– Me desculpe, disse ela, ainda em gargalhadas. Eu não sei o que me ocorre.
-Tudo bem, você provavelmente nunca perdeu alguém.
-Não! (ainda em risos) Eu já perdi o Henrique.
-O quê? (Bruno que se encaminhava para a porta do bar parou por um instante, pensativo. Não lhe ocorrera que aquela mulher com unhas e batons tão vermelhos, realmente soubesse o que significava sofrer pela falta de alguém).
– Henrique, meu filho. (Disse Martha entre pequenos soluços) – Leucemia, morreu aos doze anos, após inúmeros tratamentos sem sucesso. A expressão facial de Martha, que a momentos antes se debulhava em gargalhadas esvaiu-se em uma lágrima.
Somente uma lágrima escorrera por seu rosto claro. Bruno, que acompanhava o percurso da tão singela, viu-a morrer em uma boca fina, avermelhada pelo batom que já se perdera no copo de bebida.
– Eu sinto muito.
-Sente mesmo?
-Sim.
– Então, posso te pedir uma coisa?
– Claro, respondeu.
– Vamos fingir que isso nunca aconteceu… pelo menos, só por essa noite.