Para finalizar o ciclo com as publicações sobre as minhas atrizes mexicanas favoritas (aliás, um ciclo meio involuntário, que começou sem eu perceber), vou falar sobre a incrivel María Sorté. Antes, só para situar, mencionei Daniela Romo, Jacqueline Andere, Helena Rojo e Diana Bracho. A primeira novela que assisti com Sorté foi “O Privilégio de Amar”, onde ela linda e ruivíssima, interpretava Vivian, uma mulher poderosa, que não só defendia Cristina (a mocinha) como também representava uma ameaça ao império construído pela Luciana Duval.Outro dia eu estava vendo um vídeo no Youtube, onde ela (em um testemunho religioso) contava um pouco sobre sua vida e tragetória. O “Sorté” foi um apelido que recebeu quando estreou nos palcos. Um dia, logo na seu primeiro ensaio, Maria (que tem como sobrenome de batizo Harfuch Hidalgo) sentou-se em uma cadeira quebrada e caiu. Os companheiros disseram: “Isso é sinal de sorte”, e começaram a chamá-la assim, Maria Sorte – com o tempo, a mídia fez o seu trabalho, adicionando um acento no e e mudando a pronúncia.
Sorté nasceu em uma família pobre de Chihuahua e foi criada por mãe solteira. Logo depois de formar-se, começou a ministrar aulas em pequenas escolas municipais com o intuito de ajudar nas despesas. Seu pai faleceu quando ela tinha apenas 4 anos, era alcoólatra. Um de seus irmãos foi assassinado e o outro suicidou. Sua mãe faleceu quando ela estava iniciando a carreira e foi assim que ela passou a cuidar do irmão mais novo. No video, Maria contou que chegou a passar fome e por situações de miséria. Depois se mudou para a capital e, resolveu fazer um teste com uma amiga.
Conheceu uma companhia de teatro, onde começou a fazer pequenas participações em peças autorais e com poucos recursos. Logo foi convidada a fazer filmes e, posteriormente, novelas. Seu marido faleceu quando interpretava Vivian em O Privilégio de Amar, um de seus papéis mais reconhecidos. Ela conta que chegou a sepultar o marido e poucos dias depois, teve que voltar a trabalhar: “Não podemos esquecer as dores, porque todos sofremos perdas muito grandes, mas de alguma maneira temos que continuar nosso trabalho e o que fazemos na vida”
Colorina (1980) e El Malefício (1983) foram grandes sucessos, mas foi com “Mi segunda Madre (1989) que María Sorté estorou. Ficou tão, tão conhecida que chegou a protagonizar a novela seguinte “De frente al sol”. E, De frente al Sol foi tão popular que teve uma continuação “Mas allá del puente” (1992), onde ela revive a mesma personagem: Alicia Sandoval. Na novela, diversas cenas comprovam a popularidade do personagem. Nas tomadas externas, María Sorté era quase engolida pelo público, que enlouquecidamente, a gritava.
Ao longo dos anos, Sorté conquistou um publico fiel, participou de grandes novelas (como Amor Real e Entre el Amor y el ódio) e a nomeação de “primera actriz”. Bom, como não poderia ser diferente (parece moda lá no México) María Sorté também é cantora! Lembro que cheguei a baixar diversas músicas dela e que existe três que não saem da minha playlist: “Mas allá del puente”, “Esperame una noche” e “De frente al sol”. Isso mesmo, ela é a autora das músicas que tocavam na abertura das novelas. (A música “Sola” também é ótima!)
Pouco sei sobre sua vida pessoal. María Sorté foi casada durante vinte e dois anos com o politico Javier Garcia Paniagua, com quem teve dois filhos. Depois que ficou viúva, deu uma entrevista dizendo que não tem interesse em se relacionar com mais niguém: “Prefiero quedarme sin pareja. El señor García Paniagua fue el ‘amor de mi vida’, con muchos problemas, pero lo amé y ahora Dios ha llenado mi vida”.
Confessou que, no auge da carreira, sofreu uma grave crise de depressão que a afastou dos palcos e dos próprios filhos. Disse que na juventude tinha uma enorme gana por fama e dinheiro e que, mesmo com sucesso e reconhecimento, chegava em casa aos prantos. Sempre queria mais e nada era suficiente. Em certo momento de sua vida, começou a ter medo de tudo, não queria deixar que os filhos saíssem ou se afastar do marido. Em uma entrevista, onde ela recebe o programa Despierta América em sua mansão, Sorté conta que só conseguiu se recuperar depois que mudou de religião
Marcante por seus vestidos de cores fortes (ou brilhantes), por suas unhas enormes e pela preferência pelo vermelho, Sorté acabou criando um estilo próprio e, convenhamos, bem mexicano. Diferente da Diana Bracho e da Daniela Romo, ela é uma adepta e defensora das cirurgias plásticas e afirma que não tem objetivo de parar de mexer no seu rosto, não enquanto “precisar”.

Maria Sorté, assim como Helena Rojo é uma daquelas artistas que nunca sai do ar – que volta e meia está em uma produção nova. A última foi “La Tempestad” onde contracenava ao lado de ninguém mais, ninguém menos que Daniela Romo! Na trama, Sorté era Beatriz, a mãe adotiva de Marina. Pois, Marina tem uma irmã gêmea e as duas são filhas de Mercedes (Romo), que teve suas crianças roubadas. Um ótimo dramalhão, não? Ela também chegou a contracenar com Diana Bracho em Fuego em la Sangre, aqui, Bracho era a vilã e Sorté protegia as “mocinhas”.
Entre el amor y el ódio foi uma das minhas novelas preferidas, daquelas que eu assistia quando saia correndo da escola para não perder nenhum capítulo! César Evora e Susana González eram os personagens principais – e, como raramente acontece, não só tinham química como também formavam um casal super interessante. Acho que, pela primeira vez, me apaixonei tanto pela mocinha, quanto pelo mocinho.
Mas, o vilão dessa novela, ah! Não tinha igual. “Maciel”, um homem sem escrúpulos, tinha uma paixão doentia por Maria Magdalena (Sorté) e fazia de tudo para tirar qualquer um que entrasse no seu caminho. No início da trama ele se fingia de bom com o intuito de conquistá-la, chegou a instalar câmeras escondidas no seu quarto, para vigiar seus movimentos e claro, com segundas intenções. Finalmente, depois de bolar diversos planos, de assassinar vários personagens (inclusive, de manter um cadáver no seu quarto), Maciel (que era um fã incondicional de Napoleão) força um casamento com Maria Magdalena, onde finge proteger seus filhos, a domina financeiramente e fisicamente. É um dos personagens mais loucos e geniais que já vi, e Sorté tem grande destaque na trama, sendo um ponto crucial na conclusão da história.
Maria, Pescadera: Na segunda temporada de Mujeres Asesinas, Sorté protagoniza um dos episódios mais legais. No episódio ela interpreta uma mulher extremamente pobre, que precisa trabalhar vendendo peixes para continuar a bancar os tratamentos fitoterápicos da filha deficiente. O problema é que seu chefe é um cara folgado, que vive a assediando sexualmente e que a paga muito pouco. Maria começa a ter fortes dores nas mãos e precisa de uma licença médica, mas para isso precisa passar pela aprovação de uma fiscal (que tem um caso com o chefe e morre de ciúmes dela). É claro que ela não consegue e para piorar, é acusada injustamente de roubo. Com tantas “contras”, Maria acaba tendo um ataque nervoso e mata, sem querer, a fiscal da loja.
El Secreto de Alejandra: Uma novela controversa e polêmica. Tão polêmica que foi praticamente cortada antes da metade (se não me engano, a novela mais censurada pela Televisa) e acabou com apenas 25 capítulos. A trama falava sobre doação de órgãos, e Sorté interpretava duas personagens: Alejandra e María, que eram idênticas, mas que não tinham parentesco (meio Orphan Black, não?). Maria era uma atriz sem sucesso, que vivia ao lado de um marido violento. Alejandra, por outro lado, era uma milionária que estava em busca de um doador de órgãos para filho.
Alejandra não podia fazer essa papel porque estava com câncer terminal e então, pede para trocar de lugar com María. Na época a SEGOB (uma secretaria do governo mexicano) enviou uma carta à emissora ordenando que a novela fosse retirada imediatamente do ar. Com a correria para acabar, os produtores decidiram transmitir uma nota no fim do último capítulo onde diziam: “Ojala que con el Secreto de Alejandra hayamos logrado despertar una inquietud de caridad en los corazones de la gente. Si nuestras conciencias dormidas despertaran, habremos cumplido el principal objetivo de esta telenovela: La donacion de nuestros organos. Con nuestra muerte, salvemos otras vidas!