Eu sei pouquíssimo sobre a biografia da Jacqueline Andere apesar de já ter lido muitas coisas sobre ela. Outro dia peguei na biblioteca da PUC o livro ‘ Melodrama’ de Silvia Oroz: e algumas passagens de texto me remeteram diretamente a ela, atriz que acompanhei em inúmeras novelas (algumas pela internet, outras transmitidas pelo SBT). Só para constar, Jacqueline nasceu em 1938 (possui 77 anos). Quando jovem estudou um período nos EUA antes de voltar para o México para estudar cinema. Seu debut na sétima arte foi em 1958 no filme “Vestido de Noiva”, em 60 estreou na TV através da novela “Vida por vida”.
Resolvi relembrar alguns personagens que mais gostei. É o seguinte, andei lendo algumas páginas e descobri que há muito tempo “Jacky” (como é chamada carinhosamente pelos mexicanos) ficou muito marcada ao interpretar vilãs. Mas nem sempre foi assim, Andere, no inicio da carreira, interpretava mocinhas sucessivamente. Isso só veio a acabar em “Sandra e Paulina”, novela de 1980, em que ela interpretou irmãs gêmeas (a clássica história: uma boa e uma má).
Sobre alguns personagens que gosto:
Bernarda Sainz de Guillén – (A Outra, 2002)
Maldosa que só, Bernarda era uma mulher rancorosa e de passado duvidoso. Quando jovem, começou a trabalhar nas lojas de Leopoldo junto com a sua prima Fabiana. Leopoldo (que já fora casado uma vez) se apaixonou por ela e a levou para casa. Bernarda juntou-se a Leopoldo já grávida de Eugênia (e o novo companheiro sabia da situação). Os dois simulam um casamento e depois de algum tempo ela engravida novamente: da sofredora Carlota.
Acontece que Leopoldo morre – há aquela cena dramática (interpretada por Chantal Andere, filha da Jacky), onde Bernarda entra no velório do amante segurando as meninas pela mão, em um dia chuvoso. Quando lêem o testamento descobrem que Leopoldo distribuiu sua herança para os três filhos (duas que teve com Bernarda e um que teve com a primeira esposa: Romano) – a única condição para que as filhas recebessem o dinheiro era se casarem, enquanto isso não acontecesse, o dinheiro ficava com a mãe. Enfim…a primeira esposa de Leopoldo morre e Romano promete se vingar de Bernarda.
Eu poderia ficar até amanhã falando sobre as reviravoltas da novela, que é uma delícia. Carlota cresce e se apaixona por Álvaro, mas a mãe faz de tudo para impedi-la de ficar com ele. Doente pelo dinheiro, Bernarda (vira um capeta) só de pensar em ver a filha casada. As interpretações são ótimas – em algumas cenas o que predomina é o bom humor (como em toda novela, tem coisa que não dá pra acreditar). Com os olhões esbugalhados (acho que gosto de olho grande) e cheios de lágrimas, Jacqueline fazia uma personagem tão sacana, de coração tão podre – que ficou carismática, com tanta loucura.
Os tapas que as atrizes trocavam eram de verdade. Yadhira Carillo teve que insistir muito para que Jacqueline Andere aceitasse – acreditava que as cenas se aproximavam mais do real. Andere relutou porque quando interpretava Beatriz de Martino em “Estranho Poder” deu um tapa em Érika Buenfil e estourou o seu tímpano. Os gritos da Bernarda são os melhores, ela não se agüenta, humilha a filha até falar chega. Como toda boa e velha vilã, não poderá ter um fim diferente: morre em uma cilada, tentando pegar uma mala cheia de dinheiro.
Alba San Román – (A Madrasta, 2005)
Eu não sei se prefiro a Bernarda ou a Alba, as duas eram engraçadas demais (de tão “sem noção sabe?). A Madrasta foi uma novela divertida e cativante, muito por causa do enredo e por causa dos atores que são excepcionais. Nesta trama Jacqueline aparece mais uma vez como uma vilã, ou melhor: como uma mulher amargurada, vingativa e mal humorada. Na novela ela está sempre próxima da irmã Carmen, com quem divide um segredo.
A Albinha é um peste e desde o princípio da trama vive atrapalhando a vida de Maria (protagonista e heroína da historia). Maria vai presa, acusada de um crime que não cometeu. Sua prisão a afasta dos filhos e do marido. Quando sai da cadeia, ressentida e com sede de vingança, Maria volta a casa do marido (os “San Román”) para tentar ter a sua antiga vida de volta (e descobrir quem foi o real culpado pelo crime).
Dentre tapas, gritos e acusações: Alba está sempre se sobressaindo. Ela tem um tórrido amor pelo sobrinho, interpretado pelo lindo César Evora, por isso o influencia: o impediu de ajudar Maria (que ficou presa por vinte anos). Na casa há vários personagens que direta ou indiretamente possuem uma relação com Maria. Entre eles o filho da Alba, um menino tímido, sempre muito limitado pela mãe.
No final descobre-se que o garoto não é filho da Alba, e sim da irmã: Carmen. As duas tiveram um caso com o mesmo homem e engravidaram dele. Porém Alba perdeu o bebê e pegou o da irmã (que tinha medo de assumi-lo). O homem também mora na casa e é casado a sobrinha de Alba e Carmen.
Nuria Del Encino de Rivadeneira – (Mi destino eres Tu, 2000)
Gosto demais das produções da Carla Estrada. Na verdade acompanhei esta novela pela internet e não me liguei muito na história central. Comecei a vê-la por causa da Maria Sorte (outra atriz que adoro) e fiquei viciada ainda mais, ao saber que a Jacqueline Andere participava da trama. No início ela aparece muito pouco, seu personagem é quase uma coadjuvante (li que ela chegou a conversar com a Carla Estrada: disse que se não tivesse mais visibilidade na trama, deixaria de gravar a novela).
Bom, Nuria é uma mulher que guarda um segredo “cabeludo”. Durante anos se dedicou ao trabalho comunitário e nutriu uma amizade com Amparo Calderón (interpretada por Sorte). Amparo é a personagem problema: rica, depressiva e alcoólatra (e Nuria sempre está lá para segurar uma barra). Acontece que Nuria há anos atrás foi estuprada pelo marido da Amparo: Augusto (interpretado por Julio Alemán) e chegou a engravidar dele.
Augusto era melhor amigo do marido de Nuria e sempre a ameaçava muito (aliás, as ameaças duram até quase o final da novela). O cara se aproveita que Nuria guarda aquele segredo e então, sempre a assedia sexualmente. O problema é que o filho de Nuria com Augusto se apaixona pela Andrea, filha da Amparo (ou seja, os irmãos se apaixonam) e ela faz de tudo para impedi-los de ficar juntos, sem deixar claro o porque. Depois aparece outro rapaz no pedaço, Andrea se apaixona por ele e tudo se resolve.
Comecei a gostar da novela mesmo já no final, quando a história dá uma reviravolta e Nuria conta o seu segredo. Amparo não acredita em nada, diz que Nuria quer acabar com seu casamento – as duas quase saem no tapa. Mas nada do que Amparo pensa se leva em consideração porque ela sempre está alcoolizada.
A situação só muda mesmo quando Amparo se separa de Augusto e percebe que os assédios denunciados por Nuria são verdadeiros – ela precisa ver com os próprios olhos, para acreditar. Um dia quando foi conversar com a amiga (para brigar com ela mesmo), ela encontra Augusto falando todas as verdades e tentando estuprá-la (é muito estupro para uma novela só, enfim). Na verdade escrevi sobre essa personagem porque está é a única “mocinha” que me lembro de vê-la interpretando.
Enquanto escrevia um pouco sobre as novelas, me lembrei que vi dois filmes com ela que gostei demais.
O Anjo Exterminador – (Direção: Luis Buñuel, 1962)
Acho que não preciso falar muito desse filme, que é um clássico. Jacky está novinha (nem tinha feito a operação cirúrgica no nariz ainda, estava bem diferente). Com as influencias surrealistas, Buñuel executa um trabalho brilhante. Uma grupo da aristocracia mexicana se une em um jantar e acabam ficando presos naquele ambiente. Porém não há nada que os impeça de sair (nada físico ou visível). Ficam lá por dias e suas características mais primitivas começam a aflorar: sexuais, físicas (improvisam inclusive, um banheiro na sala de jantar). As críticas a igreja são ótimas e o final do filme: delicioso.
La Casa del Pelícano – (Direção: Sergio Véjar, 1978)
Se tem um filme mexicano que me surpreendeu pela complexidade e pelo realismo foi esse. Filme forte, que deu origem a diversos estudos sobre patologia clínica: algumas inclusive disponíveis no Google.
A história é a seguinte: Jacqueline Andere interpreta Margarita Ramirez, uma professora que vive com a tia em um pequeno bairro no México. Na cidade há um homem com sérios problemas mentais (interpretado por Frederico Falcón) que sempre assusta todo mundo – menos Margarita que é uma mulher doce e muito solista.
Um dia, quando volta da escola se depara com o “louco” que a ameaça com uma faca e a estupra (ele bate nela, inclusive chega a cortar seu rosto: achei a cena bem forte para o contexto em que foi produzido). Margarita engravida e passa por um conflito: de abortar ou não. Com a tia religiosa sempre ao seu lado (e influenciando-a), decide gerar a criança e entrega-la ao orfanato assim que nascesse.
Quando ele nasce ela reluta em olhar para ele (evidenciando uma relação de ódio e amor) até que, quando o vê pela primeira vez, decide cria-lo. (A cena do parto é muito bonita, aliás, o filme todo é muito lindo). O menino cresce e Margarita se torna uma mãe possessiva. Se algum menino briga com ele, ela se intromete para defende-lo.
O tempo vai passando e a relação se torna doentia, ninguém pode chegar perto do garoto (Spoiler, pra variar) até que ele fica adulto e se apaixona (por uma moça que na época foi interpretada pela então desconhecida Daniela Romo) decide ir embora. Margarita fica louca, faz de tudo para mantê-lo em casa, os dois chegam a se atacar fisicamente na cozinha. Margarita não aguenta, sofre demais com a ideia de perdê-lo e então e então, resolve mata-lo. PUTAFILME!
Nascida em 1938, María Esperanza Jacqueline Andere y Aguilar começou a carreira artística aos quinze anos quando decidiu se mudar para os Estados Unidos e estudar artes cênicas. Quando voltou ao México, ingressou no Instituto Cinematográfico Teatral y de Radiotelevisión. Realizou alguns projetos como atriz experimental no teatro e no cinema estreou em 1958, com o filme: “El Vestido de Novia”. Em 1960, dois anos depois, conseguiu seu primeiro trabalho na televisão em “Vida por vida”. A partir daí a mãe da Chantal Andere não teve mais a sua imagem desvinculada da TV, tornou-se um rosto conhecido e admirado pelo público.
*Escrevi esse post em especial, porque há muito pouco (ou quase nada) sobre ela em sites brasileiros ou em português.
Quantos posts novos por aqui, estou lendo todos! Nossa, nem preciso dizer que ADOREI esse post sobre a Jacky. Não sabia que ela tinha feito esse filme com o Buñuel, vou correr para baixá-lo. Esse filme mexicano que você citou parece ser babado FORTE. Parei de assistir “A madrasta”, mas Albinha é certamente meu personagem predileto. Você já deve ter visto os bloopers, ela parece tão diferente da Alba, bem humorada, querida. É difícil vê-la rindo. Bernarda de “A outra”, uau, adoro esse personagem também! Aliás, a maioria das novelas que assisti sempre tinha uma personagem mais velha pela qual me apaixonava, rs. Enfim… lembrei de você porque esses tempos assisti a uma homenagem em um prêmio da tv mexicana à Jacky. A Chantal, inclusive, faz o discurso. Tu já viu? É lindo demais! E toda a trajetória dela na tv/cinema é lembrada. Lindo. Se quiser te passo.
Agora vou ali ler o post sobre “Os inocentes”, adoro a Kerr nesse filme. Aliás, ela é uma atriz muito mal valorizada, mas enfim.
Estava com saudades de ler seus posts, eles sempre são muito bem escritos 🙂
Beijos