Como os nossos pais…

grávidaNesses últimos dias, certa dúvida tem rondado minha cabeça. Antes, tinha a certeza do desejo de ter filhos e hoje, já não sei mais. Conversando com alguns colegas, todos eles já pais e mães, fiquei me perguntando se seria capaz de cuidar de uma criança. Aliás, fiquei me perguntando se sou capaz de estar ligada a uma pessoa pelo resto da vida e ser para ela um ponto de apoio e segurança. Não me vejo como uma pessoa preparada para ser mãe, no fundo acho que ninguém está, aprendemos socialmente.  Nesse cenário, uns acertam mais que os outros…

O discurso de que todas as mães possuem um sexto sentido me deixa em dúvida.  Um dos livros que estou lendo, veio para quebrar (ou pelo menos para colocar em xeque) essa percepção. Em ‘O corpo do diabo, entre a cruz e a caldeirinha, Silvia Alexim Nunes vem justamente para questionar e analisar a figura feminina construída ao longo do tempo

Em um dos capítulos ela analisa a relação entre a mulher e a maternidade e afirma que até certo momento da história as duas coisas não tinham uma relação tão forte: “Até o século XVIII, não se consideravam as mães como peças chaves para o desenvolvimento e a educação das crianças. Rousseau foi um dos primeiros pensadores a problematizar a relação mãe e filho, tratando-a como a ancoragem fundamental da construção da subjetividade. Partindo do pressuposto de que a natureza humana, em sua perfeição, estava sendo corrompida por uma civilização errônea, Jean Jacques conclamou as mulheres a assumirem as funções ligadas aos cuidados com as crianças e e se tornarem verdadeiras mães.”

Ao mesmo tempo, enquanto acredito no que Alexim Nunes afirma, de que não nascemos para ser mães (nos tornamos), fico me lembrando dos diversos casos que já ouvi e que me fazem acreditar (também) na existência de uma ligação (de energia, seja lá como for) entre mães e filhos. Uma colega me contava que seu filho, antes de completar um ano, sofreu um acidente e caiu na piscina da casa. Ela encontrava-se na cozinha e sentiu um aperto forte do peito e ouviu o seu filho gritando: “Mãe!” Por um momento pensou que os cachorros poderiam ter pegado o menino e correu para o canil, foi aí que viu a proteção da piscina rasgada. Pulou na água de roupa e tudo e conseguiu tirá-lo de lá. Mas como ela o ouviu gritando se o menino ainda nem falava?

Uma conhecida me dizia que eu não fazia ideia do quanto é reconfortante observar as filhas crescendo e se desenvolvendo. Outro, cuja namorada está grávida de dois meses, dizia que já era hora de deixar uma ‘semente’ no mundo. No fundo, todos concordavam com uma questão: é trabalhoso, exaustivo – e prazeroso.

Como ainda não sou mãe, eis uma das inúmeras perguntas que rondam a minha cabeça e que ainda não posso responder.  Será que os pais possuem a noção da importância e da influência que exercem na vida do filho? Será que eles entendem que o que fazem e dizem refletem na personalidade do filho e influencia na sua vida adulta?

Estou lendo um outro livro que também está muito relacionado a este tema. Em ‘Carta ao Pai’ Kafka narra as dolorosas lembranças que tem do pai, do quanto ele foi fundamental na construção da sua personalidade, dos seus traumas, dos seus medos. Na carta, que nunca foi entregue, Kafka chega a compará-lo a um tirano e narra, com muito rancor, a relação conflituosa que teve com o pai, extremamente autoritário.

Não sei se encontrarei respostas para todas as perguntas que tenho, mas hoje, a medida em que vou envelhecendo, tem se tornado mais fácil aceitar os erros dos meus pais. É mais fácil me colocar no lugar deles e entender que a vida (e o futuro) não são presenteados de bandeja. Somos responsáveis por construí-los e enquanto percorremos o caminho, sofremos algumas falhas. Espero não estar condicionada às atitudes dos meus pais, mas quanto mais eu cresço e me conheço, percebo que tenho muito deles (seja pela presença da minha mãe ou pela ausência do meu pai)… no fundo sou como eles, sou como os meus pais.

E, mãe… se você estiver lendo, saiba que eu te amo muito.