Como disse em outra publicação, estou um pouco afastada do La Amora. Ando muito ocupada com um projeto que está tomando todo o meu tempo, mas não resisti… precisava publicar sobre o assunto.
Nesse mundo de informações, de vídeos e de imagens que é a internet, a gente se vê bombardeado com coisas inúteis. Parece uma tendência, mas diariamente nossas páginas nas redes sociais ou nossos emails recebem matérias e fotos que dão medo, que dão nojo, que divertem… Poucos, como o caso desse vídeo, emocionam.
* A britânica Joanne Milne (40 anos) nasceu surda, em consequência de uma doença chamada Usher, ficou cega aos vinte anos por causa da mesma enfermidade.
Milne, com sua simplicidade e com sua emoção sincera, nos faz lembrar da importância dos detalhes, da beleza da vida, das cores, do som… Difícil não se emocionar. Difícil não se colocar no lugar dela, difícil não se perguntar: ‘E se fosse comigo?
No terceiro capítulo do livro ‘Cinema, Vídeo, Godard’, Philippe Dubois realiza uma profunda reflexão sobre a identidade do vídeo. De acordo com o autor, o vídeo é um sistema de imagens que surgiu entre o cinema (que o precedeu) e o infográfico (que o superou) . Apesar da importância, o vídeo possui um problema complexo pois é um “pequeno objeto” mal determinado. Os únicos terrenos em que foi verdadeiramente explorado foram no meio artístico (através da videoarte) e na intimidade particular (nos vídeos caseiros e familiares).
Para Dubois, o próprio nome (o termo “vídeo”), carrega consigo uma ambiguidade já que constantemente é usado como um sufixo, ou seja, como um complemento (ex: videogame, videocassete) e não como um fixo. O termo parece paradoxal e precisa de uma especificidade. Em latim video significa “eu vejo”, portanto é um verbo genérico que engloba todas as artes visuais. ‘Video é o ato do olhar’ e apesar de não ter um corpo próprio, ele é o fundador de todos os outros corpos que perpassam pela imagem.
A ambiguidade do vídeo está presente em sua própria natureza. Quando nos referimos a ele é difícil definir do que exatamente estamos falando (um meio de comunicação ou uma arte?, uma imagem ou um dispositivo?, uma técnica ou uma linguagem?). Dubois afirma que o vídeo é da ordem da imagem, que possui uma linguagem relativamente conhecida e uma identidade mais ou menos assumida. Porém é importante observar que o vídeo também é um sistema de circulação de informações e de conteúdo, independente do resultado visual. Para o autor, essa natureza paradoxal não é uma deficiência e sim uma força.
Nos discursos sobre o vídeo é comum importarmos termos de outros domínios. Termos do universo cinematográfico, por exemplo, são utilizados para se referir ao vídeo como se não houvesse diferença entre eles. Dubois questiona: “ Ora, as imagens em movimento funcionam do mesmo modo?”, “A operação de montar os planos no cinema é a mesma de editar imagens em vídeo? As questões em jogo são as mesmas em ambos os casos?” Para responder tais questionamentos, Dubois catacteriza noções sobre plano e montagem.
O plano é um bloco de espaço e de tempo, necessariamente unitário e homogênio, indivisível, incontestável, que funciona como núcleo de todo o filme e se constitui, dentre outros processos, de quadro, campo, espaço off e perspectiva. A montagem cinematográfica é aquela que permite perceber o filme como um corpo global e unitário, portanto exige algumas funções que garantem o efeito de continuidade (o filme se elabora tijolo por tijolo).
Television Decollage – Wolf Vostell
Dubois chama atenção para o fato de que a a existência de uma narrativa (uma ficção com personagens, ações e organização do tempo) não representa o modo discursivo dominante do vídeo, essa estrutura está adequada ao cinema. No vídeo, a linguagem de representação que predomina são o modo documental, experimental e plástico. Essa é uma estética particular, mas não exclusiva.
Existem três procedimentos que reinam no terreno do vídeo. A sobreimpressão é o efeito de sobrepor duas ou mais imagens e cria a sensação de multiplicação de visão. As janelas permitem uma divisão da imagem e ao contrário da sobreimpressão (onde uma é colocada sobre a outra), há uma divisão, um recorte (são, por exemplo, colocadas uma do lado da outra). A incrustação (textura vazada e espessura da imagem) é um dos procedimentos mais importantes e mais específicos do vídeo. Trata-se da mescla de imagens que possuem origens distintas.