Nunca pesquisei mais a fundo sobre a história do Lima Barreto, e às vezes, com essa minha cabeça fraca, o confundia com outros autores. O pouco que sei sobre ele é que foi neto de escravos, que não foi um escritor reconhecido quando vivo, que era alcoólatra, que foi internado em uma instituição psiquiátrica e que morreu jovem, com apenas 41 anos.
Há alguns meses estou lendo uma pequena coleção de crônicas do autor, realizada pela Folha de São Paulo. Fiquei muito (positivamente) surpresa com os textos e impressionada com o fato de Lima Barreto denunciar certas situações sociais que se repetem nos nossos tempos. Quero dizer, é estranho pensar que os textos críticos dele, publicados em 1918, continuam tão atuais.
Ao mesmo tempo lê-lo é ser transportado para um Rio de Janeiro de cem anos atrás, onde as crianças brincavam nos jardins, onde os jovens andavam de bondinhos e as moças estudavam para serem normalistas… É realmente engrandecedor ler suas denúncias contra o racismo, contra a corrupção, suas críticas atentas aos serviços públicos, sobre o seu carinho em relação ao carnaval…
P.S – Para falar a verdade, sempre me simpatizei com Lima Barreto, mesmo tendo lido tão pouco suas obras. Adoro Triste fim de Policarpo Quaresma, foi uma das minhas leituras do ensino médio quando estudávamos o pré-modernismo na escola. Depois comprei o livro e reli em outros momentos…
– Lima Barreto e as mulheres –
Como eu não sabia desse lado jornalista do Lima Barreto e não fazia ideia de seus posicionamentos sociais, fiquei realmente impressionada com a sua concepção em relação às mulheres… São várias as crônicas em que ele critica a condição feminina, ora a favor das mulheres assumirem cargos públicos, ora ironizando um livro que diz que elas nasceram para ser boas esposas, ora defendendo as donas de casa e o divórcio…Em uma de suas crônicas, por exemplo, ele denuncia a violência doméstica:
“Nós já tínhamos os maridos que matavam as esposas adúlteras, agora temos os noivos que matam as ex-noivas. De resto, semelhantes cidadãos são idiotas. É de supor que quem quer casar deseje que a sua futura mulher venha para o tálamo conjugal com a máxima liberdade, com a melhor boa-vontade, sem coação de espécia alguma, com ardor, com ânsia e grandes desejos: Como é que castigam as moças que confessam não sentir mais pelos namorados amor ou coisa equivalente? […] O esquecimento de que elas são, como todos nós, sujeitas a influências várias que fazem flutuar as suas inclinações, as suas amizades, os seus gostos, os seus amores, é coisa tão estúpida que só entre selvagens deve ter existido.”