Chic!

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Fanny Ardant merecia um meme da página “Dias de Cinefilia”, daqueles em que os criadores da página brincam que certos atores fazem filmes “cult e para o povão”. Digamos que “Chic!” é para o povão, mesmo tendo como cenário a alta costura francensa. Esse filme me lembrou um pouco “O Diabo Veste Prada”, mas com um toque muito mais romântico, mais bobinho e… pra falar a verdade, bem inverossímil. Dirigido por Jérome Cornuau e lançado em janeiro deste ano, Chic! conta a história de Alícia Ricosi, uma estilista trilhonária e famosa que perdeu a inspiração por sentir falta de um amor.

Alícia tem uma assistente bem próxima, Hélene (interpretada por Marina Hands), que percebendo a crise da chefe, passa a procurar alguém por quem ela possa se apaixonar. Alícia se encontra com vários caras mais jovens e bem apessoados, mas nenhum lhe desperta interesse. Até que, depois de uma festa, ela acidentalmente conhece um paisagista e cai de joelhos por ele. É claro que o paisagista, Julien (Éric Elmosnino) não está nem aí para o mundo da moda, ele desconhece a fama de Alícia e tem certo interesse por Helene.

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O filme é até bonitinho, mas não conseguiu me agradar. Na verdade não consegui engolir a ideia de ver Fanny Ardant como uma mulher implorando por amor, e entregando o império que construiu na mão de homem que não dá a mínima por ela. Mas difícil foi acreditar que ela relaciona a ele toda a sua inspiração e paixão pelo trabalho, como se sem um homem, não conseguisse seguir em frente. Chic bebe muito na fonte do conto da Cinderela… Uma pessoa rica se apaixona por uma pessoa pobre e larga tudo para viver um amor verdadeiro…

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00Escrever é o que me dá prazer. Desde sempre. E eu não poderia estar mais feliz com a minha profissão, graças a Deus. Recentemente fui convidada a escrever sobre moda – um assunto do qual não estou familiarizada e que, de certa forma, não me desperta interesse. Tenho estudado, visito diariamente sites de comportamento e beleza, que ensinam qual é a melhor forma de se portar e se vestir, que te inspiram e ao mesmo tempo, te moldam.

Ando dividida, essa é a verdade. Depois de tanto ler e estudar, passei a ter a convicção de que o mundo da moda é muito, muito maior as pessoas imaginam (Ou melhor, do que eu imaginava). Existe uma história e um valor atrás das passarelas, daquelas mulheres lindas e magras usando e exibindo roupas caríssimas. Não é só um jogo de influências, é arte… vida. Assim como a literatura, o cinema e o jornalismo, para mim, significam vida.

Ao mesmo tempo, diante de frases e textos tão pitorescos como: “Não use essa roupa se você não estiver em forma” ou “X atriz é o exemplo que você deve seguir”, sinto uma detestável ausência de… como eu poderia chamar? Talvez de, ‘valor humano’. E tenho até vontade de rir daquelas figuras esdrúxulas, luxuosas e famosíssimas que estampam os tabloides. Os ricos gastam milhões por exclusividade, os famosos se popularizam e enriquecem ao reproduzir e fortalecer uma indústria esteticamente cheia, mas com pouco valor humano.

E nesse redemoinho, no meio da indústria e dos famosos estamos nós: o povo, a massa, os que não tem exclusividade, nem nome, nem espaço, nem identidade. Somos uma mistura, um grito de desejo de ‘ser’ e de ‘querer ter’. Somos e… me desculpem, mas é ridículo… somos aquela menina que trabalha na lanchonete durante 30 enormes e pesarosos dias, para comprar um Louboutin igual ao que a personalidade x usa. Quer dizer que uma atendente de lanchonete não pode ter um Louboutin? Claro que pode, não é disso que eu tô falando, tô falando dessa ânsia que nos cega, que nos faz querer ser e parecer com um modelo, com uma concepção pré-fabricada e inalcançável (e não como nós mesmos….)