um circo e ganhar qcartaz-12-anos-de-escravidc3a3ouase o triplo do seu salário. Durante a viagem, o músico é sequestrado e vendido como escravo.

Obrigado a trabalhar em uma plantação em Louisiana, Norhtup tenta fazer contato com sua família de todas as formas. Enquanto não consegue, presencia a barbárie e a violência sofrida por outros negros, que encontram-se em uma situação parecida com a sua. Em “12 anos de escravidão”, Steve McQueen (também diretor em Shame) toca em um ponto dramático da história da humanidade, é difícil (quase impossível) não se sentir sensibilizado quando o assunto é escravidão. Famílias separadas, dor, humilhação psicológica e física, racismo e tortura: um misto de ações e sentimentos  que fazem o estômago embrulhar. Já vimos muitas histórias sobre esse temahomo-sapiens-1900-dvd, mas ’12 anos, diferente de Django Livre, por exemplo, traz uma história sincera sobre o terror, sobre o lado mais obscuro do ser humano. E aliás, acho fundamental esse papel que o cinema cumpre, de nos lembrar – ou melhor, de nos fazer ter consciência – da nossa história.

    7) Homo Sapiens 1900: Imperdível. O documentário, de 1998, dirigido por Peter Cohen, constitui-se de uma narrativa (em forma de colagem, com fotos e vídeos) sobre a ‘eugenia’, ou seja, sobre o aprimoramento da raça humana. Homo Sapiens 1900 demonstra como a ciência e diversos estudos científicos estão marcados pelo racismo. Além disso, Cohen mostra como o facismo e o nazismo, como a Europa e o próprio EUA se basearam nessas teorias. Os nazistas, por exemplo, propagavam a ideia de ‘limpeza de pele’, de físicos perfeitos e da superioridade da raça ariana. 

Hotel-Rwanda  8) Hotel Rwanda: Filme de 2004, dirigido por Terry George. A trama reconstrói o Genocídio em Ruanda, ocorrido em 1994, época em que o conflito entre os hutu e os tutsi causou a morte de mais de 500.000 pessoas.  A ‘guerra’ entre os dois grupos começou quando o presidente Juvenal Habyarimana foi assassinado em um atentado (logo após assinar um acordo de paz). Na história, Don Cheadle interpreta Paul, dono de um hotel que, diante da possibilidade de um massacre, tenta proteger a família. Nesse mesmo período, o hotel de Paul acaba se tornando abrigo para refugiados (não só civis, mas também militares e políticos).

Adivinhe.Quem.Vem.Para.Jantar.DVDRIP.Xvid.Dublado9) Adivinhe quem vem para jantar:  Spencer Tracy + Katherine Hepburn + Sidney Poitier = Clássico, com interpretações incríveis e, com uma história emocionante. Filme de 1967, dirigido por Stanley Kramer. Na trama, Hepburn e Tracy interpretam um casal que recebe em sua residência o noivo da filha, John Prentice (Sidney Poitier).  O casal se choca e se incomoda com a cor de Prentice, que apesar de ser um bom homem, não corresponde aos ‘padrões’ impostos pelos sogros. O filme tem um roteiro ímpar, com toques de ironia que deixam os diálogos e as situações mais interessantes e cômicas.

a-cor-purpura-alice-walker_mlb-f-216554592_5922     10) A Cor Púrpura: Filme de 1985, de Steven Spielberg. Após ser violentada pelo pai, Celie (interpretada por Whoopi Goldberg), uma jovem de quatorze anos, dá a luz a duas crianças. Separada dos filhos e da irmã, que tanto ama, Celie começa a escrever cartas (primeiro para Deus e depois para a Natalie, uma missionária). Solitária e extremamente triste, Celie – com a ajuda de Shug e Sophia (Oprah), começa a perceber que pode mudar seu destino.

 

Histórias Íntimas

Histórias Intimas A primeira vez em que ouvi falar em Mary del Priore foi há dois anos atrás. Ela estava presente em uma edição da Bienal do Livro em Belo Horizonte para comentar sobre seu lançamento. Por infelicidade não pude vê-la, mas guardei seu nome e desde então – também por indicação de uma professora, acompanho suas publicações.

Terminei outro dia a leitura do “Histórias Íntimas” onde Priore conta e analisa a sexualidade e o erotismo na história do Brasil. Que livro incrível, Priore apresenta uma dinamismo e constrói uma narrativa gostosa através de uma historiografia muito bem feita. A autora fala sobre aborto, pedofilia, educação sexual, mídia, carnaval, masturbação, feminismo, censura (…), e apresenta diversos aspectos sociais em um trabalho sensível e corajoso.

Com um olhar crítico, ela revela as mudanças comportamentais ao longo dos anos. Antigamente, por exemplo, era comum andar nú, fazer sexo e defecar em publico. Por quê e como a educação sobre o corpo se modificou tanto? Como o homem foi proibindo o que não era decente? Afinal, quem determinava o que era decente ou não? “Antes malcheirosos e sujos, hoje, perfumados”. Difícil sintetizar quinhentos anos de história, por isso, fica muito claro que o trabalho de Priore é uma pincelada sutil sobre a história.

Como sempre faço, durante a leitura realizei algumas anotações, marquei detalhes que me chamaram atenção.  Divido com vocês as minhas anotações, um pequeno resumo do primeiro capítulo, “Da Colônia ao Império”. Prometo compartilhar depois as outras anotações.

Logo na introdução, Priore levanta uma reflexão inquietante. Ela questiona o leitor sobre a construção da sociedade brasileira em que as práticas sexuais, antes marginalizadas, se tornaram comuns: “As bancas de jornais exibem mulheres frutas. Nas propagandas, casais seminus lambem os beiços e trocam açucaradas. Nas frentes das câmeras segredos são revelados sem constrangimento. A internet abriu um universo de possibilidade para o sexo. Da pedofilia à prostituição, tudo se encontra no mercado virtual (…) Segundo pesquisas do IBGE, o número de casamentos caiu. Além disso, aumento a quantidade de mulheres mais velhas que se unem a homens mais jovens e elas procriam mais tarde, também. Se a ideia de interioridade dava consciência à vida dos indivíduos no passado, hoje, vivemos apenas o instantâneo”.

“Nas igrejas, pinturas demonstravam os diabos que recebiam as almas pecadoras, nuas em pelo, com golpes de pá e tridentes. Nos livros de oração com imagens, o justo morria sempre de camisola”

Imagem

Capítulo 1: “Da Colônia ao Império”

Durante a Colônia, a noção de privacidade ainda estava em “gestação” – foi construída em um meio instável e precário. A ideia de privacidade e intimidade dos homens do século XVI e XVIII se diferenciava profundamente da nossa. O sentimento de coletividade sobrepunha-se ao de coletividade: fazer sexo e andar nú eram práticas que correspondiam aos ritos estabelecidos pelo grupo. “Privado” era um conceito familiar, em 1718, o jesuíta Raphael Bluteau – um dos primeiros a usar o termo, escreveu: “Privado, uma pessoa que trata só de sua pessoa, de sua família e de seus afazeres domésticos”. Palavras como “vergonha” e “pudor” não existiam no dicionário. Muitas pessoas andavam nuas, sobretudo os índios e os escravos.

1500: Desabrochar do Renascimento da Europa e a chegada dos portugueses no Brasil. Na pintura, o humanismo colocava o homem como centro do mundo e não mais Deus, descobrindo-se os corpos nus. “Nu que hoje associamos ao erotismo, mas os nossos avós não o faziam”.

Os padres e os jesuítas, desde o início da colonização, lutavam contra a nudez e contra aquilo que ela simbolizava. Para os jesuítas, a nudez dos índios era igual a dos animais, afinal, assim como os bichos, os índios não tinham vergonha ou pudor do natural. Anchieta afirmou que as índias, além de andarem peladas, não se negavam a ninguém. “Comparadas com as mulheres que nas gravuras representavam o continente asiático ou a Europa, nossa América era nua, não porque sensual, mas porque despojada, singela e miserável”.

Imagem“A associação entre nudez e luxuria provocava os castigos divinos. Ameaçavam-se as pecadoras que usavam decotes. Eis por que a luxúria foi associada a uma profusão de animais imundos: sapos, serpentes ou ratos que se agarravam aos seios ou ao sexo das mulheres lascivas. Nas igrejas, pinturas demonstravam os diabos que recebiam as almas pecadoras, nuas em pelo, com golpes de pá e tridentes. Nos livros de oração com imagens, o justo morria sempre de camisola. O pecador, despido! Enterravam-se as pessoas vestidas, para ressuscitassem com roupas que as identificassem”.

Os seios: As chamadas “tetas” só tinham uma função, a produção do leite: “Acreditava-se que o sangue materno cozinhava com o calor do coração, tornando-se branco e leitoso.” Os seios não eram vistos como algo sensual, mas algo ligado ao pudor da maternidade. Ao longo dos anos os seios começaram a ser cobertos: “E isso até nas imagens sacras. Estátuas da Virgem Maria em estilo barroco, antes decotadas, ou a própria Virgem do Leite- que antes expunha os bicos – desaparecem de oratórios e igrejas. Nossa Senhora passa a cobrir-se até o queixo”.

Banho: Nas civilizações antigas o banho estava associado ao prazer: vide as termas romanas. Os primeiros cristãos quiseram acabar com a frequentação (aos conhecidos “banhos bordéis”), religiosos eram proibidos de comparecer a esses locais (…). Brasil: Enquanto os índios davam um exemplo de higiene, os europeus eram impedidos de nadarem nus, eram não só perseguidos como também obrigados a pagarem multas. Não tomavam banho, “as películas nauseabundas, que os antigos acreditavam funcionar como verniz que atuava contra doenças, na verdade bloqueava as trocas aéreas, necessárias ao organismo”.

“Hábitos de higiene, hoje associados ao prazer físico, eram inexistentes. Entre os habitantes da América portuguesa, a sujeira esteve mais presente do que a limpeza”. Rostos, mãos, braços, peitos e pernas raramente recebiam uma lavada. Os quartos (ou leitos) raramente eram abertos ou purificados,  também não ficavam expostos ao sol – as camas ficavam úmidas de suor.

Perfume: As mulheres usavam perfumes que remetiam a odores de animais, “haviam neles um papel sexual que acentuava a ligação entre as partes íntimas e o odor”. Ou seja, o perfume não era usado para mascarar o cheiro, mas para sublinhá-lo. Os cheiros íntimos agradavam.  O poeta Gregório de Matos, por exemplo, chegou a criticar a mulher que se lavava antes do ato sexual:

“Lavai-vos quando o sujeis
 E porque vos fique o ensaio
Depois de foder lavai-o
 Mas antes não o laveis”
 

(1790) Na Europa esse conceito foi se transformando, o odor forte, considerado um arcaísmo, se tornou coisa de roceira e de prostitutas velhas. Aqui a sensibilidade ao cheiro também foi se instalando, há registro de processos de divórcio, por parte de cônjuges que não aguentavam o odor do parceiro. Apesar da sujeira estar em toda parte, as pessoas apontavam-na com o dedo e começavam a se incomodar. Sobretudo, defecar e urinar em público, expondo as partes íntimas, chocava.

brasill

As casas: As moradias era bonitas por fora, mas raramente eram limpas por dentro. Os aposentos eram varridos por uma vassoura feita de bambu. Água no chão? Nunca. “A fim de tornar os quartos toleráveis e deles expulsar o mau cheiro, costumavam usar substâncias odoríferas antes de dormir”. Penicos estavam por toda a parte e seu conteúdo era jogado na ruas e praias. A privada era um luxo que ninguém tinha. “Entre nós o penico vigorou até o século XIX, empestando o ambiente”.

Chaves eram artefatos caríssimos, portanto as portas não ficavam trancadas. As camas eram um elemento de ostentação e traduziam um alto nível de vida. Na hora da intimidade, os casais se sentiam mais a vontade nos matos, praias e campos. Longe dos olhos dos outros.

O Corpo:  Os cabelos femininos, conhecidos como “crinas” eram altamente valorizados, assim como hoje. O corpo devia ser “entre o magro e o gordo, carnudo e cheio de suco”. Morenice e robustez eram padrões de beleza.