VOCÊ SABE O QUE É O TESTE BECHDEL?

Refletir sobre a representação das mulheres no cinema (e na mídia, em geral) é uma forma importante de promover a igualdade de gênero e atuar em estratégias de melhoria social. Um dado importante do Instituto de Pesquisa da Geena Davis, indica que as mulheres representam menos de um terço dos personagens com falas nos filmes. Além disso, quando possuem alguma profissão nessas tramas, normalmente não ocupam lugares de poder.

Já está mais do que constatado,que a mídia é sexista. Mas, existe toda uma atuação de mulheres e homens que atuam para mudar essa perspectiva. E, nesse contexto, está o Teste de Bechdel. O teste surgiu em 1985, quando Alison Bechdel, cartunista, realizou uma tirinha ironizando os filmes hollywoodianos que, em sua maioria, representam as mulheres de uma forma estereotipada.

Nele é feito questionamentos simples, mas extremamente relevantes na análise cinematográfica ou mesmo nas pesquisas de sexualidade e gênero. As questões podem parecer triviais, mas tenha em mente que muitos filmes (inclusive, famosos blockbusters) não passam pelos testes.

Para “passar” no teste, o filme deve cumprir três pequenas regras:

  • ter duas personagens com nome
  • ao menos uma cena em que duas mulheres conversam entre sí
  • o tema não pode ser sobre homem

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A forma da água: o amor e a comunicação não verbal

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Como muitas pessoas, não sou fã de filmes românticos, mas gosto bastante de filmes inteligentes. Assisti “A forma da água” no cinema, num momento em que estava bem sensível emocionalmente. Confesso que este não é um filme que assistiria de novo, ainda que tenha me causando um impacto pelo detalhamento técnico e cenas bem elaboradas.

Num brevíssimo resumo, o filme conta a história de Elisa (interpretada pela incrível Sally Hawkins), uma mulher muda, que trabalha como zeladora num laboratório experimental secreto do governo. Ela acaba se envolvendo/apaixonando por uma criatura fantástica, que encontra-se presa no laboratório e sofre diversas torturas.

A criatura é uma espécie de peixe, digamos… Elisa embarca, então, num projeto de resgatá-lo e devolvê-lo para o seu habitat.

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Com 14 indicações ao Oscar, o filme foi dirigido por Guilherme del Toro e liderou o Oscar de 2018.

P.S. A primeira cena do filme é tão foda (eu não consegui achar outro termo), que é difícil não ficar de queixo caído com essa produção. Imagino o trabalhão que deve ter dado, colocar a atriz deitada no sofá, submergindo aos poucos e junto dela, todo o cenário.

[Enfim… ainda que o filme me cause certo estranhamento, existem dois pontos que me agradam muito na história e me fazem notá-lo com bastante admiração.]

  • A reinterpretação do amor romântico

O filme possui tantas alegorias, que provavelmente seria um bom tema para um artigo científico. Mas não é preciso ir muito longe para identificar o que mais me agrada na trama: a referência aos estranhos, que se reconhecem e que não se encaixam socialmente. A beleza do amor das duas figuras é que elas sabem das imperfeições um do outro e, mesmo assim, se aceitam e se amam. 

Elisa é uma mulher pouco atraente, de classe baixa e muda. A criatura… bom, não é preciso dizer muito. E mesmo diante das diferenças, estão juntos por um amor extremamente puro. As duas figuras são metáforas claras às pessoas que não estão dentro do padrão social, tão conhecido por aí. E, o mais importante: ainda que não sejam perfeitas, possuem um encantamento único: Elisa é extremamente inteligente e sensível e a criatura possui o poder de cura.

Há ainda a naturalização desse sentimento, a perspectiva de que o amor, quando realmente correspondido, não precisa ser sofrido. Existe uma confiança entre eles que resiste à inúmeras barreiras: aos militares, às condições físicas, etc…

  • A comunicação não verbal

A comunicação não verbal é talvez um dos pontos altos do filme, que quebra a narrativa fílmica convencional. Mas, além da questão técnica, existe a subjetiva. Nós estamos tão acostumados a viver em um bolha repleta de informações rápidas e cada vez mais sem profundidade, que acabamos nos esquecendo do básico.

O filme fala bastante sobre solidão, que acomete a contemporaneidade sem nenhuma dó. Estamos cercados de redes sociais, de jornais digitalizados, de imagens. Mas, o quanto estamos realmente nos comunicando e nos conectando com as outras pessoas? Nesse sentido, a ausência da voz dos personagens é exatamente o clímax da sintonia que existe entre eles. Algo bem bonito e poético de se observar…

Bom, espero que tenha gostado desse texto rápido.

E, se não assistiu ao filme, não deixe de vê-lo.

A biografia da Bette Davis

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Tô em falta com esse blog e me sinto péssima por isso, todo dia me surge uma ideia nova para uma publicação, mas a rotina está tão corrida que não consigo sentar para escrever. Estou me esforçando para ler os meus livros, seja no ônibus quando vou trabalhar, na academia ou minutos antes de dormir.  Há algumas semanas comecei a ler a biografia da Bette Davis, escrita por Charles Higham.  Estranhei muito no começo porque a narrativa é bem opinativa, o autor não esconde suas percepções sobre a vida da atriz. Ele começa o livro dizendo que foi visita-la em sua casa para fazer uma entrevista e que se surpreendeu com sua feminilidade. Higham dizia que Bette tinha uma sensualidade única e que fumava cigarros como ninguém. Para ele, seu jeito forte era um reflexo da vida de uma mulher que foi extremamente subjugada num universo dominado por homens.

A narrativa sobre o primeiro encontro dos dois me passou a impressão de uma Bette intimidadora, que falava alto, adorava palavrões, inteligente e rápida nas respostas A verdade é que demorei para gostar do livro e ainda estou na metade, mas muitas curiosidades sobre a carreira e vida da Bette (ainda que apimentadas pelo olhar do autor), me fizeram admirá-la ainda mais.  Eu não sabia nada da relação da Bette com a mãe, Ruth, e com a irmã, Bobby. O autor conta que a três sofreram influencias fortes da avó, que tinha uma educação quase “militar”. A irmã da Bette tinha problemas mentais e passava por muitas internações. Já a mãe da Bette, se esforçou ao máximo para torna-la famosa (chegou a fazer inúmeras dívidas por causa da filha), tinha uma postura super protetora e intrometida (que incomodava profundamente os produtores, diretores e jornalistas). Ruth, na juventude, tinha o sonho de ser atriz, mas foi impedida pelo marido… por isso, teria transferido todos os sonhos para a filha.

Bette foi muito influenciada por essas três mulheres, que de alguma forma, moldaram sua personalidade. Já no início da carreira, ela sustentava a mãe e a irmã, e por vezes, se enrolava financeiramente com o estúdio para bancar a vida boa (viagens e mansões) da família. O autor do livro tem uma língua bem feroz, e fala bastante sobre o primeiro casamento da atriz com Harmon Nelson, um homem fraco e rabugento (que não apoiou a Bette em sua primeira gravidez, o que a levou a abortar). Segundo o livro, ele ainda teria pegado Bette “no flagra” com outro homem e a chantageou para não contar tudo para a mídia. Em relação a carreira da Bette, é quase impossível não admirá-la por sua força, talento e coragem. Bette tinha tanto amor pelo teatro que mergulhava em seus trabalhos e chegava a ficar doente, suas interpretações eram enérgicas e ela não tinha medo de encarar personagens que fugiam ao estereótipo. Quando foi para Hollywood, foi boicotada por grandes produtores que a achavam uma ótima atriz, porém não “bela o suficiente”. Ela também encarou uma batalha judicial com Jack Warner, que a obrigou a fazer filmes sem interrupções e, muitas vezes, com histórias de baixa qualidade.

Bom, por enquanto é isso… ainda estou na metade do livro e depois volto para contar sobre o final da leitura.  😉

Gary Cooper que estás en los cielos

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Desde as primeiras cenas, este filme tem um toque extremamente feminino (e feminista). Além de falar sobre tabus que atingem especialmente as mulheres, como o aborto e as diferenças de oportunidades no mercado de trabalho, tem como protagonista uma mulher forte, séria e inteligente. Pouco li sobre a história da diretora Pilar Miró, mas fica muito claro que o filme também tem um tom metalinguístico e autobiográfico.

Mercedes Sampietro está linda, mais linda do que nunca (especialmente porque transmite muita calma e parece dominar o personagem). Na trama ela é Andreia, uma diretora televisa que sonha em produzir um filme, mas que enfrenta muitas dificuldades para tal. Apesar de ser uma mulher com sucesso profissional, sua vida pessoal é cheia de fracassos: possui uma mãe extremamente vaidosa e que a sufoca e está grávida de um homem que exige que ela faça um aborto.

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Gosto especialmente das cenas iniciais, quando Andreia caminha pelos corredores da emissora e é cercada por auxiliares que precisam de sua opinião ou autorização para fazer algo. Mesmo assumindo um cargo de chefe, Andreia é visivelmente engolida por um ambiente dominado pelos homens. Também há uma cena sensacional, onde ela olha diretamente para a câmera, como se conversasse com o espectador, e conta as dificuldades de se realizar um filme (só para observar, “Gary Cooper que está en los cielos” foi lançado em 1981, um ano depois, Pilar Miró se tornou Diretora Geral de Cinematografia na Espanha).

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O filme possui muitos momentos reflexivos, quando a personagem (que descobre que está doente e prestes a morrer) começa a pensar em sua vida e nas coisas que construiu. Ela passa horas observando fotos antigas (algumas delas do ator americano Gary Cooper). Imagino que aquelas fotos antigas e em preto e branco representem o seu carinho pelo passado e medo pelo futuro.

Carmen Maura: uma aparição pequena, mas importante

Carmen aparece muito pouco, apenas em duas cenas. Na primeira delas, fica claro que ela não gosta de Andreia, na segunda (já no final do filme), há um confronto entre elas, dentro do banheiro. Andreia relembra que as duas estudaram juntas e questiona se a colega tinha algum desejo sexual (reprimido) por ela. No livro, “Discurso Femenino Actual”, Kathleen M. Vernon começa o seu texto analisando exatamente essa cena e diz:

[…] A protagonista Andrea enfrenta uma única colega feminina nos estúdios televisivos, a realizadora Begoña (Carmen Maura). Em seus comentários sobre as cenas, vários críticos afirmaram que o acontecimento tinha base na vida real de Pilar e até identificaram Begoña como Josefina Molina. O fato é que o conteúdo dessa tempestuosa discussão está repleta de referências e experiências paralelas, primeiro como estudantes e segundo como empregadas de uma rede de televisão governamental, o que corresponde à biografia das duas mulheres. Molina foi a primeira diretora mulher que se graduou pela Escuela Oficial de Cine, a mesma em que Miró se formou como roteirista.

A autora ainda explica que mesmo não sendo a intenção da diretora e mesmo com a disputa entre as duas personagens, existia ali um clima de “sororidade” entre as duas mulheres, reprimidas por um ambiente completamente dominado por homens.

Agnes Browne – o despertar de uma vida

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Estava lendo uma lista que indicava as dez melhores performances de Anjélica Huston e me deparo com “Agnes Browne –  o despertar de uma vida” na décima posição. O filme é de 1999 e foi dirigido pela própria Anjélica, o que é uma façanha e tanto. O problema, é que mesmo tendo um roteiro cuja história parece favorável para o desempenho dramático do personagem, há uma enorme quebra de expectativa. Resumindo: o filme não é tão bom assim e Anjélica não está em sua melhor forma.

A trama se passa em Dublin, 1967. Agnes possui sete filhos e o seu marido falece repentinamente. Sua ausência causa uma enorme crise financeira na família, o que faz com com que ela comece a trabalhar no mercado local vendendo frutas. Lá faz amizade com Marion (interpretada por Marion O’Dwye), uma mulher sincera e divertida que a ensina a olhar para a vida de um jeito diferente. Sem perceber, Agnes desperta a paixão de Pierre, um padeiro que trabalha no mesmo mercado.

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O filme é uma gracinha, tem toda aquela coisa dramática/romântica que culmina em superação. O  problema é que por tratar tão superficialmente dos assuntos que se propõe, soa um pouco  “forçado demais”. Anjélica, com aquele enorme sorriso e uma pose extremamente elegante, não convence como uma mulher a beira do abismo financeiro, desesperada por uma solução. Não importa quão simples as roupas que vista, o lenço na cabeça ou a pouca maquiagem… na minha percepção, ela não conseguiu captar a aura do personagem.

Tudo acontece muito “rápido”,  a relação de Agnes com os filhos é pouco explorada e a amizade dela com Marion incomoda para caramba, a verdade é que Agnes soa um pouco egoísta demais, quase exploradora. Enfim, todos os elementos te induzem a ter uma identificação com a personagem principal (seja por compaixão ou admiração), mas sinceramente… Agnes é uma heroína clichê e artificial.

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Talvez o que dê mais fôlego à trama seja o sonho da personagem de assistir um show do Tom Jones, o que rende algumas cenas engraçadinhas…

Aquella casa en las afueras

Um filme de terror dos anos 80, sobre uma casa de abortos

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Eu jamais assistiria este filme se a Carmen Maura não estivesse no elenco, ironicamente ela aparece muito pouco, em três cenas muito rápidas. “Aquella casa en las afueras” conta a história de Nieves, uma jovem recém casada que acaba de mudar de residência, ela está grávida. O marido, mais velho, vive trabalhando e ela conta com a ajuda e companhia da vizinha, Isabel, uma senhora bondosa e extremamente misteriosa. Pouco tempo após se mudar, Nieves começa a ser assombrada pelas lembranças dolorosas de sua juventude, isso porque a casa em que ela passou a viver foi um clínica clandestina, a mesma em que ela fez um aborto anos atrás.

Li muitas resenhas sobre o filme e em algumas delas, os críticos encaram a abordagem do tema como “sensacionalista”. Eu gostei demais e acho que essa produção tem peculiaridades muito interessantes. O filme foi dirigido por Eugênio Martín, o mesmo diretor de  Duelo dos homens maus (1971) e  O expresso do terror (1972).

Martín possui uma carreira muito versátil e logo nos primeiros filmes gostava de abordar tabus (o que lhe obrigava a driblar a censura franquista). Em entrevista a Nicholas Schlegel (para o livro Sexo, Sadismo, Espanha e Cinema), Martín chega a afirmar que os censores não eram tão espertos e nem sempre conseguiam encontrar elementos subversivos no script: “Eram pessoas de classe média baixa, alguns padres (o que era horrível porque eram muito fanáticos) e civis, que não tinham muito estudo ou um background muito crítico.”

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No filme, não somos levados a culpar Nieves pelo aborto feito anteriormente. Pelo contrário, a todo momento ela indica as justificativas que a levaram a tirar o bebê: era muito jovem, não tinha condições financeiras, não tinha o apoio do pai e não se sentia preparada. Ao mesmo tempo, as assombrações do passado são como uma forma de responsabilizá-la pela escolha. A figura da vizinha, posteriormente identificada como uma das ex-enfermeiras da clínica, configura-se como um agente discursivo, que acredita que Nieves deve pagar pelo que fez.

Não sei se na década de 80 era aceitável considerar esse filme como de terror, ao assistí-lo me pareceu mais um suspense voltado para a tesão psicológica da personagem principal. Sem dúvidas a casa é um elemento importantíssimo na trama, que agrava a sensação de sufoco de Nieves. Ela sempre se pergunta porque o marido escolheu uma casa tão grande para os dois e sempre tem pesadelos nos corredores escuros, vê o vulto das enfermeiras que realizaram o procedimento ou escuta o barulho dos instrumentos.

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Apesar do spoiler enorme que soltei acima, não nos é confidenciado a verdadeira identidade de Izabel. Pelo menos, não até a metade da trama.  Então somos levados a desconfiar também do marido de Nieves porque na narrativa, existe um médico e uma enfermeira que realizavam os abortos. Em muitas cenas o marido de Nieves e Izabel conversam às escondidas, e não é difícil suspeitar dele também.

Dois pontos interessantes:o primeiro é que apesar de desejar o bem estar do filho, Nieves continua sendo uma mãe meio irresponsável, então a vemos fumar… por exemplo, e ela sabe que aquilo pode fazer mal para o bebê. Sua repulsa e desconfiança pelo marido começa a refletir na gravidez.  O segundo fato  é que além de Izabel, Nieves conta com o apoio de uma amiga, dona de uma escolinha… me chamou atenção o fato do nome da escola ser “Peter Pan”, o menino que nunca cresce. Será uma alusão ao aborto?


 Quem foi Alida Valli?

Até o momento, eu nunca tinha escutado este nome. Assisti o filme e fiquei encanta com esses impactantes olhos claros e com a sua força de expressão. Uma rápida pesquisa me levou à sua incrível história a qual compartilho com vocês.

*O texto abaixo não é meu, foi retirado de dois blogs: O falcão Maltês e do Mais ou menos Nostalgia – que por sinal, sou leitora assídua e recomendo muitíssimo que conheçam!

O Falcão Maltês: “Ela atuou em mais de 100 filmes e cerca de 30 peças teatrais, estreando no cinema em 1934 como figurante e filmando até 2002, aos 81 anos. Durante a Segunda Guerra Mundial, suas atuações em fitas como “Pequeno Grande Mundo” (1941), pelo qual ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza, fizeram o público e a crítica perceberem que estavam diante de uma verdadeira estrela. Suas comédias sentimentais desta época arrebataram o coração dos jovens italianos, tranformando a atriz na “namoradinha da Itália”.Neste período, casou-se com o pintor surrealista e pianista Oscar De Mejo, com quem teve dois filhos (um deles, Carlo De Mejo, seria ator). Em plena ascenção, recusou-se a fazer filmes de propaganda do regime fascista de Benito Mussolini – que a considerava “a mulher mais bonita do mundo” -, passando a ser perseguida e tendo que se esconder para evitar possível prisão e execução.”

  • No auge do sucesso, em 1954, sua popularidade foi abalada com um escândalo recheado de sexo, drogas, ritual religioso e morte: ela estava em Torvajanica, uma praia particular próxima a Napóles, participando de uma orgia coordenada pelos Illuminati, ao lado de autoridades da igreja católica e da política, quando a desconhecida Wilma Montesi, de 21 anos, utilizada como sacerdotisa de uma missa adonaicida e escrava sexual, morreu de esgotamento físico, e também, de uma overdose de drogas. O infortúnio provocou a renúncia do ministro das Relações Exteriores da Itália, Attilio Piccioni, pois um filho seu fazia parte da maratona sexual;

Mais ou Menos Nostalgia: “Terminada a II Guerra Mundial, Alida e seu então marido, o compositor Oscar Mejo, com o qual teve dois filhos, foram para Hollywood a convite de David O. Selznick. Estrelou Miracle of the Bells, mas seu primeiro grande sucesso foi em 1947 no papel de uma mulher acusada de assassinato, no filme The Paradise Case, direção de Alfred Hitchcok.  Em 1949 destacou-se pela sua notável interpretação da personagem Anna Schmidt no filme The Third Man. Em 1954, teve seu nome envolvido em escândalos entre celebridades italianas. O fato viria, mais tarde, servir de inspiração para o filme La Dolce Vitta, de Fellini, mas neste mesmo ano fez um retumbante sucesso por sua atuação no filme Senso, de Luchino Visconti, ambientado em meados de 1800. Alida interpretava uma condessa que mantinha um romance proibido com um oficial do exército austríaco.”

Extramuros

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Extramuros é um filme que conta a relação amorosa entre duas freiras enclausuradas em um convento espanhol durante o reinado de Filipe II (1527-1598). Numa região assolada por doenças, pela fome, extrema pobreza e falta de água, as freiras receberam a ameaça de ter o convento fechado por falta de pagamento de indulto. Um delas, Sor Ângela (interpretada por Mercedes Sampietro) tem a ideia de forjar um milagre para manter o lugar em funcionamento. Assim, sua apaixonada companheira, Sor Ana (Carmen Maura) a auxilia a recriar as chagas de Jesus e a divulgar um discurso de que Ângela é milagrosa.

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O filme foi dirigido por Miguel Picazo e inspirado na obra de Jesus Fernández Santos. Estreou em setembro de 1986 em Madrid e custou 117 milhões de pesetas. O interessante é que foi gravado no convento de San Pedro de Dueñas, mas para apresentar um tom mais realístico, foi preciso realizar um trabalho cenográfico que fizesse com que o local parecesse mais destruído do que realmente estava. Em entrevista, Picazo contou sobre como surgiu a ideia de filmar: “Quando li o romance pensei na possibilidade de fazer um filme. A trama possui tudo:  história, intrahistória, clímax… me pareceu perfeita para o cinema. É uma investigação certeira sobre o ser humano e vale para qualquer época.”.

Assisti o filme ontem a noite e muito do que vi me remeteu à “A Religiosa”, livro de Diderot publicado em 1796, que conta a história de Suzanne, uma freira enclausurada contra vontade e que, dentre inúmeras coisas,  sofre assédio sexual da Madre Superiora. Diferente dos filmes que vi, baseados no livro de Diderot, esse toca na ferida de maneira direta e sem rodeios. É explícito, as freiras se beijam o tempo inteiro, trocam carícias, dormem juntas e fazem juras de amor….

Parece um tabu falar sobre sexualidade e freiras, duas coisas que não combinam. E é realmente estranho ver as personagens com tamanho discurso romântico. É um filme denso, dramático, muito escuro… uma perfeita alusão à idade média, época das trevas. Me impressiona mais do que a repressão que sofriam o fato de elas se culparem o tempo inteiro. Em uma das cenas, por exemplo, Angela está prestes a se deitar com Ana, mas se lembra que “Amor se paga com dor”, então as duas começam a se autoflagelar e, exaustas, deitam no chão, com as costas repletas de sangue.

O que move as duas é um amor cego e sem imites, especialmente à Ana (um personagem mais dramático, muito dolorida, insegura). Em entrevista Carmen Maura até observou isso: “Ela é apaixonante, porque toda sua motivação é o amor. É a primeira vez que interpreto um personagem que ama sem pedir nada em troca”. São capazes de fingirem um milagre para não se separarem…

Boa noite, mamãe

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Fui ao cinema assistí-lo no domingo passado e fiquei em choque com o desenrolar da trama. Fiquei tão chocada que cheguei ao ponto de tapar os olhos em uma cena. E o pior é que eu estava sozinha na sala. O filme não é daqueles de terror de dar susto, de pular da cadeira, mas surpreende pela explosão de cenas de tortura. A história acompanha o cotidiano de dois irmãos gêmeos, Lucas e Elias que aguardam ansiosamente pela chegada da mãe, que acaba de realizar uma cirurgia plástica no rosto. Quando chega, a mãe começa a apresentar um comportamento frio e estranho, nada parecida com a mulher que os meninos conheciam… e parece que vê-la sempre com o rosto coberto de faixas os deixa ainda mais confusos.

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O início do filme se concentra muito no universo dos meninos e ressalta a importância da casa, como um labirinto enorme e sufocante (às vezes é até um pouco repetitivo). É evidente o quanto eles se sentem sozinhos naquele ambiente, que passa uma sensação de frieza muito grande. Vou confessar que saquei o mistério que ronda os meninos desde a primeira cena, para mim estava muito claro… o que me prendeu foi o lance da mãe, se era ela mesmo ou não. Eu tava louca para vê-la sem as faixas e quase pirei quando a trama foi tomando um rumo muito mais denso e… assustador.

Enganar é viver (ou “La Alegria está em el Campo”)

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Tava pesquisando sobre esse filme e encontrei uma super entrevista (de 1996, um ano após o lançamento), em que a Carmen Maura falava muitas coisas interessantes sobre a sua carreira, uma delas é que enfrentou muitas dificuldade para se acostumar com o jeito frio dos franceses e que tem um pouco de birra porque eles se acham os melhores de mundo. Na entrevista Carmen contou que ficou mais de seis meses gravando “La alegria está en el campo” e que realmente morava numa fazenda, longe de tudo, levando uma vida meio bucólica. Ela disse que se esforçou muito para aprender francês e que tem orgulho de dominar a língua, contou que gostava de morar na França porque o assédio lá praticamente não existe, que podia passear com seus cachorros sem ser reconhecida.

A melhor parte foi quando ela falou sobre suas expectativas de carreira, disse que não ficava sem trabalho e que tinha o privilégio de ser uma atriz de cinema… que não tinha a ilusão de ser uma atriz de Hollywood e que sofreu muito quando gravou “Mulheres à beira de um ataque de nervos”, que só não largou tudo porque tinha um contrato a cumprir. Quando ela chegou em Hollywood para a promoção do filme, foi muito maltratada e que provavelmente recebeu esse tratamento por causa da sua idade. Na época, Carmen já estava no auge dos 40 e tantos, sentia que não conseguiria (e que não estava disposta) a concorrer com atores com a metade da idade dela.

Sobre o filme: O pequeno empresário Francis (interpretado por Michel Serrault) está enfrentando sérios problemas em sua fábrica: não tem verba e as funcionárias em greve. Pior é que, quando chega em casa, não encontra consolo na mulher e na filha, que são frias e arrogantes e só pensam em gastar.Um dia a família está vendo TV e escutam o caso de uma senhora que possui duas filhas e que está em busca de seu marido. Essa senhora é Dolores, vivida por Carmen Maura, uma fazendeira produtora de foie gras, extremamente simples. Quando mostram uma foto antiga do marido desaparecido de Dolores, Francis tem uma baita surpresa… o homem na foto é idêntico a ele.Decidido a evitar os problemas do dia-a-dia e se livrar da esposa e da filha, Francis assume a identidade do esposo de Dolores.

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Meus comentários, cheios de spoilers: Eu estava louca para assistir esse filme, pensei que fosse uma super comédia. É uma comédia leve, uma trama interessante, mas nada que se diga “nooossa!”. A verdade é que o filme começa muito bem, dá pra dar umas boas risadas, mas aos poucos vai perdendo o ritmo. De qualquer forma, não é uma história tão comum, tem umas reviravoltas legais. Carmen está muito bem, mais séria do que o normal. Eu adorei o fato de seu personagem ser extremamente simples e, em segredo, extremamente rica. Tão rica que tira Francis do fundo do poço, mas o coloca em uma enrascada já que o dinheiro que ela tem (e suas infindáveis barras de ouro, rsss) são “dinheiro sujo”, tretas que o verdadeiro marido de Dolores arrumou em 1968, quando fazia violentos assaltos. O melhor é que a verdadeira esposa de Francis, quando descobre que ele a traiu, enlouquece (e só no fim do filme descobrimos que ela enlouquece de alegria por se ver livre do marido). Também descobrimos que Dolores sabe o tempo inteiro de que Francis não é seu verdadeiro marido, mas mesmo assim confia a ele sua fortuna, porque aprendeu a amá-lo.

Carmen foi indicada ao César por esse filme como melhor atriz coadjuvante.

Vic + Flo viram um urso

Vic (Pierrette Robitaille) é uma mulher de sessenta anos que acaba de receber liberdade provisória da justiça. Em busca de abrigo, passa a viver com um tio – um senhor doente que sobrevive dependendo do cuidado dos outros.

Um dia Vic reencontra seu irmão, que lhe empresta certa quantia de dinheiro, a deixa responsável pela casa e vai embora. De certa forma, Vic passa a ser dona da residência – localizada no meio da floresta, longe da cidade, de tudo e de todos.

Seus dias de solidão acabam quando sua mulher, Flo (Valerie Donzelli), também recebe liberdade da prisão e passa a viver com ela. No entanto, Flo, que é mais jovem, deseja viver na metrópole, cercada lojas e pessoas.

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Confesso que a sinopse do filme não me chamou atenção. Fui fisgada pelo título: o uso do  símbolo + e dica de que elas viram um urso (?), me deixaram curiosa.  Não me arrependi, Denis Côté (também diretor em Alegria do Homem que Deseja), cumpre o que promete e realiza um belíssimo trabalho que, aliás, chama atenção pela fotografia.

Robitaille desempenha uma atuação incrivelmente densa, Vic não é um personagem qualquer – é amargo, repleto de mistérios e solidão. E o filme, em seu desenvolvimento, traduz o ócio das duas, a ausência de algo novo. A incessante  busca de Flo, que não se vê presa naquele lugar pelo resto da vida. Vic, por outro lado, apresenta uma dependência amorosa que chega a  ser doentia. Flo é uma mulher fria, direta e – diferente de Vic, está muito mais disposta a “vida” externa. Vic não só se encerrou naquela cabana no meio da floresta, ela se encerrou dentro de si mesma.

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Gosto especialmente do momento em que Vic, logo no inicinho do filme, se depara com dois garotos. Um deles toca um instrumento de sopro de maneira desafinada e pede dinheiro,  “Você só ganha se merecer”. Em suma, aquele garoto – que reaparece em um momento crucial, faz um prelúdio ou talvez até uma metáfora: a vida é repleta de imperfeições, de tropeços…

Aos poucos, Denis Côté insere outros sujeitos na trama que não só garantem a finalização do argumento como também criam uma expectativa. Falei anteriormente sobre o trabalho fotográfico. Impossível deixar de comentar sobre o tom azul que prevalece em praticamente todas as cenas e acentua os sentimentos dos personagens: dor, medo, tristeza, solidão.  Vic + Flo é um filme frio, é um filme azul.