Cara, eu não consegui dormir essa noite! Passei a madrugada vendo os episódios da série O Exorcista, morrendo de curiosidade e de medo (com os pés bem cobertos e sentindo calafrios). A merda é que eu viciei e confesso que odeio começar a assistir série assim, “no meio”, porque é um saco ficar esperando por episódios novos – resumindo, eu já to louca pro próximo! (Há muito tempo eu não sentia isso em relação a séries, e dá medo mesmo… mas não tanto! HAHA). Dos cinco episódios que vi, não me decepcionei… uma trama bem amarrada, com várias referências ao clássico e momentos de acelerar o coração. A série é ambientada em Chicago e nos apresenta Tomás Ortega (interpretado por Alfonso Herrera), um jovem padre, cheio de inquietações e ambições. Um dia ele é procurado por Angela (Geena Davis) que afirma que uma de suas filhas está possuída por um demônio, é quando Tomás busca ajuda junto ao padre Marcus, um padre excomungado e experiente em exorcismos. Gostei muito da resenha do Combo Infinito, dê uma olhada quando puder. Concordo muito quando eles falam sobre a família Rance, cheia de mistérios! (Mesmo que desconfie, estou louca para descobrir o que aconteceu com o pai!!).
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Aquella casa en las afueras
Um filme de terror dos anos 80, sobre uma casa de abortos
Eu jamais assistiria este filme se a Carmen Maura não estivesse no elenco, ironicamente ela aparece muito pouco, em três cenas muito rápidas. “Aquella casa en las afueras” conta a história de Nieves, uma jovem recém casada que acaba de mudar de residência, ela está grávida. O marido, mais velho, vive trabalhando e ela conta com a ajuda e companhia da vizinha, Isabel, uma senhora bondosa e extremamente misteriosa. Pouco tempo após se mudar, Nieves começa a ser assombrada pelas lembranças dolorosas de sua juventude, isso porque a casa em que ela passou a viver foi um clínica clandestina, a mesma em que ela fez um aborto anos atrás.
Li muitas resenhas sobre o filme e em algumas delas, os críticos encaram a abordagem do tema como “sensacionalista”. Eu gostei demais e acho que essa produção tem peculiaridades muito interessantes. O filme foi dirigido por Eugênio Martín, o mesmo diretor de Duelo dos homens maus (1971) e O expresso do terror (1972).
Martín possui uma carreira muito versátil e logo nos primeiros filmes gostava de abordar tabus (o que lhe obrigava a driblar a censura franquista). Em entrevista a Nicholas Schlegel (para o livro Sexo, Sadismo, Espanha e Cinema), Martín chega a afirmar que os censores não eram tão espertos e nem sempre conseguiam encontrar elementos subversivos no script: “Eram pessoas de classe média baixa, alguns padres (o que era horrível porque eram muito fanáticos) e civis, que não tinham muito estudo ou um background muito crítico.”
No filme, não somos levados a culpar Nieves pelo aborto feito anteriormente. Pelo contrário, a todo momento ela indica as justificativas que a levaram a tirar o bebê: era muito jovem, não tinha condições financeiras, não tinha o apoio do pai e não se sentia preparada. Ao mesmo tempo, as assombrações do passado são como uma forma de responsabilizá-la pela escolha. A figura da vizinha, posteriormente identificada como uma das ex-enfermeiras da clínica, configura-se como um agente discursivo, que acredita que Nieves deve pagar pelo que fez.
Não sei se na década de 80 era aceitável considerar esse filme como de terror, ao assistí-lo me pareceu mais um suspense voltado para a tesão psicológica da personagem principal. Sem dúvidas a casa é um elemento importantíssimo na trama, que agrava a sensação de sufoco de Nieves. Ela sempre se pergunta porque o marido escolheu uma casa tão grande para os dois e sempre tem pesadelos nos corredores escuros, vê o vulto das enfermeiras que realizaram o procedimento ou escuta o barulho dos instrumentos.
Apesar do spoiler enorme que soltei acima, não nos é confidenciado a verdadeira identidade de Izabel. Pelo menos, não até a metade da trama. Então somos levados a desconfiar também do marido de Nieves porque na narrativa, existe um médico e uma enfermeira que realizavam os abortos. Em muitas cenas o marido de Nieves e Izabel conversam às escondidas, e não é difícil suspeitar dele também.
Dois pontos interessantes:o primeiro é que apesar de desejar o bem estar do filho, Nieves continua sendo uma mãe meio irresponsável, então a vemos fumar… por exemplo, e ela sabe que aquilo pode fazer mal para o bebê. Sua repulsa e desconfiança pelo marido começa a refletir na gravidez. O segundo fato é que além de Izabel, Nieves conta com o apoio de uma amiga, dona de uma escolinha… me chamou atenção o fato do nome da escola ser “Peter Pan”, o menino que nunca cresce. Será uma alusão ao aborto?
Quem foi Alida Valli?
Até o momento, eu nunca tinha escutado este nome. Assisti o filme e fiquei encanta com esses impactantes olhos claros e com a sua força de expressão. Uma rápida pesquisa me levou à sua incrível história a qual compartilho com vocês.
*O texto abaixo não é meu, foi retirado de dois blogs: O falcão Maltês e do Mais ou menos Nostalgia – que por sinal, sou leitora assídua e recomendo muitíssimo que conheçam!
O Falcão Maltês: “Ela atuou em mais de 100 filmes e cerca de 30 peças teatrais, estreando no cinema em 1934 como figurante e filmando até 2002, aos 81 anos. Durante a Segunda Guerra Mundial, suas atuações em fitas como “Pequeno Grande Mundo” (1941), pelo qual ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza, fizeram o público e a crítica perceberem que estavam diante de uma verdadeira estrela. Suas comédias sentimentais desta época arrebataram o coração dos jovens italianos, tranformando a atriz na “namoradinha da Itália”.Neste período, casou-se com o pintor surrealista e pianista Oscar De Mejo, com quem teve dois filhos (um deles, Carlo De Mejo, seria ator). Em plena ascenção, recusou-se a fazer filmes de propaganda do regime fascista de Benito Mussolini – que a considerava “a mulher mais bonita do mundo” -, passando a ser perseguida e tendo que se esconder para evitar possível prisão e execução.”
- No auge do sucesso, em 1954, sua popularidade foi abalada com um escândalo recheado de sexo, drogas, ritual religioso e morte: ela estava em Torvajanica, uma praia particular próxima a Napóles, participando de uma orgia coordenada pelos Illuminati, ao lado de autoridades da igreja católica e da política, quando a desconhecida Wilma Montesi, de 21 anos, utilizada como sacerdotisa de uma missa adonaicida e escrava sexual, morreu de esgotamento físico, e também, de uma overdose de drogas. O infortúnio provocou a renúncia do ministro das Relações Exteriores da Itália, Attilio Piccioni, pois um filho seu fazia parte da maratona sexual;
Mais ou Menos Nostalgia: “Terminada a II Guerra Mundial, Alida e seu então marido, o compositor Oscar Mejo, com o qual teve dois filhos, foram para Hollywood a convite de David O. Selznick. Estrelou Miracle of the Bells, mas seu primeiro grande sucesso foi em 1947 no papel de uma mulher acusada de assassinato, no filme The Paradise Case, direção de Alfred Hitchcok. Em 1949 destacou-se pela sua notável interpretação da personagem Anna Schmidt no filme The Third Man. Em 1954, teve seu nome envolvido em escândalos entre celebridades italianas. O fato viria, mais tarde, servir de inspiração para o filme La Dolce Vitta, de Fellini, mas neste mesmo ano fez um retumbante sucesso por sua atuação no filme Senso, de Luchino Visconti, ambientado em meados de 1800. Alida interpretava uma condessa que mantinha um romance proibido com um oficial do exército austríaco.”
Amizade Desfeita
“Amizade desfeita” é um filme que marca pela estética, pelo experimentalismo. Toda a trama se passa através de uma tela de computador, onde sete amigos conversam através do Skype. Anos antes, esse mesmo grupo acompanhou (também virtualmente) o suicídio de Laura Bairns e, ao que parece, ela voltou para se vingar. Não é um filme assustador, mas é um filme de pequenos sustos. Você pode se pegar surpreso em alguns momentos, mas nada que vá lhe tirar o sono.
Gosto muito dos momentos em que para entender o que se passa, o espectador precisa ler as conversas de bate papo da personagem principal, você não vê o seu rosto, nem sua reação, mas pela forma que a personagem escreve é possível imaginar sua tensão. O filme foi uma produção barata, custou apenas 1 milhão de dólares e já rendeu 63 vezes mais. É impressionante….
Você viu a série sobre o Zé do Caixão?
Matheus Nachtergaele é um ator maduro, respeitado e que chegou em um ponto em sua carreira em que não precisa provar nada para ninguém. Mas se precisasse, era só apresentar um dos capítulos da série Zé do Caixão para mostrar que sabe o que faz e que quando o faz, faz muito bem. A série foi transmitida no ano passado pelo canal Space e dividida em seis capítulos, cada um deles, retrata uma fase da vida de José Mojica e seus respectivos trabalhos. Eu terminei de assisti-la essa semana e fiquei encantada com a imersão que Nachtergaele fez no personagem e no quanto ele conseguiu ser convincente… o tom de voz, os erros gramaticais, os olhares. Tudo muito intenso!
Zé do Caixão sempre me pareceu uma figura bizarra, mas ao mesmo tempo, tão amigável. Na minha casa, quando alguém deixava a unha ficar grande demais, ganhava esse apelido. Sempre que eu o via na televisão o encarava com estranheza…mas com identificação, entendia nele a personificação perfeita do terror brasileiro. Um símbolo mesmo. A série só veio para confirmar isso e me ensinar o que eu não sabia sobre a sua história, eu nem fazia ideia de que ele era um coveiro que buscava por uma mulher que pudesse gerar o seu herdeiro. Só pra constar, “À meia noite levarei sua alma”, filme de 1964, foi o divisor de águas na carreira de Mojica, um marco no terror brasileiro. É a primeira aparição do Zé do Caixão e a gente pode ver como o personagem surgiu na vida de José, que tinha pesadelos com um homem que o puxava para uma cova.
A série é uma representação do quanto é difícil fazer cinema no Brasil e no quanto José Mojica foi forte e extremamente criativo para conseguir resistir produzindo por tanto tempo. O primeiro capítulo, por exemplo, conta como foi a realização do faroeste “A Sina do Aventureiro” e como Mojica – que hoje, aos 79 anos, prefere não ser confundido com o personagem que inventou – quase se transformava em dois para manter a Apollo funcionando, uma produtora, que também funcionava como escola de atores. [Ele era produtor, roteirista, diretor e professor!].
Muito legal a sua relação com os pais, o apoio que eles lhe davam e do ambiente em que cresceu e, especialmente por causa do pai, foi cercado por um mundo cinematográfico. Adorei a personagem da Nilse, que na verdade é a personificação de todas as mulheres que passaram na vida de José e o ajudaram nas produções e enfim, tiveram uma relação amorosa. E por falar em amor, a série mostra um lado super picante do Zé do Caixão, que, aparentemente, adorava fazer menções sexuais em seus filmes e que levou uma vida sexual muito intensa.
- Eu procurei por seus filmes e vi que estão disponíveis no Youtube, vi uma sequência muito interessante em que ele mata um homem em uma banheira. Pretendo assistir os filmes completos e quem sabe, comentar sobre eles por aqui!
O Vilarejo
Há tempos eu queria ler algo do Raphael Montes; me chama atenção o fato de ele ser um escritor tão jovem e de sucesso. Terminei de ler o “O Vilarejo”, seu mais recente livro, e fiquei meio dividida: gostei da essência da trama e dos temas, mas achei a narrativa fraca e pouco desenvolvida. Preciso ler mais algum livro dele para tirar esse impressão (ou confirmá-la). O fato é que esse livro, apesar do gênero, é bem tranquilo… são tão poucas páginas que passam correndo aos olhos. Quando você percebe, já terminou.
O livro se inicia com um narrador-personagem, que conta como recebeu um manuscrito com sete histórias trágicas, relacionadas à sete demônios (e aos setes pecados) – todas os contos são ambientados em um mesmo lugar: um vilarejo onde os moradores, cercados de neve e famintos, cometem atos asquerosos… Alguns em prol da sobrevivência, outros por vingança, por amor ou por ódio, o fato é que existe em todos eles, uma “sementinha do mal”.
No livro existe uma mistura de tudo o que a gente já viu em filmes de terror ou leu em livros de suspense: assassinato, estupro, canibalismo…. Mas não há aquele choque, ou repulsa (talvez, apenas no primeiro conto). O autor tratou as tramas com tanta rapidez e as ambientou tão superficialmente que não deu tempo de se envolver, de mergulhar na história. Uma pena, porque ele escreve muito bem. O livro me remeteu a dois filmes: A Vila e Dogville.
La Hora Marcada
Enquanto eu pesquisava por um filme dificílimo de encontrar, acabei me esbarrando em um blog incrível, repleto de clássicos e boas análises sobre produções mexicanas, das quais eu nunca tinha ouvido falar. Há uma variedade enorme de arquivos disponibilizados e uma série de vídeos de diretores, produtores e atores importantes da sétima arte mexicana. Ontem, antes de dormir, fiz uma lista com os filmes que quero assistir e comentar aqui no La Amora, espero fazer isso pelo menos uma vez a cada duas semanas.
Como já era muito tarde, assisti um episódio de ‘La Hora Marcada’, um seriado mexicano que ficou famoso nos anos 80, cujo público alvo eram as crianças e jovens. A cada episódio (de vinte e poucos minutos) os espectadores assistiam uma história de terror, todas com um personagem em comum: uma senhora vestida de negro, que representava a morte. Confesso que fui motivada a assistir por causa da Helena Rojo, que no episódio “El Motel”, interpreta uma mulher que, junto ao marido, sai de uma festa a procura de um lugar para se hospedar – já que ele está bêbado demais para dirigir.
Ao chegar ao motel, vários acontecimentos assustadores e medonhos começam a rondar a personagem. Primeiramente ela passa a receber ligações de um assassino, que não se identifica, mas promete matá-la ainda naquela noite. Assustada, ela deixa o marido no quarto e vai pedir ajuda ao dono do lugar, a única pessoa que se encontra no motel – além do casal. O dono, no entanto, não acredita nela e pede para que ela volte ao seu quarto. Quando ela volta, encontra seu marido enforcado. Ela tenta pedir ajuda mais uma vez, mas quando chega a recepção, encontra o dono do motel morto.
O episódio é sensacional, não pela história, que é bem simples, mas por apresentar um trabalho técnico incrível. As ações são marcadas por inúmeras sugestões sensoriais, desde os barulhos e ruídos do motel ao miado de um gato que nunca aparece, mas que ajuda a tornar o clima mais ‘assustador’. O meu momento favorito é quando o episódio chega ao clímax e a personagem principal finalmente se encontra com o assassino.
‘La Hora Marcada’ teve mais de cem episódios transmitidos e ficou no ar de 1986 até 1990. A série contava com grandes diretores e roteiristas, como Guillermo del Toro, Alfonso Cuarón e Emmanuel Lubezki. Dos personagens, os mais diversos, como freiras macabras, bruxas, ogros, anjos, dinossauros, relógios assustadores (…). Felizmente inúmeros episódios estão disponíveis no Youtube.
Insanatório: Quem entra, não sai.
Jack (Jesse Metcalfe) é um jovem que finge estar louco para ser internado em um sanatório, ele busca pela irmã que foi internada no mesmo hospital depois que apresentou problemas emocionais por causa da morte da mãe. Quando entra na instituição, descobre que o diretor e médico do instituto (interpretado por Peter Stormare) está usando os pacientes como cobaias, criando criaturas sedentas por sangue. Jack e a irmã, que estão a mercê de enfermeiros impiedosos, precisam descobrir uma saída já que os outros pacientes estão se transformando em terríveis canibais.
Jeff Buhler, que também trabalhou como roteirista em “O último trem”, peca ao construir um longa marcado por cenas inverossímeis e exageradas. O argumento é até interessante, mas não se sustenta. Burler, por exemplo, poderia ter explorado muito mais o impasse do personagem principal que não tinha certezas sobre a própria sanidade.
Uma das coisas mais incômodas do filme foi a construção estética, a maquiagem, os cenários: parece que fizeram um trabalho mal acabado. A caracterização dos pacientes contaminados chama atenção, Burler teve a infeliz ideia de colocá-los usando lentes de contatos azuis, completamente caricatos (pareciam participantes da Zombie Walk).
Tentaram abordar a lobotomia, fizeram um leve e superficial retrato sobre esse processo tão polêmico. No entanto, algo ficou no ar, uma expectativa de que explorassem mais o tema e retratassem de maneira realística (ou até mais assustadora). Alguma cenas foram desnecessárias, causaram choque… mas de forma errada (como aquela em que o médico estupra a funcionária ou aquela em que o paciente arranca a cabeça de um gato e começa a beber seu sangue). Em suma, “Insanatório” é um daqueles filmes que não indico a ninguém, nem se for pra perder ou para passar o tempo… que seja com alguma coisa mais interessante.
Ficha Técnica: Título Original: Insanitarium Direção: Jeff Buhler Ano de Produção: 2008 Gênero: Suspense, TerrorOs inocentes
“Os inocentes” é um grande filme e é uma pena que ele não receba o reconhecimento que merece. O assisti agora a pouco, ainda sobre influência da minha repentina admiração por Deborah Kerr (que por sinal – e mais uma vez – está belíssima). O filme foi baseado em um clássico de Henry James (A outra volta do parafuso) e conta história da Senhora Giddens, uma mulher que é contratada por um aristocrata para ser a governanta em sua mansão em Bly, na Inglaterra.
Com uma grande paixão por crianças (“mais até do que a própria vida”), Giddens se muda para a Bly com o intuito de cuidar de Miles e Flora, duas crianças que perderam os pais e cujo o tio não dá a mínima. Em princípio Giddens é muito bem recebida por Flora e Miles (que chega um pouco mais tarde, depois de ser expulso do colégio) e pela Senhora Grose (uma arrumadeira idosa), mas aos poucos ela começa a ser atormentada por dois fantasmas que carregam um sombrio segredo.
Lançado em 1961, dirigido por Jack Clayton e roteirizado por Truman Capote, “Os inocentes” enquadra-se no melhor estilo do terror psicológico, não peca por excessos, possui um roteiro brilhante, uma iluminação e uma trilha sonora de tirar o fôlego – não é atoa que Martin Scorsese tenha o colocado em sua lista de melhores filmes de terror de todos os tempos, nem é atoa que ele tenha sido classificado pela Time Out como um dos melhores filmes britânicos de todos os tempos – o longa é realmente muito bom.
Clayton fez uma boa escolha ao optar por um filme em preto em branco; a iluminação tem um papel técnico importantíssimo na trama e o diretor a usa com destreza assombrosa. Em uma cena, por exemplo, a governanta começa a ouvir barulhos e questiona a própria sanidade. O que Clayton faz? Ilumina apenas os olhos de Kerr que estão completamente perdidos e assustados (e isso se repete várias vezes),.
Como a história é muito densa, um aspecto que passa despercebido (mas que não deveria) é o cuidado com a construção cenográfica, que sustenta a verossimilhança histórica de maneira impecável. Não sei exatamente se poderia classificá-lo assim, mas o cenário possui toques impressionistas que se adequam a função psicológica das ações: as escadas, o casarão meio abandonado, as velas – e claro, o vestuário bem trabalhado (que também dão a história um tom mais sombrio).
Sobre o roteiro há algo que chama atenção, as falas são muito, muito, muito bem trabalhadas e a narrativa é um misto de fluxo de consciência e diálogos (e muitos deles não estão de acordo com a continuidade de tempo – Giddens, por exemplo, escuta os fantasmas conversando… mas essa conversa se passa no presente? no passado?) Não há nada explícito, mas você percebe desde o inicinho que alguma coisa está errada, o roteirista vai oferecendo pequenas pistas: por exemplo, quando o pequeno Miles, durante um brincadeira, pede para que a Senhora Giddens escute um poema: no poema o “eu-lírico” pede que o espírito saia de seu túmulo e tome o seu corpo.
Deborah Kerr não decepciona, a atriz consegue equilibrar o aspecto dramático (que muito se dá pelo embate psicológico do personagem) com a personalidade doce e interiorizada da Senhora Giddens. O interessante é que no livro a governanta tem apenas 20 anos (e não é atoa), mas quando Kerr atua esse aspecto se transforma em um mero detalhe. Mas Kerr não pode levar todo o mérito, Pamela Franklin e Martin Stephens (as crianças) também trazem um peso dramático à trama, principalmente quando ocorre o confronto com a governanta.
Ha muito que dizer sobre esse filme, mas eu prometo não me estender. Só mais um aspecto merece o comentário: a abertura. Jack Clayton queria fazer algo diferente das produções da Hammer (um companhia britânica especializada em filmes de terror), por isso iniciou seu filme com uma tela totalmente preta onde uma criança canta “O Willow Waly” (essa abertura só dura 45 segundos,mas apresenta a música que toca repetidas vezes ao longo do filme). Então, só depois é que ele exibe os créditos, em uma tela igualmente preta, mas dessa vez, podemos ver as mãos da Débora Kerr (que exprime muita tensão através delas) e ouvir a personagem rezar pelas crianças. – E, pelo que eu li, a voz que aparece no início não é de uma criança, e sim da Deborah Kerr “imitando” uma criança (PQP!).
O Erótico, as metáforas e os símbolos: quem é realmente Inocente?
O início do filme é um pouco devagar, mas sem dúvidas, depende desse desenvolvimento para não comprometer a compreensão da história, afinal, há muito hipocrisia naquela casa – e o difícil é descobrir da parte de quem. Finalmente, depois de um período angustiante, onde a personagem principal se pergunta o que se passa naquele lugar, ela deduz (ou simplesmente entende) qual a história dos dois fantasmas.
Peter Quint trabalhou cuidando dos cavalos da mansão. De acordo com a Senhora Grose ele era um homem detestável, alcoólatra e extremamente grosseiro. Apesar de tudo, Miles o adorava e ninguém conseguia separá-los. A Senhorita Jessel foi, antes da Senhora Giddens, a governanta da casa e ela era muito próxima da Flora, as duas passavam horas dançando no salão. Um dia Quint chegou bêbado, escorreu na escada e morreu. Jessel, que era apaixonada por ele, não suportou a dor de perdê-lo e se matou afogada em um lago. Grose contava que os dois eram extremamente obscenos, falavam palavrão e faziam de dia o que deveriam fazer a noite. -Na frente das crianças?, a Senhora Giddens pergunta. “Eu não tenho certeza se as crianças viram, eu vi várias vezes.”
Ao observar o comportamento estranho das crianças (as trocas de olhares, as brincadeiras maldosas, os galanteios de Miles), a Senhora Giddens deduz que as crianças estão possuídas por esses espíritos. Quint e Jessel querem entrar no corpo dos irmãos para se reencontrarem mais uma vez como amantes – Mas será que isso é verdade ou ela está apenas enlouquecendo? Quando a Senhora Giddens começa a confrontar as crianças, sugerindo e observando esse possível contato sexual entre elas, a velha empregada Grose lhe afirma: “Não faça isso, eles são tão inocentes!”. E a Senhora Giddens responde: “Eles não são inocentes, são adultos!”.
Como eu disse, não é atoa que a Senhora Giddens (no livro) tem apenas 20 anos. Há (tanto no livro quanto no filme) uma dúvida sobre quem é realmente o inocente (ou puro) nessa história. Giddens, um poço de gentileza e candura, enfrenta pela primeira vez esse tipo de trabalho e conforme afirma: “só quer ajudar os outros”. Mas e se tudo o que se passa for apenas fruto da sua imaginação (já que as crianças e os empregados insistem em dizer que não enxergam os fantasmas que ela vê?) e se ela estiver mentindo? -Posso lhe garantir que não há uma resposta para essa pergunta.
O beijo (ou melhor, os beijos) entre Miles e a Senhora Giddens me deixou desconcertada, confesso que voltei o DVD pra ter certeza do que estava vendo. A cena é no mínimo polêmica e corajosa. E muito clara: HÁ UMA TENSÃO SEXUAL ACONTECENDO ALI! Miles beija a governanta e depois deita-se na cama, com um rostinho angelical enquanto a Senhora Giddens, desconcertada, lhe sorri – Close em sua boa, entreaberta. (Jack Clayton impediu que as crianças vissem o resultado do filme e escondeu delas o contexto sexual da trama). O interessante é que o filme dá vários indícios metafóricos de que a governanta foi sexualmente reprimida (as plantas caídas, os insetos – um incrível toque freudiano).
E essas metáforas e símbolos estão em todo o lugar, em um momento do filme, por exemplo, a Senhora Giddens escuta sussurros e barulhos que sugerem Quint e Jessel transando. “Me ame, me ame” Ao mesmo tempo que escuta esses barulhos ela se depara com o cortina batendo incessantemente na janela. Quando ela ela se vira, o barulho para.
Imperdível, é tudo o que me esta a dizer, esse filme é imperdível!